Honrar Portugal – Observador

Na próxima quinta-feira, o Almirante Henrique Gouveia e Melo anunciará publicamente a intenção de se candidatar à Presidência da República, concretizando um caminho há muito antecipado. Esta candidatura dificilmente será uma surpresa. Nos últimos meses Gouveia e Melo foi recebendo diversos apelos nesse sentido, sendo hoje claro que existem amplos setores da sociedade portuguesa que desejam vê-lo candidato. Sem estrutura partidária organizada, em março deste ano um grupo de sete pessoas constituímos a associação cívica “Honrar Portugal”, com o propósito de criar as condições políticas e operacionais necessárias para apoiar e viabilizar a candidatura presidencial até Belém. Desde essa altura que é conhecido o meu posicionamento, mas talvez não os fundamentos da minha própria decisão.

Participar num projeto cívico desta natureza implica sair da zona de conforto pessoal e profissional. Num período, porém, marcado por uma profunda crise institucional, não apenas em Portugal, mas globalmente, é imprescindível assumir riscos e lutar pelo que genuinamente acreditamos. Momentos difíceis exigem compromissos firmes e um envolvimento autêntico, especialmente quando se trata do nosso futuro coletivo. Não me move o ruído que caracteriza atualmente a arena política. Pelo contrário, motiva-me participar numa candidatura que tem em Henrique Gouveia e Melo uma marca, valorizada não apenas pelas suas qualidades pessoais, mas também pelo que ele hoje simboliza.

Conheci Henrique Gouveia e Melo quando presidi a empresas públicas ligadas à tecnologia na área da Defesa. Em tempos particularmente complicados, durante a intervenção da Troïka, muitos desejavam o fracasso das decisões difíceis que se impunham, presos a visões ideológicas obsoletas e falta de perspetiva de futuro. Hoje, o acerto das decisões que tomámos está à vista. Há mais de uma década, porém, enquanto muitos, por todos os lados, resistiam à inovação tecnológica e à necessidade de fazer diferente, Gouveia e Melo evidenciava determinação, lucidez e uma invulgar capacidade para concretizar, associando estas qualidades a uma empatia natural e um entusiasmo genuíno na forma como partilhava as ideias que o moviam. Não foi à toa que, desde então, Gouveia e Melo foi ganhando protagonismo na estrutura militar e no país, que viram nele um líder com visão estratégica, sempre capaz de olhar para além do imediato.

Creio, em qualquer caso, que além das qualidades pessoais de Henrique Gouveia e Melo, é importante valorizar o que ele, hoje, representa.

Portugal está cada vez mais fechado em torno do sistema partidário, com os partidos a monopolizarem até à náusea o debate e o processo político, limitando o espaço para opiniões independentes e para o escrutínio efetivo da sociedade civil. Num cenário em que vamos passar a ter dez forças políticas na Assembleia da República, governos que frequentemente não cumprem os seus mandatos mesmo quando detêm maiorias absolutas, e onde o diálogo é frequentemente encarado como sinal de fraqueza, a candidatura de um cidadão independente à Presidência da República, tão desejado pela população, ganha uma relevância acrescida.

Os poderes legislativo e executivo são, por imposição constitucional, exclusivos dos partidos. Ninguém em Portugal pode chegar à Assembleia da República ou ser indigitado chefe do governo sem estar integrado numa estrutura partidária. Se há falta de sociedade civil na política portuguesa, a Presidência da República é, por excelência, o órgão de soberania adequado para abrir a política à participação de todos, não contra os partidos, mas para além deles.

É fundamental devolver à sociedade o debate estratégico, ouvir as suas vozes e os seus protagonistas, e reforçar a importância do escrutínio da ação governativa, exigindo dos partidos responsabilidade, visão e compromisso de longo prazo. Gouveia e Melo simboliza essa abertura: um presidente empático, orientado para resultados, capaz de agregar diferentes sensibilidades políticas e sociais, promovendo cooperação e compromisso num tempo marcado por profundas divisões.

Se o sistema político e partidário estivesse saudável e comprometido com o país, a atual fragmentação partidária – em si própria positiva, pois permite dar maior representatividade à nossa diversidade social – convidaria naturalmente à cooperação. Porém, não é isso que tem vindo a acontecer, em grande medida porque os partidos e o ambiente mediático se deixaram dominar pela toxicidade das redes sociais e por uma cultura política que penaliza quem dialoga e colabora. Precisamos, por isso, de alguém capaz de transcender divisões partidárias, fortalecendo a confiança e o respeito dos cidadãos numa política inclusiva e representativa. Os atuais candidatos presidenciais, apesar das suas qualidades pessoais, emergem todos eles de fações partidárias específicas, o que limita a sua capacidade de unir e mobilizar a sociedade civil na sua pluralidade.

Portugal está mais próximo de uma partidocracia do que de uma verdadeira democracia, algo que também resulta da resignação da sociedade civil perante os políticos profissionais. Como seguramente diria Tocqueville se escrevesse hoje o seu A democracia na América, o grande perigo para a democracia não está no envolvimento político de cidadãos, mas no despotismo suave dos partidos.

É urgente e imperativo restabelecer equilíbrios saudáveis na sociedade portuguesa se queremos recuperar o futuro. Espero que Henrique Gouveia e Melo se revele a figura conciliadora, firme, rigorosa e independente que o atual momento histórico exige. A candidatura que por estes dias ganha corpo pretende afirmar as suas ideias e o seu espaço próprio; não surge contra ninguém nem despreza qualquer apoio ou adversário. Ninguém está a mais, todos somos necessários. A Associação “Honrar Portugal” nasceu precisamente desta visão. Portugal é o nosso compromisso cívico e honrá-lo será sempre a nossa missão.


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