Livro sobre processo da independência de Cabo Verde, de José Tomaz Veiga, é apresentado esta quinta-feira na Praia
Cabo Verde na Encruzilhada da Independência: Memórias de um Tempo Conturbado, da autoria de José Tomaz Veiga, é uma obra memorialística que aborda o período turbulento de oito meses que se seguiu entre Abril e Dezembro de 1974, após o golpe de Estado em Portugal, e foi crucial para a independência de Cabo Verde que no mês de Julho completa 50 anos. José Tomaz Veiga é autor dos livros: A ‘Democracia’ Nacional Revolucionária – O Projecto Totalitário do PAIGC/PAICV, Cabo Verde 1975-1990, lançado em 2021, e “Política & Economia – Cabo Verde 2001-2015: Contribuição para Jornais e Artigos de Opinião”, lançado em 2024. Como escreve no livro e explica nesta entrevista ao Expresso das Ilhas, “esse período tumultuoso foi decisivo para a ascensão de Cabo Verde à independência, e a forma como se desenrolou teve um papel fundamental na definição dos contornos do regime que emergiu no pós-independência”. A apresentação da obra acontece esta quinta-feira, pelas 17:00, na Biblioteca Nacional, e estará a cargo de Jacinto Santos com um momento musical por Amílcar Baptista.
Porquê o título, Cabo Verde na Encruzilhada da Independência: Memórias de um Tempo Conturbado?
Primeiro, porque como escrevi na nota introdutória do livro, eu baseei-me na minha memória. Vivi aquele momento, estava cá em Cabo Verde aquando do 25 de Abril, e vivi esses momentos intensamente. Há muita coisa de que não me recordo. E pareceu-me que, chegados aos 50 anos da independência, seria bom dar a conhecer alguns episódios que possivelmente não serão de conhecimento geral, ou pelo menos há muita gente que não se recorda ou que não esteve associada aos movimentos nessa altura, portanto essa é a razão do título.
A palavra-chave do título é Encruzilhada. Como justifica?
Encruzilhada por uma razão muito simples: porque nessa altura as coisas não estavam claras quanto à independência de Cabo Verde. A mim me parece que a independência da Guiné era facto consumado, quer dizer que os dirigentes portugueses não tinham como evitar que isso acontecesse. As condições internacionais e internas em Portugal e o nível a que a luta armada chegou na Guiné… portanto, a independência da Guiné, para mim, era perfeitamente clara: para nós todos. A independência de Cabo Verde era muito menos clara, até porque a maior parte dos dirigentes portugueses na altura não estaria inclinada para aí, pelo contrário. Os principais, pelo menos, orientavam-se numa perspectiva diferente, para alguma forma de associação, etc. O certo é que separaram as duas coisas. Portanto, estávamos numa verdadeira encruzilhada. E o PAIGC era muito fraco aqui em Cabo Verde, e, em termos organizacionais, praticamente inexistente. Havia gente que se identificava como tal, mas em termos de uma organização actuante praticamente não existia nessa altura. Então, realmente foi um momento, acho eu, que estava bem caracterizado.
Aliás, como escreve, o 25 de Abril apanha o PAIGC completamente despreparado em Cabo Verde.
Esta é a minha opinião e a minha perceção estando aqui no terreno na altura. Eu era militante do PAIGC, tínhamos um grupo muito pequeno e realmente a estrutura do PAIGC não tinha expressão.
Qual era a sua hierarquia dentro do PAIGC na altura?
Eu, na altura, em 1974, fazia parte de uma pequena equipa que existia aqui na Praia. O principal dirigente aqui nessa altura era o José Luís Fernandes Lopes, o Djidjé. Ele tinha chegado cá em Dezembro e eu trabalhava com ele. Tinha alguns contactos com pouca gente na altura e era isso. Posteriormente, ao longo do desenvolvimento da nossa acção e das movimentações que ocorreram aqui na Praia, eu passei a coordenar as actividades em vários bairros e depois mais tarde tornei-me o responsável pela organização aqui na ilha de Santiago.
Quando?
Lá pelos meados de 1974 terá sido a data em que me tornei responsável da Direcção Regional de Santiago: assim é que era chamada essa estrutura.
