O Presidente francês, Emmanuel Macron “tem o dever de explicar ao povo francês por que razão concede a um ditador africano, que não é francófono, mas sim lusófono, a mais alta condecoração francesa. Quais são as relações entre os dois países? Zero”, disse à Lusa Amazone, de 52 anos, não querendo dar o seu verdadeiro nome.
A guineense defendeu que os franceses devem questionar a razão desta atribuição a “um Presidente que desrespeita todos os direitos fundamentais”, referindo que Macron só aumenta “o sentimento anti-francês em África ao fazer coisas como esta”.
Para o Coletivo da Sociedade Civil Cidadãos da Guiné-Bissau, na Europa, América e Guiné-Bissau, que se reuniu em frente à Assembleia Nacional francesa pelas 14:00 horas locais para entregar uma cópia da carta já entregue a Macron, esta atribuição “constitui uma grave violação dos princípios de justiça, integridade e respeito pelos direitos humanos”.
Ao ler a carta em português, também lida em francês, o presidente do coletivo, Francisco Graça, declarou que, desde que o Presidente guineense Umaro Sissoco Embaló assumiu “o poder pela força, em fevereiro de 2020”, foi instaurado “um regime autoritário” com repressão da oposição, violações sistemáticas dos direitos fundamentais e ataques diretos às instituições democráticas”.
Apesar do frio parisiense, o grupo fez-se ouvir ao gritar “viva a Guiné-Bissau, viva a democracia” e “Sissoco fora, Sissoco rua”, enquanto seguravam bandeiras da Guiné-Bissau e cartazes com fotos de agressões e frases como “Basta! De fome, de greve, de violência, de banalizar instituições do Estado, de opressão. Respeito à República; respeito ao Estado de direito democrático”.
Eleições e leis
“Estou aqui para contestar a eleição do Umaro Sissoco que vão fazer em novembro de 2025. Ele [tomou posse] dia 27 de fevereiro de 2020, então, em termos legais, o mandato era para terminar amanhã às 14:50 horas da Guiné-Bissau”, afirmou Paulo Mendes Cassama, de 58 anos.
Em França há 19 anos, este guineense foi um dos alegados agredidos pela segurança do Presidente da Guiné-Bissau em dezembro, tendo afirmado hoje que está à espera que seja feita justiça em França e que a situação está “difícil” para a sua família e amigos.
“Quero dizer aos meus irmãos da Guiné-Bissau que se levantem, para lutarem [pelo] território que eles têm, que eles merecem, lutar contra a pobreza, contra o ditador”, acrescentou.
Para um dos organizadores da manifestação, Iaia Barri Djassi, de 27 anos, que vive em França há cinco anos, Umaro Sissoco Embaló não está a cumprir a Constituição da República da Guiné-Bissau.
Por isso, Djassi disse querer chamar a “atenção ao Estado francês e aos deputados franceses da importância que eles podem ter no sentido de ajudar a Guiné-Bissau a sair desta situação”.
“Estamos a exigir é que ele [Sissoco] saia no dia 27 de fevereiro e que o presidente do parlamento da Guiné-Bissau assuma o poder interinamente e organize a eleição, porque temos a certeza absoluta que, quando chegar na data [anunciada por Sissoco, 30 de novembro], não vai acontecer eleição”, afirmou.
Para o participante Edgar Gomes, de 49 anos, “há um regime ditatorial no país”, já que o tempo de Sissoco Embaló “acabou e ele não quis sair do poder”, referindo que “não há democracia, não há direitos humanos, é tudo à base de força”.
Segundo o coletivo, a manifestação ocorre em vários países, incluindo Portugal e na Guiné-Bissau, “apesar da repressão e proibição de manifestar” no país.
Detenção de Baticã Ferreira
Salientando o papel da diáspora na oposição a Embaló, Djassi afirmou que o protesto visou também protestar contra a detenção do deputado eleito pelo círculo da Europa pela Plataforma Aliança Inclusiva (PAI-Terra Ranka, vencedora das últimas eleições legislativas), Flávio Baticã Ferreira, por fazer um ritual místico na Guiné-Bissau.
Djassi lembrou que o deputado, entretanto libertado, “é um senhor que é muito acarinhado pela diáspora e luta pelos [seus] interesses”, considerando que a sua detenção visou, “de alguma forma, poder afetar a diáspora guineense”.
José Spencer Ivair, de 51 anos, a viver em Paris há 40 anos, afirmou que, “no século XXI, prender um deputado por esta razão é ridículo”, acrescentando que os políticos guineenses “não aceitam as regras” e que os presidentes dos tribunais superiores “não têm coragem”.
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