Quando a repórter Marina Semensato recebeu uma mensagem de um amigo com o link de um TikTok, não imaginava que sua vida estava prestes a mudar: um vídeo em que é confundida com a autora de um crime que ela apenas noticiou estava beirando 1 milhão de visualizações.
O que aconteceu
Marina disse preferir nem falar sobre o crime da matéria que escreveu para não associar ainda mais seu nome ao ocorrido. “Eu noticiei essa ocorrência no portal iG, onde eu trabalho. E essas pessoas pegaram a minha foto de assinatura do portal e colocaram nos vídeos como se eu tivesse cometido esse delito”, falou.
“Fiquei completamente aterrorizada”, afirmou a jornalista. O crime noticiado nem sequer tinha acontecido no Brasil: estava relacionado à violência entre facções no Haiti, resultanto na morte de 40 pessoas.
“Fui ler os comentários e pesquisei o que estavam falando sobre essa história no TikTok e me deparei com ao menos seis outros vídeos me associando ao caso”, conta ela. Ela registrou boletim de ocorrência e acionou a chefia e a equipe jurídica do local onde trabalha, mas o estrago já estava feito.
Ela disse que, imediatamente, denunciou o vídeo ao TikTok e tentou contatar os autores da mentira, mas não conseguiu localizá-los. Um dia depois, os vídeos foram apagados, e alguns dos autores publicaram retratações.
A autora de um vídeo disse que havia procurado pelo caso no Google e que a foto de Marina apareceu como destaque. Ela admitiu que nem leu a matéria inteira antes de colocar a imagem da jornalista nas imagens.
“Infelizmente, os vídeos de retratação não chegam nem perto do alcance dos outros”, disse a repórter. “É uma situação que fugiu completamente do meu controle e até das pessoas que publicaram esses conteúdos.”
Essa é uma situação pode repercutir para o resto da minha vida, uma vez que os vídeos podem ser baixados e enviados para outras pessoas por outros canais.
Marina Semensato, repórter
Ação contra os autores dos vídeos
A jornalista já está recebendo orientação jurídica e pretende ingressar com uma ação contra os autores dos vídeos e as plataformas em que foram publicados. Em nota enviada ao iG, o TikTok disse que “não permite a circulação de desinformação”, e que “oferece canais próprios para denúncia e combate a esse tipo de material”. A nota da companhia enviada ao UOL se limitou a dizer que os vídeos já haviam sido apagados.
O iG repudiou o caso e destacou que Marina “não tem absolutamente nenhuma relação com o crime”. O portal afirmou que o ocorrido mostra a “total falta de cuidado com a checagem de informações que são disseminadas a milhares de seguidores na internet”, e reforça “a necessidade de regulação urgente das redes sociais.”
A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) também publicou uma nota condenando o ocorrido. “A permanência e circulação do conteúdo falso representam riscos e danos para a profissional e é absurdo que tal situação ainda possa representar monetização para criadores de conteúdo que desejam se aproveitar da repercussão do caso”, diz o comunicado.
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