Após as eleições fraudulentas de julho de 2024, o venezuelano Nicolás Maduro tem colocado mais lenha na fogueira da disputa territorial de Essequibo com a Guiana. As tensões continuam a aumentar, à medida que Maduro usa sua reivindicação sobre a faixa de terra de mais de 160.000 quilômetros quadrados, que pertence à Guiana, para obter apoio ao começar o seu terceiro mandato.
Em 6 de março, a Guiana solicitou à Corte Internacional de Justiça que impedisse o regime de Maduro de eleger um governador venezuelano para a região de Essequibo.
No início de janeiro, Jorge Rodríguez, presidente da Assembleia Nacional controlada pelo partido governista, anunciou que os venezuelanos realizarão eleições para o estado da Guiana Essequiba nas próximas eleições regionais marcadas para 25 de maio.
Em março de 2024, os legisladores venezuelanos criaram o novo estado da Guiana Essequiba, enquanto Maduro nomeou um general do Exército como a “autoridade governamental” para esse território.
De acordo com o ex-presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, o partido governista reviveu o conflito com a Guiana para “normalizar” o roubo da eleição presidencial.
Quando consultado por Diálogo, Guaidó afirmou que o ditador venezuelano “está criando essa propaganda de guerra […] para ter influência nas negociações com o resto dos países da região, especialmente no Caribe, e buscar uma situação de fato em que ele é quem tem que negociar em nome da Venezuela”.
Maduro, disse Guaidó, usa a estratégia russa de gerar “caos e ansiedade” na região, não apenas por meio do conflito com a Guiana, mas também incentivando a migração e a exportação de criminosos.
Em dezembro de 2023, o regime de Maduro realizou um referendo consultivo, no qual perguntou aos cidadãos se a Venezuela deveria anexar o Essequibo. O Conselho Nacional Eleitoral afirmou que houve mais de 10,5 milhões de votos a favor da anexação, embora poucos eleitores tenham sido vistos nos locais de votação. Os resultados não foram divulgados.
De acordo com Guaidó, Maduro está disposto a repetir essa estratégia este ano, para dar a impressão de que a população se une em torno dele, contra um “inimigo externo”.
Incidente marítimo
Em 12 de janeiro, o jornal venezuelano Últimas Noticias, de tendência oficialista, relatou a detenção de um navio com bandeira da Guiana por supostamente transitar em águas venezuelanas sem permissão. O navio, Four Plus, foi levado ao porto de El Guamache, na Ilha Margarita, e seus tripulantes foram expostos e interrogados por militares.
De acordo com o General de Brigada (R) Rodolfo Camacho, do Exército da Venezuela, essa embarcação partiu do porto venezuelano de Guanta, no estado de Anzoátegui, transportando insumos para a indústria petrolífera. Portanto, tinha a permissão das autoridades da Bolivariana de Portos e Petróleos da Venezuela.
Camacho declarou à Diálogo que esse incidente foi usado para alimentar o conflito entre os dois países, pois os tripulantes eram na realidade de origem asiática. “Como uma autoridade como Petróleos da Venezuela S.A. permitirá que aditivos sejam carregados em um navio e a autoridade marítima o autorizará a sair, para depois ser perseguido quando passar pela Ilha Margarita? Isso parece inventado”, afirmou o Gen Bda Camacho.
Em 15 de janeiro, a publicação brasileira Sociedade Militar informou que o Exército venezuelano estava construindo pistas de pouso, pontes temporárias e acampamentos ao longo da fronteira com a Guiana. Em resposta, o Brasil decidiu realizar um exercício no estado de Roraima, que faz fronteira tanto com a Venezuela, como com a Guiana, e é a única rota terrestre entre ambos os países.
De acordo com o Gen Bda Camacho, ex-diretor de Doutrina, do Comando Estratégico Operacional das Forças Armadas, a prontidão operacional da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) não passa atualmente de 38 por cento e, para empreender uma campanha de retomada do Essequibo, seria necessário elevá-la a mais de 70 por cento.
Mesmo assim, o oficial não descarta a possibilidade de Maduro ordenar uma incursão em território guianense. “A única maneira de eles poderem fazer algo é entrando pelo mar”, acrescentou.
Em 2024, a Marinha da Venezuela informou sobre a realização de dois exercícios de incursão anfíbia na Baía de Turiamo, no estado de Aragua, onde tem sua base o grupo de operações especiais da instituição naval. O treinamento incorporou o uso de navios de transporte e barcos equipados com foguetes Fajr-1, de fabricação iraniana.
Além disso, o Gen Bda Camacho indicou que a FANB instalou na Ilha de Anacoco a sede da 64ª Zona Operacional de Defesa Integral, correspondente a Essequibo, bem como um núcleo da Universidade Experimental das Forças Armadas. Esse local contaria atualmente com 60 militares em serviço permanente.
Também alertou que um hospital de combate está sendo construído na cidade de Tumeremo, no estado de Bolívar, onde fica a base que coordena as atividades militares na área de fronteira.
“Ultimamente, os porta-vozes do partido governista incorporaram em sua propaganda a pregação de que os guianenses e as corporações transnacionais estariam aproveitando-se das riquezas do território reivindicado, a fim de despertar sentimentos de nacionalismo”, afirmou o Gen Bda Camacho.
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