Maior cratera de asteroide da América do Sul fica no MT

No interior do Brasil, entre os estados de Mato Grosso e Goiás, a pequena cidade de Araguainha guarda um gigante silencioso: a maior cratera de impacto de asteroide da América do Sul. Formada há cerca de 250 milhões de anos, a estrutura de 40 quilômetros de diâmetro intriga cientistas e pode ter mudado os rumos da vida na Terra.

Conhecida como Domo de Araguainha, impressiona não apenas pelo tamanho, mas por sua importância científica. Estudada há cerca de 46 anos por Álvaro Crósta, professor titular de geologia do Instituto de Geociências da Unicamp e membro da Academia Brasileira de Ciências, para ele a estrutura é um verdadeiro “laboratório natural”.

É por meio desses estudos que podemos analisar e compreender como os planetas são formados e evoluem ao longo de sua história.
Álvaro Crósta

Como cratera foi descoberta?

Primeiras imagens de satélite ajudaram a revelar uma “cicatriz” escondida no centro-oeste brasileiro. A formação, hoje conhecida como Domo de Araguainha, começou a ser notada na década de 1960, quando a Petrobras identificou uma estrutura circular incomum durante levantamentos geológicos. No entanto, não se sabia ao certo o que havia causado aquela anomalia. “A Petrobras identificou a presença de uma grande estrutura circular anômala e a batizou com esse nome, sem, contudo, atribuir uma origem específica à mesma”, explica Crósta.

Imagem da cratera feita por satélite

Imagem: Satélite Landsat NASA/imagem processada por Alvaro Crósta e cedida ao UOL

Geólogos brasileiros pensaram inicialmente em uma origem subterrânea. No início dos anos 1970, o então Departamento Nacional da Produção Mineral mapeou a área, atribuindo sua origem a uma intrusão ígnea — um fenômeno vindo do interior da Terra, de acordo com o professor.

Geólogos americanos viram do espaço o que outros não viram do chão. Com as primeiras imagens de satélite Landsat, dois pesquisadores norte-americanos sugeriram que se tratava de um astroblema — uma cicatriz deixada por impacto de um corpo celeste.

O geólogo Álvaro Crósta (foto) dedica boa parte da vida para estudar o fenômeno  - Arquivo pessoal/Álvaro Crósta - Arquivo pessoal/Álvaro Crósta

O geólogo Álvaro Crósta (foto) dedica boa parte da vida para estudar o fenômeno

Imagem: Arquivo pessoal/Álvaro Crósta

Confirmação veio com pesquisa científica brasileira. “Escolhi como tema da minha pesquisa de mestrado uma análise detalhada dessa estrutura com o objetivo de comprovar se era de fato uma antiga cratera”, afirma Crósta. A confirmação saiu em 1981, com a publicação de um artigo científico na Revista Brasileira de Geociências.

Diâmetro de 40 km, maior que RJ e um laboratório natural

A cratera é maior que cidades inteiras e ocupa área comparável à região metropolitana do Rio de Janeiro. Com cerca de 1.300 km², a estrutura se estende por seis municípios e dois estados: Araguainha, Ponte Branca e Alto Araguaia (MT); e Doverlândia, Mineiros e Santa Rita do Araguaia (GO).

A cratera ocupa áreas de Mato Grosso e Goiás - Reprodução/Google Maps - Reprodução/Google Maps

A cratera ocupa áreas de Mato Grosso e Goiás

Imagem: Reprodução/Google Maps

Uma janela para o passado da Terra e dos outros planetas. “As crateras de grande porte, como a de Araguainha, que tem um diâmetro de 40 km, são muito poucas na Terra. Elas servem como laboratórios naturais para o estudo dos processos de evolução das superfícies planetárias”, explica Crósta.

A Terra, assim como todos os demais planetas rochosos do sistema solar e suas luas, foi alvo ao longo de sua história de inúmeros impactos de meteoritos. O registro desses impactos foi muito bem preservado na lua, por exemplo, mas não na Terra. Nosso planeta possui uma dinâmica muito intensa e sua superfície está em constante transformação, o que acaba apagando esses registros. Apenas poucas crateras foram preservadas (cerca de 200), o que torna esse fenômeno bastante raro.
Alvaro Crósta, professor titular de geologia do Instituto de Geociências da Unicamp e membro titular da Academia Brasileira de Ciências, que estuda a cratera há quase 46 anos

Impacto de até 70.000 km/h e possível extinção em massa

A rocha espacial chegou à Terra a uma velocidade impressionante. “Sabemos que os asteroides chegam à Terra a velocidades entre 15 e 20 km/segundo. Isso equivale a 50.000 a 70.000 km/h. A quantidade de energia liberada pelo impacto de um grande asteroide é fenomenal, pois é uma função da massa do asteroide e dessa elevada velocidade”, detalha o geólogo.

Impacto não tem confirmação de extinção, mas pode ter contribuído. Apesar das pesquisas publicadas na revista científica Palaeogeography, Palaeoclimatology, associarem a colisão a uma das maiores extinções em massa já registradas – Crósta afirma que, “não é bem assim” – mas que o evento pode ter contribuído. “A idade do impacto — cerca de 254 milhões de anos — é próxima a do maior evento de extinção da história da Terra, há 250 milhões de anos. Esse poderia ser um dos fatores que contribuíram para isso”, aponta Crósta.

Mesmo sem extinção global, região foi devastada. “Um impacto dessa magnitude tem potencial muito elevado de destruição da vida e certamente afetou uma região relativamente extensa da Terra na época em que ocorreu.”, completa o geólogo.

Estudar meteoros do passado pode ajudar proteger Terra no futuro

Ciência atual busca prevenir novos impactos. “É necessário que desenvolvamos estratégias de defesa e prevenção caso venha a existir uma ameaça futura de choque de um grande asteroide ou cometa contra o nosso planeta”, explica. Ele lembra que já existem testes com tecnologias de desvio de asteroides usando propulsão a jato.

Cratera brasileira é símbolo global de ciência e cultura. “O Domo de Araguainha foi selecionado por uma comissão da Unesco como um dos 100 locais de importância e interesse geológico do nosso planeta”, destaca o geólogo. Além da ciência, o local é rico para geoturismo, educação ambiental e divulgação científica”, afirma. O domo foi reconhecido pela IUGS (International Union of Geological Sciences), órgão ligado à Unesco. A cratera é a primeira do tipo (criada por impacto de asteroide) identificada no Brasil.

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