Mais uma eleição de mentirinha

A Venezuela é pequena demais para o ditador Nicolás Maduro. Os poucos cidadãos que se dispuseram a participar da mais recente fraude eleitoral no país, domingo passado, para “eleger” governadores e renovar o Parlamento, puderam “votar” até em candidatos para o governo de Essequibo, território que pertence à Guiana, mas que Maduro considera parte da Venezuela.

Essa foi, digamos, a nota pitoresca de uma votação como outra qualquer na Venezuela chavista: pouco importa em quem os venezuelanos votam, pois o resultado já é conhecido de antemão. Para surpresa de ninguém, o governo ganhou de lavada.

Ainda que já tenham se tornado corriqueiras, as eleições de mentirinha na Venezuela não deixam de causar indignação, sobretudo porque o governo não se esforça nem mesmo para disfarçar a manipulação grosseira dos resultados. De acordo com o Conselho Nacional Eleitoral, órgão totalmente controlado por Maduro, os partidos governistas conquistaram mais de 80% das cadeiras do Parlamento, além de 22 dos 23 governos estaduais em disputa.

O mesmo CNE informou que 42,6% dos 21 milhões de venezuelanos aptos a votar o fizeram. Mas as imagens de locais de votação esvaziados parecem corroborar a versão da oposição, segundo a qual o comparecimento foi de apenas 16%.

O desencanto com o regime de Maduro e o boicote de parte da oposição ao processo explicam os números baixos. A principal líder oposicionista, María Corina Machado, hoje na clandestinidade, disse que não faria sentido participar das eleições porque os resultados não seriam respeitados, a exemplo do que aconteceu na eleição presidencial do ano passado, escandalosamente roubada por Maduro.

Mas nem todos os oposicionistas pensam como María Corina: Henrique Capriles, que já foi o principal nome da oposição em outras disputas presidenciais, participou das eleições e conquistou uma vaga no Parlamento. Para ele, a abstenção era de interesse do regime e o boicote ao pleito foi um erro. É essa divisão da oposição que facilita a vida do ditador Maduro. Se mantivesse a união apresentada na eleição presidencial e que desafiou seriamente a ditadura, a oposição poderia provocar algum desconforto ao governo. Dividida, perde o pouco poder que tem.

Enquanto a oposição vive seus dilemas existenciais, a ditadura de Maduro segue voando em céu de brigadeiro. A nova “vitória” eleitoral dá ao regime as condições ideais para dar um verniz de legitimidade a uma reforma constitucional que aprofunde a transformação da Venezuela num Estado totalmente controlado pela ditadura.

Como mostra a altíssima abstenção nas recentes eleições, será difícil para Maduro convencer seus compatriotas a referendar uma reforma da Constituição que tende a aprofundar o fim da democracia no país e a solidificar a cleptocracia instalada no Palácio Miraflores. Isso, claro, não será necessariamente um problema para Maduro, pois uma de suas especialidades é ditar o resultado de eleições na Venezuela. Mas mostra o tamanho do abismo que há entre o ditador e a maioria de seus infelizes súditos.

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