Mães exigem investigação após morte de bebés prematuros no principal hospital de Cabo Verde

“Não consigo descrever esta dor. Ninguém do hospital me deu qualquer explicação. Quando o meu bebé morreu, nem uma palavra de conforto, nem um abraço, nada”, disse à Lusa Yara Ramos, 26 anos, que perdeu o filho no Hospital Universitário Agostinho Neto (HUAN), na cidade da Praia.

Yara deu à luz um menino, a 05 de fevereiro, por cesariana, sem outras complicações além do baixo peso.

O bebé foi colocado numa incubadora, mas, dez dias depois, ficou a saber pelo pessoal do hospital que todos os que ali estavam tinham contraído uma infeção.

“Desde fevereiro, começaram a morrer. Alguns médicos preocupam-se, mas a maioria só quer o ordenado”, declarou.

O filho de Yara morreu a 03 de março: “O meu mundo desabou. Já tinha comprado tudo: berço, cómoda, roupa. Agora vou dar a quem precisar”, disse à Lusa.

Yara disse acreditar que o filho foi um dos últimos “de um total de oito bebés” que morreram na unidade e exige uma investigação “urgente”.

Na sexta-feira, a ministra de Estado, Janine Lélis, confirmou no parlamento a morte de cinco recém-nascidos, em fevereiro, após um aumento da taxa de partos prematuros (entre 25 e 31 semanas) e bebés com baixo peso (870 a 1.870 gramas) – indicando que três morreram devido a infeções neonatais precoces, de origem materna, e, em dois casos, devido a cuidados prestados e complicações da prematuridade.

A ministra disse ser “essencial reforçar as estratégias de prevenção, sobretudo na assistência pré-natal, que faz muita diferença” para evitar tais situações.

O assunto foi levantado pelo Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), maior partido da oposição, que pediu esclarecimentos sobre um alegado surto de infeções neonatais no hospital.

“Não é a primeira vez que isto acontece e, se nada for feito, vai continuar. Eu não desejo que mais nenhuma mãe passe por isto”, afirmou Yara, apontando que mais quatro mulheres na mesma situação recusam-se a falar, porque acham que “já nada adianta”.

Larissa Borges, de 24 anos, também perdeu a filha a 05 de março e ainda não recebeu qualquer explicação: “Não sei o que aconteceu com a minha filha”, contou.

A bebé, nascida de parto normal, a 07 de fevereiro, “apenas tinha falta de peso”.

Larissa garantiu ter sido acompanhada por uma médica, desde janeiro, e que a ela – a mãe – apenas lhe foi diagnosticada perda de líquidos.

“Disseram que era normal e que devia beber mais água, mas a minha filha nasceu saudável”, apontou.

No final de fevereiro, reparou que os pés da bebé estavam roxos.

“Perguntei à médica, que ficou espantada, porque não sabia de nada”, relatou.

A situação agravou-se: os pés tornaram-se negros e a barriga inchou. Os pais insistiram por respostas e uma médica cubana confirmou uma infeção, sem explicar como foi contraída.

“Ela estava sempre ao cuidado deles, eu nem lhe podia pegar ao colo”, lamentou a mãe que já tentou contactar a Procuradoria de Justiça, mas ainda sem conseguir.

“Quero apresentar queixa e reunir-me com outras mães”, afirmou.

Larissa, que já tinha tudo preparado para receber a bebé em casa, disse que não consegue desfazer-se da roupa que lhe estava reservada.

“Não quero dar nada a ninguém. Fico sozinha em casa a pensar que teria a minha filha como companhia”, lamentou, pedindo “mais cuidado na incubadora”.

“Justiça tem de ser feita”, insistiu.

A mãe admitiu à Lusa que já tinha alguns receios, depois de um caso, em dezembro de 2024, em que o corpo de um bebé falecido na unidade foi dado como desaparecido.

Duas semanas depois, o hospital informou que foi sepultado sem o conhecimento da família, juntamente com tecidos humanos descartados.

Na altura, o Presidente da República, José Maria Neves, sugeriu uma auditoria mais ampla aos serviços de saúde.

A Lusa tentou obter esclarecimentos, ao longo de vários dias, junto do Governo, do Ministério da Saúde e do hospital, mas não obteve respostas.

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