No livro faz grandes elogios a José Luís Fernandes Lopes (Djidjé) e João Pereira Silva. Em que se distinguiram?
Bom, também a Silvino da Luz. A questão é simples. É que, como disse, esse período foi o período da implantação do PAIGC aqui em Cabo Verde. E eu, de facto, refiro os dois porque… e há também um aspecto importante: o essencial do livro é direccionado para a ilha de Santiago. E o José Luís Fernandes e o João Pereira Silva foram absolutamente essenciais, determinantes para a orientação das actividades aqui em Santiago. Portanto, por isso eu referi-os. Não sei se se trata de um elogio. Limitei-me a dizer aquilo que foi a minha percepção de como é que as coisas correram. E igualmente em relação a Silvino da Luz, que veio já bastante mais tarde. Ele e Osvaldo Lopes da Silva chegaram em Agosto de 74. Já havia uns meses que já estávamos organizados aqui na Praia e em parte também no interior de Santiago. Mas nas outras ilhas já havia movimentação também. As intervenções de Silvino da Luz e do Osvaldo Lopes da Silva, mas mais dele, que ele tem mais carisma e a forma de discursar e tudo aquilo foi altamente importante para a implantação do PAIGC aqui.
O livro é dedicado in memorium a “Mamede Saldanha Pinto e António Carlos Lopes, (Scunina) e aos jovens de Ponta Belém, os primeiros a acender o rastilho em Abril de 1974 e os primeiros a serem esquecidos”.
Porque é verdade. Eles, de facto, iniciaram aquela movimentação que está na origem de tudo o que se passou. Como eu disse, as estruturas organizacionais do PAIGC eram praticamente inexistentes em Cabo Verde. Já disse isso várias vezes, repito e continuo a dizer. A sua acção não se sentia no terreno. Toda a movimentação que ocorreu aqui começou como uma onda espontânea. Não foi o PAIGC que lançou esse movimento. Agora o PAIGC soube tirar partido disso. Portanto, rapidamente nós acabámos por entender o que é que tínhamos de fazer, ponto final. Mas eles é que lançaram essa movimentação, e dentre esses eles, os jovens de Ponta Belém foram a meu ver decisivos. É claro, eu sei que houve abusos, exageros, pois em momentos desses é difícil evitar que tais coisas aconteçam. Mas a acção deles para mim foi decisiva, assim como também um pouco mais tarde de jovens de outros bairros, por exemplo, Achada Santo António e Achadinha.O Liceu da Praia também. Os estudantes, já se sabe, estão sempre na vanguarda desses movimentos e foram também muito importantes no processo. Mamede e Scunina faziam parte desse grupo, são pessoas que já faleceram e lamento bastante, mas realmente eles estiveram envolvidos e de que maneira.
Mas foram esquecidos.
Exacto. Depois, à medida que o poder se foi consolidando, muita gente ficou de fora, digamos assim, não vale a pena dizer mais.
Que períodos entre Abril até Dezembro de 1974 abarca o livro?
Em Abril houve o golpe de Estado em Portugal. Isso apanhou-nos de surpresa aqui, portanto ouvimos pela rádio e depois era toda a azáfama para tentar obter mais informações e esclarecimentos. Nós conseguimos obter essas informações, mas durante esse período ficamos praticamente em standby: vamos ver o que vai acontecer. Isso nos primeiros dias. Entretanto, começou esse movimento espontâneo. Então nós não podíamos ficar certamente de braços cruzados à espera que as coisas aconteçam. Temos que tentar de alguma forma canalizar esses movimentos e foi o que tentámos fazercom algum sucesso, com insucessos também, naturalmente, mas de modo geral com algum sucesso. Depois, eu considero que nós tivemos um sobressalto grande em 19 de Maio. O 19 de Maio foi um dia, eu diria, terrível mesmo. Mas eu conto no livro exactamente o que é que se passou. Houve confrontos mesmo físicos e os militares estiveram aqui como quem queria os portugueses.
Você foi atingido na cabeça.
