Libertadores coloca Brasil contra América do Sul e traz problemas de difícil solução

A desigualdade financeira entre clubes contribui, no futebol contemporâneo, na criação de heróis e vilões. A Inglaterra se ressentiu do domínio do Manchester United e hoje se diverte com a prolongada má fase de seu riquinho. O Brasil tem destaques lá e cá, mas faz mais de dez anos que seus principais títulos são disputados consistentemente só por Flamengo e Palmeiras. Esses times passam a ser detestados por adversários. Também vai acontecer com países.

A Libertadores começa pra valer nesta terça com sete brasileiros na fase de grupos. Podiam ser oito, se o Corinthians não tivesse caído na “pré”. E não há audácia nenhuma em prever que um desses deva terminar a temporada campeão do torneio. Não porque os últimos seis vencedores são brasileiros — esta é a consequência do problema, não a causa dele —, e sim porque existe uma enorme disparidade econômica entre quem fala português e castelhano.

Números a seguir não são os mais atuais, pois balanços de 2024 ainda não saíram, mas passam o recado: Flamengo e Palmeiras tinham no ano retrasado respectivamente folhas salariais de R$ 420 milhões e R$ 380 milhões. O único argentino que acompanha nas finanças, o River Plate, não tem divulgado seus estados contables. O Boca Juniors, já eliminado desta Libertadores, pelo Alianza Lima, tinha folha de R$ 150 milhões no exercício de 2023/2024.

O Vélez Sarsfield gasta R$ 85 milhões. O Estudiantes, R$ 60 milhões. Esses são os valores gastos com salários e direitos de imagem do futebol profissional, e esse é o indicador econômico que tem maior correlação com o resultado dentro de campo, pois reflete de certa forma a qualidade técnica dos jogadores contratados. Não há garantia de que a maior folha vá vencer o campeonato, mas não é acaso que as maiores folhas costumem chegar mais longe.

A vilania construída por meio da vantagem financeira é ruim porque, aos olhos do derrotado, ela é indigna. Pouco importa que o Brasil tenha população mais numerosa, mercado de mídia maior, e isso justifique faturamentos maiores com televisão, patrocínios, estádios. Narrativa clubística não funciona assim. Nem pro Bayern na Alemanha, nem pro United na Inglaterra, nem pro Flamengo no Brasil. Por que seria diferente para o Brasil perante a América do Sul?

Também é óbvio que alhos e bugalhos se misturam, muito além do campo. O contexto anda beligerante entre brasileiros e demais sul-americanos. O recente caso de racismo no Paraguai, contra Luighi, agravou o cenário, dada a revolta da opinião pública brasileira contra os paraguaios e a apatia da Conmebol. Também há violência recorrente contra torcedores visitantes no Brasil, como os fãs do Racing baleados no Rio de Janeiro em fevereiro deste ano.

Devemos admitir que nenhum desses problemas é de fácil solução, do ponto de vista das entidades organizadoras do esporte. A desigualdade financeira entre clubes, muito menos o racismo ou a violência. Mas, pelo menos, que se admita que são problemas e que se comece a bolar algum planejamento para enfrentá-los. Caso contrário, o que virá ali na frente é temerário. Uma Libertadores que pode se desvalorizar pela escalada da rivalidade entre seus países.

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