“Manelinho” diz ser vítima de “cilada” montada por Sissoco – DW – 11/03/2025

“Indiscutivelmente pode-se afirmar” que Lisboa faz parte da rota do cartel da droga proveniente da América Latina, com passagem pela Guiné-Bissau, rumo à Europa. Existem “cerca de cinco a sete voos por semana diretamente para Portugal. Ninguém leva droga para Dakar”, porque na Europa “a droga é muito lucrativa”.

Quem o diz é o advogado guineense Luís Vaz Martins a propósito do julgamento, que decorre no Campus da Justiça, do deputado Manuel Irénio Nascimento Lopes acusado de tráfico de estupefacientes. O empresário, ex-dirigente da Federação de Futebol da Guiné-Bissau, foi detido em maio de 2024, no aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, na posse de 13 quilos de cocaína e mais de 200 mil dólares.

O arguido, conhecido por “Manelinho”, que começou a ser julgado no dia 25 de fevereiro do ano em curso, revelou estar a ser vítima de uma “cilada” do Presidente Umaro Sissoco Embaló. Na primeira sessão de julgamento, disse que nunca esteve envolvido em tráfico de droga e que tudo não passa de uma “cilada política” montada por altas figuras da Guiné-Bissau, nomeadamente o Presidente da República. Lopes alegou que a mala que continha a droga lhe foi entregue, em Bissau, por um trabalhador da TAP.

Para Vaz Martins, que é também presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados da Guiné-Bissau, o facto do arguido ter mencionado o nome de Umaro Sissoco Embaló “deixa aqui um alerta à navegação”, tendo em conta o historial do regime no que toca a vários outros escândalos ligados ao narcotráfico. “O regime já era fortemente associado à questão do tráfico”, afirma o advogado guineense, em entrevista à DW.

Sissoco em maus lençóis?

Luís Vaz Martins lembra que o deputado do Movimento para a Alternância Democrática (MADEM-G15) foi um dos apoiantes da “campanha que levou à vitória de Sissoco Embaló” nas eleições presidenciais de 2020. “São pessoas que se conhecem muito bem. Não é um estranho de Umaro Sissoco Embaló”, alerta.

Umaro Sissoco Embaló, Presidente da República da Guiné-Bissau
“Manelinho”, que começou a ser julgado a 25 de fevereiro, diz estar a ser vítima de uma “cilada” do Presidente Umaro Sissoco Embaló (na foto)Foto: Michel Euler/AP/picture alliance

“Quando ele vem fazer essa afirmação, espero que o [tenha feito] com alguma responsabilidade, porquanto ninguém chama um Presidente da República só por chamar”, acrescenta. “E, sendo da entourage de Umaro Sissoco Embaló, isso deixa em maus lençóis não só Umaro Sissoco Embaló”, admite.

Vaz Martins lembra ainda que, semanas antes de ser detido em Lisboa, Manuel Lopes havia tecido fortes críticas à liderança de Sissoco Embaló e se “distanciado publicamente” do chefe de Estado. O advogado faz paralelismo com outros casos de pessoas que desafiaram Sissoco Embaló e admite haver “forte probabilidade de o deputado estar a dizer a verdade”.

Mais investigação

Carlos Melo Alves, advogado de defesa de Manuel Lopes, considerou que “o caso devia ser melhor investigado” pela justiça portuguesa. “A acusação tem poderes para investigar, [mas] pode-se dizer que aqui não investigou aquilo que devia ter investigado”, questionou o advogado de defesa no final da primeira sessão de julgamento.

“E nós agora, se calhar, pretendemos fazer prova de alguns factos e não sei se o vamos conseguir fazer, uma vez que existe uma enorme discrepância entre o poder da acusação em investigar e o poder da defesa”, asseverou Melo Alves.

De acordo com a moldura penal portuguesa, crimes desta natureza podem ser condenados entre os quatro a 12 anos de prisão.

Em debate: Drogas, instabilidade e o futuro da Guiné-Bissau

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