Lições sobre transição energética entre Portugal e Brasil – 27/05/2025 – Mercado

A transição energética tornou-se uma das grandes prioridades da agenda internacional. Perante a urgência climática, a necessidade de reduzir emissões e de garantir um acesso mais seguro e sustentável à energia já não é uma escolha —é um imperativo. Este processo, que se desenha à escala global, ganha contornos muito próprios quando observado em contextos nacionais. Portugal e Brasil, embora em realidades distintas, encontram-se ambos no centro deste movimento. Curiosamente, têm mais em comum —e mais a aprender um com o outro— do que muitas vezes se reconhece.

Portugal tem-se destacado na última década pelo seu compromisso com a descarbonização. O encerramento das centrais a carvão, os leilões de energia solar com preços recorde e a crescente aposta no hidrogênio verde são sinais de uma estratégia coordenada. O país tem tirado partido da estabilidade regulatória, dos fundos europeus e de uma matriz energética já relativamente limpa, com forte componente hídrica. Tem também conseguido mobilizar investimento privado, inovar na gestão das redes e dar passos consistentes na direção de uma economia de baixo carbono.

O Brasil, por seu lado, começa de uma base invejável: uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo, onde a energia hídrica domina, mas onde a energia solar —sobretudo em modelo distribuído— cresce a um ritmo notável. A escala do país e a abundância de recursos naturais tornam-no, potencialmente, numa potência verde. Contudo, os desafios são proporcionais às oportunidades: garantir segurança do abastecimento em momentos de escassez hídrica, reduzir desigualdades regionais no acesso à energia e articular uma transição justa que envolva comunidades e trabalhadores ainda dependentes de atividades intensivas em carbono.

Tanto Portugal como o Brasil enfrentam uma questão comum: como assegurar que esta transição seja, além de verde, justa? O conceito de justiça climática, cada vez mais presente nos fóruns internacionais, convida-nos a olhar para a transição energética não apenas como um desafio técnico, mas como uma transformação econômica e social profunda. Quem será incluído neste novo paradigma? Quem poderá requalificar-se e beneficiar das novas cadeias de valor? E quem corre o risco de ficar para trás?

É neste ponto que o diálogo luso-brasileiro pode ganhar nova relevância. Portugal pode inspirar-se na diversidade territorial do Brasil e na forma como as soluções descentralizadas —como os sistemas fotovoltaicos em comunidades isoladas— têm transformado realidades locais. O Brasil pode beneficiar da experiência portuguesa na criação de um enquadramento regulatório claro e na mobilização de financiamento climático internacional, essencial para dar escala a projetos estruturantes.

Mais do que exemplos a replicar, o que está em causa é a partilha de experiências e a construção conjunta de soluções adaptadas. A transição energética não pode ser pensada de forma isolada. Exige cooperação, visão estratégica e uma abordagem multilateral. E num mundo cada vez mais fragmentado, parcerias históricas como a de Portugal e Brasil podem tornar-se um ativo estratégico valioso.

No final, a transição energética não é apenas sobre energia. É sobre futuro. Sobre como queremos viver, produzir, consumir e nos relacionar com o planeta. E essa escolha, embora global, começa sempre com decisões locais —informadas, partilhadas e, acima de tudo, humanas.

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