‘Mal da montanha’: com falta de ar, mulher de Barretos, SP, passou por câmara hiperbárica durante viagem ao Peru | Ribeirão Preto e Franca

Lúcia Elena Saloio passou por duas sessões, de uma hora cada uma, em uma câmara hiperbárica em Cusco, no Peru — Foto: Arquivo pessoal

Ainda não é possível confirmar o que levou Cledersom à morte. O laudo que vai apontar as causas não está concluído, mas a suspeita de familiares e amigos é de que ele também tenha sofrido do mal da montanha.

O professor deve ser enterrado em Franca (SP), mas ainda não há previsão de chegada do corpo no Brasil.

Lúcia e a família, que é de Barretos (SP), também estavam em Cusco, mesma cidade onde Cledersom estava com dois amigos.

A perita criminal Lúcia Elena Amsei Saloio, de 60 anos, sofreu do mal da montanha em viagem recente ao Peru — Foto: Arquivo pessoal

Filho da perita, o clínico-geral Jonas Amsei Saloio disse ao g1 que todos na família apresentaram sintomas, ainda que leves, assim que chegaram ao local.

“Chegamos na quinta [dia 11 de julho] à tarde na cidade e logo minha mãe já iniciou com os sintomas. Logo a princípio, todos nós iniciamos um processo de desconforto respiratório, porém leves, mais ou menos uma ‘falta de ar’, principalmente após deambularmos em velocidade habitual”.

O cronograma de passeios na região, conta Jonas, começou assim que a família chegou a Cusco e havia recomendação de repouso, por parte da agência de viagem, para aclimatação, que é o processo de se adaptar a um determinado clima.

“Foi o que seguimos, mas, infelizmente, para alguns, acaba sendo um pouco mais difícil. Minha mãe iniciou um quadro de desconforto respiratório associado a um aumento da frequência respiratória e também evoluindo desfavoravelmente a um quadro de confusão mental. Foi quando eu solicitei à equipe da recepção do hotel para que medissem a saturação de oxigênio dela”.

Além de Jonas e da mãe, estavam na viagem as irmãs dele, Florence e Francine, e o pai, João Roberto.

Lúcia estava com uma saturação base de 50% em ambiente, quando o normal gira em torno de 90% e 100%.

“Achei que estava cansada, mas eles [a família], como são médicos, se preocuparam em medir a minha saturação e constataram que estava muito baixa. Meu filho entrou em contato com a agência, que mandou rapidamente uma ambulância com uma médica, que verificou que não seria possível permanecer no hotel com o oxigênio, deveria ser imediatamente transferida para o hospital”, diz.

Família de Barretos (SP) viajou recentemente para o Peru e sofreu com sintomas leves do ‘mal da montanha’ — Foto: Arquivo pessoal

Ela passou por exames e precisou de duas sessões, de uma hora cada uma, em uma câmara hiperbárica, equipamento que oferece 15 vezes mais oxigênio que o normal respirado ao nível do mar.

Lúcia também ficou em observação por 24 horas. No dia seguinte, recuperada, conseguiu se juntar ao marido e aos filhos e fazer os passeios. Eles conheceram juntos o sítio arqueológico de Machu Picchu.

Dor no peito e desconforto

A família voltou a Barretos na quarta-feira (17), após uma semana no país andino.

Ao g1, Lúcia disse que desde o primeiro dia de viagem, quando desembarcou em Lima durante escala para Cusco, sentiu um leve desconforto na respiração e dores no peito.

“Quando chegamos, senti uma suave dor nos braços, peito e uma grande sonolência, parecendo que eu tinha comido alguma coisa ou bebido, que estava me dando muito cansaço, muito sono e muito desânimo, falta de apetite, sintomas não comuns na minha vida. Achei que fosse realmente cansaço e não dei importância, embora a agência de viagem tenha nos alertado que, como faríamos a viagem para altas altitudes, deveríamos nos preocupar e manter a aclimatização”.

Em Cusco, as dores, o cansaço e o sono aumentaram significativamente.

“Também não conseguia respirar. Realmente parecia que eu tinha bebido algo alcoólico, mas não tinha experimentado nada disso e sentia aquelas reações de quando a gente bebe, uma confusão mental, respondendo coisas aleatórias, nada a ver com as perguntas [que me faziam]”.

A reação da mãe chamou a atenção de Jonas, que já tinha ouvido falar do mal da montanha, mas conhecia a doença apenas na teoria.

“Já havia estudado na faculdade, mas, por não haver esse tipo de comorbidade aqui no Brasil, não possuímos montanhas ou até mesmo locais de tão altas altitudes, deixamos passar. Eu, como médico, particularmente, conheço apenas pela teoria. Agora, pela prática”.

Recuperada de mal-estar após passar por câmara hiperbárica, Lúcia Elena conheceu Machu Picchu com a família — Foto: Arquivo pessoal

O médico revela que sentiu medo de que o mal-estar da mãe evoluísse para algo mais grave.

“Antes de tudo, somos filhos. Lido diariamente com pacientes graves e sei dos prognósticos reservados em alguns casos. Não dava para não pensar, porém mantivemos sempre as esperanças em uma melhora ligeira para continuarmos nosso cronograma”.

Para que serve a câmara hiperbárica

Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Hiperbárica (SBMH), Marcus Vinicius de Moraes explica que a câmera hiperbárica é utilizada para oxigenoterapia hiperbárica.

‘”Se trata de um equipamento ‘selado’ ou ‘completamente selado’ para oferecer oxigênio a 100% para diversas condições médicas. Lá em cima da montanha, o ar é rarefeito. Não é como aqui no nível do mar, não é como você está respirando agora, como eu que estou respirando, isso seria a condição normal”.

Lúcia teve sorte por ainda estar na cidade, onde teve condições de atendimento rápido e adequado.

Mas Moraes revela que, muitas vezes em que uma pessoa passa mal durante uma escalada ou em locais de grandes altitudes, é possível utilizar um outro tipo de câmara que também provoca o aumento do oxigênio: a câmara inflável portátil.

“São câmeras que trazem o paciente de uma pressão atmosférica mais baixa para uma pressão próxima de uma atmosfera. Ou seja, é como se aquela pessoa que está lá em cima da montanha conseguisse rapidamente respirar a mesma quantidade de oxigênio ao nível do mar”.

Além de ajudar pacientes com dificuldade de respiração, a câmera hiperbárica é indicada para diversas condições médicas, como isquemia, inflamação, infecção e formação de bolhas na corrente sanguínea.

Antes de passar pelo equipamento, no entanto, é preciso que o paciente seja avaliado por um médico hiperbarista.

A única contraindicação absoluta para uso, diz Moraes, é se a pessoa apresenta pneumotórax hipertensivo, que é o acúmulo de ar no espaço pleural sob pressão.

“Existe uma camada de tecido chamado pleura, que reveste o pulmão. Se, por algum motivo, essa película tiver se rompido durante a sessão hiperbárica, pode haver acúmulo de ar aí dentro e levar uma condição potencialmente fatal, que pode levar a parada cardíaca e óbito”.

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