Eu recebi um golpe, outros foram muito pior tratados. Eu lembro-me do Chico Xan, que ficou ferido, José Luís Vaz (Saguí) também ficou ferido, lembro-me do Antero Teixeira que também ficou ferido. Esses passaram muito pior do que eu. Eu estive no início da confusão…mas os militares portugueses vieram determinados, não diria para acabar connosco, mas para tentar pura e simplesmente bloquear o desenvolvimento do processo que eles já tinham visto para onde poderia ir. Depois disso, foi o 3 de Agosto em que nós fizemos uma grande manifestação, portanto, acho que foi aí o ponto de viragem da implantação do PAIGC aqui na Cidade da Praia, pelo menos. E mais tarde, nós, com a chegada dos dirigentes superiores do PAIGC, Silvino da Luz e Osvaldo Lopes da Silva, aproveitamos claramente para fazer uma manifestação de força e foi, de facto, uma manifestação de força. Mais tarde, foi a chegada de Pedro Pires, em Outubro. Também fizemos a mesma coisa: já com mais força, porque já estavam mais implantados aqui. Depois vieram outras situações delicadas; a UPICV (União do Povo das Ilhas de Cabo Verde) tentou demonstrar que tinha alguma força cá no país, sobretudo aqui na ilha de Santiago, e tinha, de facto, alguma, não muito expressiva, mas tinha alguma. Nós impedimos a manifestação, nós e o exército português. Depois houve finalmente o assalto à Rádio Barlavento e a prisão dos dirigentes tanto da UPICV como da UDC (União Democrática de Cabo Verde). Eu considero que foi isso o início efectivo do regime de Partido Único em Cabo Verde: foi no mês de Dezembro de 1974, não foi em 5 de Julho de 1975 foi em 1974.
Parafraseando John Reed: foram 8 meses que abalaram Cabo Verde?
Por acaso, nem me lembrava do livro Dez Dias que abalaram o Mundo, de John Reed. Eu li o livro há muito tempo. Claro, nessa altura como estudante todos nós liamos esse livro, mas por acaso o título do meu livro não vem daí. Eu não iria até esse ponto, porque o que aconteceu com a Revolução Russa abalou o mundo mesmo a sério. Não quer dizer que tenha sido pelo melhor, mas pronto, abalou. Aqui em Cabo Verde, portanto, à nossa dimensão foi um período, de facto, difícil, bastante conturbado, com altos e baixos, e desânimo e euforia, tudo no bem. Realmente, eu acho que contribuiu bastante para nós conseguirmos ter a independência na altura em que ela aconteceu.
Você diz no livro uma coisa interessante: há momentos em que a história parece acelerar. Quais foram esses momentos?
Para nós, que vivíamos aquele momento com todas as indecisões, pontos de interrogação sobre como é que as coisas iriam passar, o tempo não passava realmente. Mas, de facto, a posteriori, observando já de longe e de fora, foram só oito meses. Apenas oito meses, e nesses oito meses o panorama político em Cabo Verde sofreu uma alteração completa, de muito pouco para a quase totalidade. Quer dizer, o PAIGC acabou por se implantar aqui com uma rapidez fantástica dadas as circunstâncias e o ponto de partida. Essa é que é a verdade. Por isso, de facto, esse momento acabou por ser uma espécie de compressão do tempo, mas para nós, na altura não. Nós estávamos completamente ansiosos. Nós queríamos a independência amanhã ou depois de manhã e o tempo foi passando e as dificuldades vinham aparecendo: resolvíamos umas, não resolvemos outras, e pronto, o tempo parecia nunca mais andar.
Reconhece no livro que a unidade Guiné/Cabo Verde não passava de uma ficção, mas diz que ficou abalado aquando do reconhecimento da independência da Guiné, sem referência a Cabo Verde. Diz ainda que foi um enorme balde de água fria para si. Porquê?
Digamos, não terá sido bem abalado, só em parte. Nós estávamos aqui em Cabo Verde perfeitamente confiantes e mais, nós acreditávamos que devia ser assim. Ou seja, associar a independência da Guiné à independência de Cabo Verde. Ou, pelo menos, a um reconhecimento explícito. Isso nunca foi feito. Nos acordos não se fala explicitamente, fala-se de autodeterminação, mas explicitamente de independência, não. Mas nós, naquela altura, queríamos que isso acontecesse. Acoplar as duas coisas para facilitar o processo e evitar que se separassem os dois processos, que era o que a facção de António de Spínola, que era o Presidente da República, pretendia. Não só ele, Mário Soares também, Almeida Santos, todos eles. Portanto, nós víamos a coisa numa outra perspectiva, mas depois digo no livro que retrospectivamente, de facto, compreende-se que tenha sido assim. Portanto a independência da Guiné já tinha sido declarada em 1973. No nosso caso, não tinha sido feita a declaração da independência de Cabo Verde. Foi declarada a independência da Guiné, com base nos sucessos da luta armada nessa altura.
