Marco Rubio quer excedente de energia do Paraguai em Itaipu para impulsionar IA nos Estados Unidos

247 – O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, afirmou nesta terça-feira (20), durante audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado americano, que o excedente de energia do Paraguai na hidrelétrica de Itaipu pode ser usado para impulsionar o desenvolvimento da inteligência artificial (IA) em seu país. A declaração foi registrada pelo jornal Valor Econômico e gerou desconforto nos bastidores da diplomacia sul-americana.

Rubio respondia a uma pergunta do senador republicano John Curtis, de Utah, sobre a participação dos EUA na COP30, quando desviou o foco da conferência do clima, que será sediada em Belém, para tratar de Itaipu, destacando que a política externa dos EUA deve priorizar questões energéticas “pelos próximos 100 anos”. Em tom assertivo, o secretário disse: “Temos que discutir como investiremos em países que têm um suprimento de energia capaz de atender a essa demanda. Como, por exemplo, o Paraguai, que tem uma usina hidrelétrica com um acordo de longo prazo com o Brasil para a venda de 50% da energia produzida. Agora que esse contrato expirou estão analisando o que fazer com este excedente de energia que não vai mais para o Brasil.”

A fala de Rubio, além de revelar o interesse estratégico norte-americano no uso da energia de Itaipu, acrescenta um novo elemento de tensão nas já delicadas negociações entre Brasil e Paraguai sobre o chamado “Anexo C” do tratado da usina. O contrato original, firmado em 1973 e vigente por 50 anos, expirou em 2023 após a quitação da dívida de construção da usina. Com o fim do acordo anterior, o excedente da energia paraguaia, que antes era automaticamente comprado pelo Brasil, passa a ser objeto de novas tratativas.

Em 2024, um acordo foi anunciado entre o ministro de Minas e Energia do Brasil, Alexandre Silveira, e o presidente paraguaio, Santiago Peña. O entendimento prevê que, a partir de 2027, o Paraguai poderá vender sua cota de energia diretamente para o mercado livre brasileiro, incluindo a indústria. Contudo, o andamento dessas negociações foi interrompido por um incidente diplomático: a denúncia de uma suposta invasão de “hackers” da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em comunicações de autoridades paraguaias. O episódio levou Assunção a suspender temporariamente as tratativas sobre o Anexo C.

Outro ponto de atrito na relação bilateral foi a disputa pela presidência da Organização dos Estados Americanos (OEA). O Brasil articulou apoio ao candidato do Suriname, em detrimento da candidatura paraguaia, vista como próxima do ex-presidente Donald Trump. A movimentação encerrou uma longa hegemonia americana à frente da organização e causou novo desconforto entre os vizinhos sul-americanos.

No Brasil, a declaração de Rubio foi recebida com cautela. No Palácio do Planalto, a avaliação predominante é de que ainda não se trata de uma proposta formal por parte do governo norte-americano. Já no Itamaraty, apesar de o ministério manter silêncio oficial por conta da negociação do Anexo C, a leitura é de que a fala pode ser interpretada como um sinal a investidores do setor de IA interessados em se instalar no Paraguai, aproveitando o excedente energético.

Setores do governo brasileiro demonstram apreensão com a possibilidade de os Estados Unidos se adiantarem na atração de “data centers” — estruturas que consomem altíssima quantidade de energia para armazenar e processar dados — com base na energia de Itaipu. Isso pode esvaziar planos semelhantes do Brasil, especialmente os elaborados pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que aposta na utilização do excedente de energia renovável nacional como diferencial competitivo para atrair empresas de tecnologia.

É importante lembrar que, embora Brasil e Paraguai tenham prioridade no consumo da energia de Itaipu, empresas estrangeiras podem se beneficiar do uso da eletricidade, desde que estejam instaladas em território de um dos dois países. Por isso, autoridades brasileiras consideram que o país não pode ser visto como um entrave ao desenvolvimento de projetos energéticos, sobretudo porque foi o Brasil quem financiou a linha de transmissão que leva a energia da usina até Assunção.

A disputa pelo uso da energia de Itaipu, portanto, extrapola a lógica comercial e se insere num cenário de geopolítica energética cada vez mais complexo, em que potências globais como os Estados Unidos buscam assegurar suprimento elétrico para garantir vantagem tecnológica na corrida pela inteligência artificial. O Brasil, por sua vez, precisa equilibrar seus interesses estratégicos com a manutenção de uma relação estável com o Paraguai e com sua própria segurança energética.

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