O ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane classificou como um acordo “sem povo” o entendimento político a ser assinado nesta quarta-feira pelo Presidente moçambicano e formações partidárias no âmbito das reformas estatais, prometendo protestos diários por cinco anos.
Presidente moçambicano e principais partidos assinam esta quarta-feira acordo para travar crise pós-eleitoral
“É um acordo de pessoas sem povo, um acordo em nome do povo, mas o povo não vai estar lá (…). Então o que vão assinar é uma espécie de um papel”, disse perante milhares de pessoas o político moçambicano, no bairro de Magoanine, nos subúrbios da capital moçambicana, durante uma passeata.
O Presidente moçambicano e os principais partidos políticos de Moçambique assinam esta quarta-feira em Maputo um acordo focado em reformas estatais, no âmbito do diálogo político para o fim da crise pós-eleitoral no país.
A cerimónia terá lugar no Centro de Conferências Joaquim Chissano, a partir das 15h00 (menos duas em Lisboa), e, além dos partidos com assento parlamentar, nomeadamente o Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), o acordo vai ser assinado também pelo extraparlamentar Nova Democracia, num diálogo que, no último encontro, incluiu formações partidárias com representação nas assembleias provinciais e municipais.
Embora o chefe de Estado moçambicano tenha por diversas vezes prometido “alargar a mesa do diálogo” para “vários segmentos da sociedade”, uma das principais críticas levantadas por académicos e analistas continua a ser a ausência de Venâncio Mondlane, o segundo mais votado nas últimas eleições de acordo com o Conselho Constitucional e que lidera a maior contestação aos resultados que o país conheceu desde as primeiras eleições, em 1994.
No discurso desta quarta-feira, Mondlane voltou a prometer manifestações de rua por cinco anos com o objetivo de pressionar o Governo a fazer “o que o povo quer”.
“Queremos anunciar que este ano, de 2025 até 2030, são 1.825 dias de manifestações todos os dias. Se não fizerem o que o povo quer, não vão governar em Moçambique”, disse Venâncio Mondlane.
Moçambique vive desde outubro um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas primeiro por Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais de 9 de outubro, que deram vitória a Daniel Chapo.
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Atualmente, os protestos, agora em pequena escala, têm estado a ocorrer em diferentes pontos do país e, além da contestação aos resultados, os populares queixam-se do aumento do custo de vida e de outros problemas sociais.
Desde outubro, pelo menos 353 pessoas morreram, incluindo cerca de duas dezenas de menores, e cerca de 3.500 ficaram feridas durante os protestos, de acordo com a plataforma eleitoral Decide, organização não-governamental que acompanha os processos eleitorais.
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O Governo moçambicano confirmou pelo menos 80 óbitos, além da destruição de 1.677 estabelecimentos comerciais, 177 escolas e 23 unidades sanitárias durante as manifestações.
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