Escreve que na altura a unidade Guiné-Cabo Verde não passava de uma ficção. Então, porquê que os dirigentes cabo-verdianos do PAIGC, que regressaram a Cabo Verde, não hesitaram em defender e promover essa ideia?
Eu já tinha falado sobre isso no meu primeiro livro. E, claro, estou a falar agora com a distância de 50 anos. E, portanto, com um olhar retrospectivo. Ou seja, quando os dirigentes chegaram cá, nós os que estávamos aqui estávamos perfeitamente convencidos de que a questão da unidade da Guiné e Cabo Verde era séria, embora tivéssemos já alguma informação sobre a forma como o assassinato de Amílcar Cabral ocorreu. Bom, com algumas dúvidas, mas os dirigentes chegaram cá. A título privado um ou outro deixava-nos saber que as coisas não eram bem assim, mas, oficialmente e como orientação e referência, a unidade Guiné-Cabo Verde era um facto. Nós em todos os comícios, em todas as reuniões, em todo lado, a unidade Guiné-Cabo Verde era um facto. Não queríamos saber, era isso mesmo. Tomámos a sério, mas na realidade, quase todos os dirigentes superiores do PAIGC que vieram já sabiam que as coisas não eram bem assim, porque tiveram a experiência eles mesmos lá. E mais, como indico no meu livro, o próprio Luís Cabral descreve essa fase aquando do segundo congresso do PAIGC, dando conta que vários dirigentes cabo-verdianos pretendiam, de facto, sair e criar células nas comunidades, porque sentiram o que estava a passar, pois havia dirigentes guineenses envolvidos no que aconteceu. Por isso, acho que nessa altura a unidade Guiné-Cabo Verde já não passava de uma ficção. Anteriormente teve efeito aquela ideia da unidade dos dois povos. Muita gente foi para a guerra porque estava convencida de que era assim. Depois da morte de Cabral era muito difícil continuar a acreditar. E aqui, em Cabo Verde, quando os dirigentes superiores do PAIGC chegaram com esta ênfase na unidade Guiné-Cabo Verde, penso que nos induziram a nós e ao conjunto da população aqui em erro. Digo isso em retrospectiva, porque eu próprio fui grande defensor da unidade Guiné-Cabo Verde na altura. Nós todos. Mas eles já estavam cientes, já sabiam que não era assim. E o certo é que depois da independência o que foi feito para conseguir essa tal unidade? Muito pouco. Porque todos sabiam que não havia futuro para isso.
Passando às eleições de Junho de 1975. Escreve no seu livro que ainda hoje há quem defenda que outras forças políticas (a UPICV e a UDC) poderiam ter participado nessas eleições, previstas no acordo assinado entre o governo português e o PAIGC, mas os dois partidos foram desmantelados com a prisão dos seus dirigentes e deixaram de existir, concluindo que o problema é que democracia nunca fez parte do ADN do PAIGC/PAICV. Explique-se.
Essa é a minha opinião, no meu primeiro livro expliquei porquê eu penso isso. Mas agora a questão é saber se havia alternativas ou não. Eu não digo que não havia alternativa, o que eu dizia é que o PAIGC era dominante. Portanto, a partir de Agosto, Setembro, já dominava o panorama político aqui em Cabo Verde. E foi consolidando isso pouco a pouco. Mas, entretanto, havia a UPICV e a UDC que não tinham o nível de organização do PAIGC. Eram muito mais desorganizados, e embora as nossas estruturas existissem e funcionavam aqui, não quero dizer que tivéssemos uma excelente ou grande organização, mas tínhamos uma organização que funcionava. Eles tinham também, mas não se comparava. Mas tinham as suas ideias e expressavam-nas e tinham os seus apoiantes. Na altura, estava convencido, e ainda estou, que eles eram muito minoritários, mas eram correntes de opinião diferentes das do PAIGC. Por exemplo, a UPICV era pela independência, mas contra a unidade Guiné-Cabo Verde. A UDC, contra a unidade Guiné-Cabo Verde e a favor de uma ligação mais estreita a Portugal e da realização de um referendo. Portanto, ia tudo contra a visão do PAIGC nessa altura.
