Itamaraty enfrenta desafio para resolver crise com Paraguai e Embraer pode ser prejudicada, diz analista
O Governo Lula enfrenta um desafio diplomático após autoridades paraguaias sinalizarem o possível cancelamento de um contrato de R$ 600 milhões para a compra de seis aeronaves Super Tucano EMB-314, fabricadas pela Embraer. A decisão ocorre em meio a uma crise diplomática envolvendo a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), que teria supostamente monitorado autoridades de Assunção durante negociações bilaterais sobre a usina de Itaipu. Se concretizado, o cancelamento pode afetar a posição da Embraer na América Latina e abrir espaço para concorrentes internacionais.
O impasse entre os dois países começou após o vazamento de informações sobre uma operação de espionagem da ABIN, destinada a obter dados sensíveis sobre a usina de Itaipu, gerida de forma compartilhada entre Brasil e Paraguai. Como resposta, o Paraguai suspendeu as negociações sobre a renovação do Anexo C do Tratado de Itaipu, o qual regula a comercialização da energia gerada pela hidrelétrica. Além disso, o Paraguai iniciou uma investigação interna sobre as ações da ABIN em seu território, o que intensificou as tensões diplomáticas.
O impacto potencial para a Embraer é significativo. A venda das aeronaves Super Tucano, projetadas para missões de policiamento aéreo e combate ao tráfico ilícito, representa um contrato estratégico para a empresa. A Embraer não só se consolidaria como líder no fornecimento de aeronaves na América Latina, mas também impediria a entrada de concorrentes de países como China, Turquia e Coreia do Sul, que já têm produtos semelhantes no mercado.
O pesquisador João Gabriel Burmann, do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE), destacou que a Embraer perderia não apenas o contrato, mas também a sua posição de liderança na região, dando espaço para fabricantes de aeronaves concorrentes como as TAI Hurkus turcas, as KAI KT-1 Woongbi sul-coreanas e as Hongdu JL-8 chinesas. Já em 2013, a Bolívia substituiu os Super Tucanos por aeronaves chinesas, o que demonstra o risco para o Brasil e a Embraer.
Com relação ao uso dos Super Tucanos pela Força Aérea Paraguaia (FAP), Burmann explicou que as aeronaves seriam essenciais em missões de combate a insurgência, reconhecimento e ataques a alvos no solo, particularmente em terrenos de difícil acesso. Além disso, o Super Tucano se destaca por seu baixo custo de manutenção e por sua performance em operações em zonas de risco.
A Embraer já tem dois dos seis aviões prontos para entrega, e a encomenda deve ser cumprida ainda em 2025. O futuro da venda, no entanto, depende da evolução da crise diplomática, que coloca em risco não só a relação comercial com o Paraguai, mas também a presença do Brasil no mercado latino-americano de aeronaves militares.
Em resposta à crise, o Itamaraty vem adotando uma postura de contenção, buscando manter o diálogo diplomático com o Paraguai. A professora Regiane Nitsch Bressan, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), afirmou que o governo brasileiro precisará intensificar esforços para evitar que a crise se amplie para outros setores e que a relação com o Paraguai se deteriore ainda mais.
A especialista sugeriu que o Brasil opte por uma transparência seletiva, fornecendo informações detalhadas sobre o caso da ABIN ao governo paraguaio, sem comprometer a segurança das operações de inteligência. Ela também afirmou que iniciativas conjuntas nas áreas de segurança, infraestrutura e comércio podem ser fundamentais para restaurar a confiança e preservar a relação bilateral.
*Com informações da Sputnik News.
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