Investidores agora tratam o Bitcoin como ação de tecnologia — Criptomoeda é vista como ativo sensível ao cenário macroeconômico
Comportamento do Bitcoin se aproxima de ações tech, refletindo decisões de política monetária e desempenho da economia mundial
Por muito tempo, o bitcoin foi considerado um investimento fora dos padrões dos ativos tradicionais. A descentralização, a inovação e a promessa de independência do sistema financeiro global eram as principais bandeiras.
No entanto, os movimentos recentes do mercado mostram outra realidade. Hoje, o bitcoin responde a eventos globais da mesma forma que ações de tecnologia ou ativos de risco.
Quedas após tarifas nos EUA
A reação mais recente ocorreu após o anúncio das tarifas de Donald Trump. Em uma semana, o preço do bitcoin despencou de US$ 84.600 para US$ 75.000.
A queda deu continuidade a um ciclo de desvalorização iniciado em fevereiro. No final de janeiro, o bitcoin valia mais de US$ 106.000, após um período de alta impulsionado pelas eleições.
Esse comportamento não foi isolado. Na mesma semana em que o bitcoin caiu 10,5%, o índice S&P 500 perdeu 11,6% e o Nasdaq 100 caiu 12,0%.
Isso evidencia que a criptomoeda está se movimentando em sintonia com os principais mercados acionários dos Estados Unidos, especialmente o setor de tecnologia.
Medo global afeta criptoativos
A relação entre a política e o bitcoin vem se estreitando. Os anúncios feitos pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, provocaram fuga para ativos considerados mais seguros, como o ouro.
Enquanto isso, tanto ações quanto o bitcoin registraram quedas acentuadas, mostrando que o ativo digital passou a ser tratado como instrumento de risco. Ou seja, em tempos de tensão e incertezas econômicas, os investidores preferem alocar o seu dinheiro em setores mais tradicionais.
Recuperação guiada pelo mercado tradicional
Mesmo a recuperação registrada em 9 de abril seguiu o mesmo padrão. Nesse dia, houve uma suspensão de 90 dias das tarifas.
Com isso, o bitcoin avançou 8,2%, enquanto o S&P 500 subiu 9,5%. A valorização não teve relação direta com os fundamentos do bitcoin, mas sim com o alívio no sentimento macroeconômico. Esse tipo de movimento mostra como o bitcoin está conectado à narrativa econômica mais ampla.
Tecnologia ou ouro digital?
Para Ferdinando Ametrano, da Universidade Milão-Bicocca, o bitcoin é um termômetro da globalização.
Parte dos investidores o considera similar às ações de tecnologia. Outra parte vê o bitcoin como uma espécie de ouro digital.
A diferença está no perfil do investidor: enquanto uns operam de forma ativa, outros compram e mantêm o ativo por mais tempo.
Nos momentos de crise, porém, o comportamento mais comum é de venda rápida. Isso aproxima o bitcoin dos ativos tradicionais de risco, e afasta, ao menos por ora, a ideia de que ele funcione como reserva segura.
Menor volatilidade nos últimos anos
Apesar dos movimentos recentes, dados apontam que o bitcoin está menos volátil do que antes. Segundo Silenskyte, a volatilidade anualizada de 90 dias caiu de 95% em março de 2021 para 52% em março de 2025. Essa mudança está associada à entrada de instituições financeiras no mercado de criptomoedas.
Esse processo de institucionalização alterou a dinâmica do bitcoin. Com a criação de instrumentos financeiros regulamentados — como ETFs de bitcoin, contratos de opções e derivativos — investidores institucionais conseguem montar estratégias mais sofisticadas. Isso trouxe maior estabilidade e menor diferença entre preços de compra e venda.
Infraestrutura e liquidez estão amadurecendo
O fato de o bitcoin ser negociado 24 horas por dia atrai liquidez constante. Isso ajuda a construir estruturas de mercado mais robustas.
A liquidez, aliada à participação de instituições, contribui para a redução da volatilidade histórica.
A tendência é que, com o amadurecimento da infraestrutura do mercado, o bitcoin continue seguindo esse caminho de maior estabilidade e integração com o sistema financeiro.
O que esperar para o futuro do bitcoin
O cenário político também influencia as expectativas. Donald Trump, em seu segundo mandato, deve manter uma postura favorável às criptomoedas. Isso pode ajudar a construir um ambiente político mais amigável ao setor.
Entretanto, especialistas acreditam que a volatilidade continuará sendo uma marca do bitcoin. A força da liquidez macro ainda é o fator mais relevante para os mercados. E o bitcoin não escapa disso.
Flutuações devem continuar
Mesmo com o crescimento da institucionalização e a possível entrada de novos players, Ametrano afirma que as oscilações de preço continuarão. Ele acredita que o bitcoin pode alcançar novos recordes nos próximos 12 a 18 meses, consolidando seu papel em carteiras diversificadas.
Mas esse avanço não virá sem instabilidades. O comportamento do bitcoin seguirá ligado aos mercados globais.
A volatilidade seguirá presente. E a comparação com ações tecnológicas continuará sendo válida enquanto os investidores tratarem a criptomoeda como um ativo de risco.
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