Historicamente a UPICV é que tinha razão?
Bom, eu acho que, na prática, isso veio-se a demonstrar que, de facto, a unidade Guiné-Cabo Verde, pelo menos nessa altura, já não tinha razão de ser. Já não tinha. Mas a unidade foi sempre um elemento essencial da ideologia do PAIGC. Portanto, há de se compreender que teriam alguma dificuldade em deixar cair essa ideia naquela altura.
Dedica um capítulo inteiro aos preparativos para a luta armada em Cabo Verde. Foi também outra ficção?
Não é bem isso, não é bem isso. É que, na verdade, o PAIGC mandou um grupo de pessoas para Cuba que inclusivamente foi dirigido por Pedro Pires: um grupo de pessoas para formação militar que estiveram lá 1 ou 2 anos. Formaram-se no plano militar e entendo também que ideológico, mas mais militar sobretudo com vista a um desembarque aqui em Cabo Verde. Se se lembrar do livro do Pedro Rolando Martins, ele fala inclusive dos preparativos aqui, para recebê-los. Ora, isso seria um suicídio. É que aqui não há condições para fazer um desembarque. Qualquer grupo de 20 ou 30 ou 10 ou 15 pessoas que desembarcasse aqui armado, no espaço de tempo de uma semana estaria provavelmente destruído. Porque a guerrilha não se alimenta desta maneira. Normalmente tem que ter protecções. Acho que Cabral certamente deu-se conta disso e pararam, abandonaram a ideia, mas os que estiveram em Cuba acabaram por desempenhar um papel muito importante na guerra na Guiné, porque não só tinham formação militar como também formação académica, que ajudou a que tivessem papéis proeminentes no plano militar, porque certo tipo de armas exige conhecimentos que nem toda gente tem, e isso jogou a favor. Esse grupo acabou por ser importante para a luta na Guiné.
Com este livro faz finalmente paz com a sua história política e pessoal ou há ainda outros livros sobre a mesma matéria?
Não tenho nenhum problema com a minha história aqui. Não acho que seja relevante mesmo. Estava cá, participei neste processo, depois continuei, saí, voltei a entrar na política em 1991 e depois deixei. Mas não quer dizer que não me interesso pelo que se passa aqui, interessa-me. Mas não sinto necessidade de fazer as pazes com o meu passado. Simplesmente senti a necessidade de escrever sobre esse período. Em relação aos primeiros 15 anos, eu escrevi o meu primeiro livro e aí a ideia era, digamos, não de fazer as pazes com mim mesmo, mas de refutar pontos de vista e opiniões sobre o tipo de regime que vigorou neste país nessa altura. O segundo livro tem a ver com o período de 2000 para a frente e textos que eu escrevi na altura a contestar muita coisa, muitas decisões, muitos pontos de vista, muitas opiniões. Portanto, quis dar às pessoas a oportunidade de se confrontarem com pontos de vista diferentes. O presente livro baseia-se mais nas minhas memórias sobre algumas situações, factos, que me pareceram relevantes para aquele período. É nesta perspectiva que eu o escrevi. Se vou escrever mais um outro, não sei. Não sei, francamente, não sei. Tenho algumas ideias,mas vamos ver se tenho energia para isso.
Qual é o seu público-alvo para este seu novo livro?
Eu não me dirigi a nenhum público-alvo. É para as pessoas que se interessam por esse período e que certamente encontrarão outros relatos. Penso que outros autores já escreveram sobre esse período, não sei em que perspectiva. Portanto eu tentei dar a minha perspectiva, lembrar situações, factos que ocorreram naquele tempo e que terão tido alguma influência no desenrolar dos acontecimentos posteriores e na ascensão à independência de Cabo Verde na altura em que ocorreu.
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