Líderes religiosos acusados de serem usados pelo Governo – DW – 07/03/2025

As eleições gerais em Angola estão previstas para 2027. Mas há já várias denúncias de líderes religiosos que estão a ser usados para desenvolver atividades político-partidária durante os cultos.

No Cuanza Norte, o chefe provincial de Informação da UNITA – maior partido ds oposição -, Ernesto Tomás, acusa Gaspar Armando, reverendo da igreja de Reavivamento Espiritual Unida – há quase 10 anos na província – de ser um homem ao serviço do partido no poder, (MPLA).

“Vimos hoje o tal pastor em ativismo político a desmobilizar crentes de várias outras denominações, a ser usado pelo Governo”, afirma.

Confissão… e acusação

Gaspar Armando, o acusado, confirma que é militante do MPLA e afirma que controla mais de 25 congregações que albergam perto de 20 mil fiéis, distribuídas em 16 municípios da província. O reverendo diz ainda que não é o único nesta condição.

UNITA, maior partido da oposição em Angola
Membro do MPLA diz que também há filiados da UNITAFoto: DW/N. Borralho

“Eu conheço pastores e padres que são filiados da UNITA. Na Assembleia Nacional tem um padre que é deputado da UNITA, é de Cabinda”, denuncia. 

As autoridades angolanas reconhecem mais de 80 confissões religiosas, a maioria em Luanda. Centenas de denominações ainda aguardam reconhecimento.

O especialista em governação local, Manuel Gonga, diz que não se surpreende com a proliferação das igrejas, porque alguém está a tirar proveito do fenómeno.

“O MPLA está a beneficiar com a proliferação de igrejas, porque volta e meia você vê uma tal igreja apoiando o Governo onde não devia apoiar”, disse.

Segundo o professor e ativista cívico, Hélder Neto, a maior parte das igrejas em Angola albergam crentes do sexo feminino. Mesmo no campo pessoal, nem sempre a influencia da igreja é positiva.

Muitas vezes, relata, os pastores têm sido os responsáveis até mesmo por separações de casais.

“É só olhar que muitas dessas igrejas têm as senhoras como praticamente vítimas e destruíndo a relação de casal, porque a mulher está mais propensa a obedecer o pastor do que muitas das vezes o seu próprio marido”, afirma.

IURD, Angola (Foto de arquivo)
Há relatos de práticas ilegais de líderes religiososFoto: Borralho Ndomba/DW

Líderes “sem preparação”

Para além da extorsão, por via da exigência do dízimo, as divisões prematuras das igrejas e o exercício ilegal da atividade religiosa são alguns dos grandes problemas que se pode identificar, assegura o diretor de Cultura e Turismo no Cuanza Norte, Pedro Cavela.

E o diretor vai mais longe: “Muitas vezes fazem trabalho de ocultismo, atividades pelas quais nem foram licenciados”.

Apesar de Luanda ser o epicentro da prática religiosa em Angola, os líderes religiosos provém de vários pontos do país. O especialista, Manuel Gonga, explica que nem sempre estão preparados para exercer um trabalho com tamanha influência sobre as populações.

“Uma boa parte dos nossos pastores hoje são nossos irmãos Bakongo, miúdos que não estudaram, que lêem mal, escrevem mal, e que encontram na religião a criação de uma igreja com magia”, afirmando ainda que encontram neste ofício a forma de sobrevivência deles, explorando os fiéis.

Angola: A luta contra a corrupção falhou? 

To view this video please enable JavaScript, and consider upgrading to a web browser that supports HTML5 video

Crédito: Link de origem

- Advertisement -

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.