A Hidrovias do Brasil acaba de anunciar um aumento de capital de R$ 1,2 bilhão para reduzir sua alavancagem, que tem sido uma das principais preocupações do mercado.
O Grupo Ultra, que tem 40% da companhia, vai garantir o aumento de capital na proporção de sua participação e ainda estuda se ficará com as sobras de mercado, uma fonte próxima à companhia disse ao Brazil Journal.
A Hidrovias vai emitir 600 milhões de novas ações a R$ 2 cada, praticamente o preço de fechamento de hoje (R$ 1,98).
Com a injeção de capital, a alavancagem da Hidrovias do Brasil deve cair para cerca de 2,8x no final do ano – o que deve ajudar a companhia em suas conversas com os bondholders, que deram um waiver em janeiro depois que a alavancagem ultrapassou o covenant de 3,5x.
“Uma das principais alavancas de valor que a Hidrovias tem é a redução da dívida,” disse a fonte próxima à empresa.
Além de reduzir sua dívida, a Hidrovias também quer usar os recursos para aumentar sua capacidade no Corredor Norte, a “joia da coroa” da companhia.
Em dezembro, o Grupo Ultra injetou R$ 500 milhões na Hidrovias por meio de um Adiantamento para Futuro Aumento de Capital. Agora, o Ultra deve converter este AFAC em equity.
O anúncio de hoje é a segunda tentativa da Hidrovias de levantar capital.
No início do segundo semestre, a empresa anunciou um aumento de capital de R$ 1,5 bilhão para reduzir a alavancagem e destravar investimentos. Mas a queda da ação de R$ 3,40 para menos de R$ 2,80 inviabilizou o negócio, que foi cancelado no fim de dezembro.
Segundo uma fonte, o aumento de capital proposto agora é menor que o anterior porque a Hidrovias acaba de vender sua operação de navegação costeira para a Norsul, uma transação anunciada na manhã de hoje.
O negócio saiu por um enterprise value de R$ 715 milhões – R$ 195 milhões em equity e R$ 521 milhões em dívidas.
O múltiplo da operação foi de 5,6x EV/EBITDA para os próximos 12 meses – em linha com o da própria Hidrovias, que negocia a 5,8x.
“Foi uma venda mais estratégica do que financeira, pois a Hidrovias perdia muito o foco nos negócios mais importantes e atuava em um setor em que competia com players muito consolidados, como a própria Norsul,” disse a fonte.
A venda também gerou especulação no mercado sobre novas vendas de ativos, como o terminal portuário da Hidrovias em Santos. Por ora, esse movimento não está nos planos.
“Nós gostamos dessa operação porque tem algumas semelhanças com o Corredor Norte, onde também temos um terminal. Ele não é diferente da nossa expertise,” disse a fonte. “Não há a intenção de vender outros ativos.”
A venda do ativo fez a ação da Hidrovias subir 4% no pregão desta sexta.
A operação de cabotagem costeira – que liga Trombetas até Barcarena e faz o transporte principalmente de bauxita – representou 17% do faturamento da Hidrovias no ano passado.
A XP calcula que, para 2025, o negócio representaria 12% da receita e 13% do EBITDA previsto para o ano.
A venda foi o primeiro passo para a desalavancagem da Hidrovias, que bateu 6,7x no fim do quarto tri.
O ano passado foi uma tempestade perfeita para a empresa – mas em formato de seca.
A falta de chuva impactou diretamente as operações do Arco Norte – que liga Miritituba a Barcarena e é usado para o escoamento de soja e milho – e o corredor Sul, que conecta o Mato Grosso do Sul com o porto de Montevidéu, passando por Paraguai e Argentina.
Resultado: a receita líquida da Hidrovias caiu 30%, e a alta do dólar impactou a dívida, levando a empresa a um prejuízo de R$ 622 milhões, comparado a um lucro de R$ 18 milhões em 2024 (um ano que já havia sido difícil).
As ações da Hidrovias caem 48% nos últimos doze meses. A empresa vale R$ 2,4 bilhões na Bolsa.
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