Moçambicanos marcham contra aumento das tarifas de internet – DW – 14/05/2024

O Instituto Nacional das Comunicações de Moçambique (INCM) justifica a subida das tarifas com a alegada salvaguarda do sistema de comunicações no país.

Mas a justificação está longe de convencer os utilizadores dos serviços. Por isso, um grupo da sociedade civil agendou para o próximo sábado, 18 de maio, uma marcha de repúdio a nível nacional.

Em entrevista à DW África, o jornalista Clemente Carlos, um dos mentores da marcha contra a subida do preço de Internet, assegura que o protesto será pacífico, com o objetivo de pressionar o Governo para rever as tarifas, por considerá-las “uma total exclusão social”.

DW África: O que vos move nesta reivindicação?

Clemente Carlos (CC): Não que a internet fosse barata em Moçambique, mas as pessoas conseguiam, de alguma forma, fazer ajustes aqui e acolá, “vender o almoço para comprar o jantar”, como se diz na gíria, ou então abdicar de certas coisas para conseguir prover internet para os filhos, para que estes consigam fazer os trabalhos da escola, de pesquisa, etc. Mas, com o atual preço, é uma total exclusão. O que está a acontecer é que o governo está a esquecer as classes mais desfavorecidas e é justamente essa a razão pela qual nós estamos a levar em frente este movimento reivindicativo.

Clemente Carlos: “Alunos do ensino primário e secundário ainda precisam muito de ter acesso à internet”Foto: DW/Delfim Anacleto

DW África: Mas o governo alega que este ajustamento visa, por um lado, proteger o mercado. O que é que pretendem com esta manifestação?

CC: Consta do nosso caderno reivindicativo a revogação desta resolução do governo que visa encarecer ainda mais os custos de provisão de internet no país. Para além desta revogação, no último plano, nós estamos dispostos a negociar, pelo menos, uma subida que não seja brusca nem sufocante. Qualquer coisa como uma subida na ordem dos 10%, dos 20%, até aí vamos aceitar. Mas as subidas que agora foram compreendidas são totalmente fora da capacidade financeira da população. Agora, nós, os jovens da sociedade civil, jornalistas, advogados, professores, a sociedade no geral, não estamos a compactuar com esta intenção de sermos roubados do direito ao acesso à informação, direito a estudar à distância e outros direitos conexos que a internet nos proporciona.

DW África: Acredita que a marcha do dia 18 vai ter uma adesão considerável?

CC: Eu, em particular, sou da opinião que quanto mais jovens estiverem na via pública, o governo poderá sentir a pressão, porque 10 pessoas na rua parecem 10 pessoas emocionadas que não têm nada que fazer. É neste sentido que eu acho que é importante que os jovens adiram a este movimento, até porque a maioria dos jovens não é assalariada, a maioria dos jovens é adolescente, a maioria são estudantes, são universitários, são alunos do ensino primário e secundário, que ainda precisam muito de ter acesso à internet, porque ainda estão na fase de formação, de aprendizado. É Importante que estes jovens se juntem a esta causa e clamem pela mudança, porque só assim os governantes poderão se aperceber que é uma reclamação à escala nacional e não de apenas um grupo de pessoas em Maputo que acordou de barriga cheia para fazer esta reivindicação.

DW África: Há quem também pense que esta medida visa limitar o acesso à internet num ano eleitoral, sabendo que temos eleições em outubro deste ano, para evitar a pressão que se viveu no ano passado nas eleições autárquicas, altura em que muitas pessoas fizeram o controlo do voto através das redes sociais. Concorda com esta posição?

CC: Obviamente que o governo do dia não está nada satisfeito com a forma explícita como os resultados foram divulgados nas últimas eleições de 11 de outubro. Daí que há uma intenção, desde cedo conseguimos perceber, de travar o fácil acesso à internet, de travar este espaço cibernético. Quando a informação é propagada, é propalada à velocidade da luz. Há aqui uma intenção de travar esta tendência para que as manobras, as falcatruas venham a ser feitas em oculto.

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