Henri vai a Portugal em homenagem especial. Marcelo recebe-o: “A sucessão não me preocupa”

Marcelo e Henri têm muito mais em comum do que um cargo. Há uma amizade que os une e prova disso é o facto de terem decidido conciliar agendas para se reunirem, naquele que será provavelmente o último encontro de ambos enquanto chefes de Estado. O Grão-Duque Henri vai efetuar uma “visita privada” a Portugal que o Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, faz questão de acompanhar. A confirmação foi dada ao Contacto pelo próprio chefe de Estado português.

Na visita, agendada para os dias 6 e 7 de março, o Grão-Duque Henri quer homenagear Aristides de Sousa Mendes, antigo cônsul de Portugal em Bordéus, que durante a II Guerra Mundial salvou vários luxemburgueses.

Este é, na verdade, “um projeto antigo do Grão-Duque”, confidenciou ao Contacto Marcelo Rebelo de Sousa. “Henri pretende fazer uma espécie de peregrinação de memória e de gratidão à Casa-Museu Aristides de Sousa Mendes”, inaugurada no ano passado em Cabanas de Viriato, Carregal do Sal, distrito de Viseu.

Ali está documentado o legado do antigo cônsul, que escreveu o seu nome na história ao salvar cerca de 30 mil pessoas que fugiram do regime nazi, incluindo luxemburgueses e a família grã-ducal, e encontraram refúgio em terras lusas.

Estávamos em 1940, um dos anos mais críticos da II Guerra Mundial, quando Aristides de Sousa Mendes, em Bordéus, lhes garantiu um visto, um passaporte para a liberdade, para seguirem rumo a Lisboa, mesmo sem autorização do governo português, na altura dirigido por António de Oliveira Salazar. A Grã-Duquesa Charlotte, o marido, o príncipe Félix, e os filhos, entre eles o Grão-Duque Jean (pai de Henri), e membros do Governo luxemburguês da altura integravam esse grupo que abandonou o Luxemburgo.

Charlotte exilou-se 101 dias em Cascais

Chegados a Portugal, “tinham a hipótese de ficar a viver durante algum tempo no nosso país ou de aguardar transporte para o continente americano. E parte da família grã-ducal passou por essa odisseia”, lembra o Presidente Marcelo, aludindo ao facto de a Grã-Duquesa Charlotte se ter refugiado em Portugal durante 101 dias, antes de se exilar nos Estados Unidos da América.

Desde então, os laços entre os dois países foram-se fortalecendo e o sentimento de gratidão do Luxemburgo a Portugal foi passando de geração em geração na monarquia grã-ducal. “Por isso, no dia 6 de março, Henri vai dirigir-se a Cabanas de Viriato, no interior Beirão, para fazer um retrato do passado e da ligação para o futuro”, revela o chefe de Estado português.

Ainda no mesmo dia, o monarca regressará ao Porto para visitar “uma start-up luxemburguesa na Universidade do Porto”. Falamos da LOSCH Digital Lab, empresa especializada no desenvolvimento de soluções tecnológicas para a indústria automóvel, que integra o grupo Losch Luxemburgo.

O périplo por Portugal inclui ainda, no dia 7, uma visita à Fundação Serralves, onde está patente uma exposição dedicada a Mário Soares. Tal como o Contacto noticiou em exclusivo em julho do ano passado, esta visita esteve inicialmente agendada para setembro de 2024, tendo sido adiada devido aos incêndios que afetaram a região de Viseu nessa altura.

“Não tenho a mínima preocupação quanto à sucessão”

A 3 de outubro deste ano, Príncipe Guillaume Jean Joseph Marie assumirá o trono. Coloca-se então a questão: a relação próxima com Portugal que Henri cultivou ao longo do seu reinado manter-se-á?

“É óbvio que sim e digo-o por duas razões”, responde Marcelo Rebelo de Sousa. “A primeira, porque conheço o sucessor e ele é nesta matéria, como noutras, muito fiel àquilo que é a visão fraternal que existe entre os dois povos. Temos um cruzamento natural entre as duas nacionalidades e uma experiência de décadas”.

Além disso, explica ainda, “o Luxemburgo mudou várias vezes o governo e não houve alteração nenhuma [na relação com Portugal]. Não houve ao nível de governos e nem haverá ao nível de chefes de Estado. Porquê? Porque os povos são os mesmos. O povo luxemburguês é aquele que era e o povo português é aquele que era”.

Portanto, “não tenho a mínima preocupação quanto à sucessão”, assume Marcelo Rebelo de Sousa, acrescentando que, durante a sua visita de Estado ao Luxemburgo, em 2017, testemunhou “a sensibilidade que há nas duas gerações de chefia de Estado relativamente a Portugal e aos portugueses”.

Para exemplificar esta ligação à comunidade lusa que vive Luxemburgo, o Presidente da República lembra um momento peculiar, durante a peregrinação a Nossa Senhora de Fátima em Wiltz, em que foi recebido de forma calorosa. “Recordo-me que foi das poucas vezes que o Grão-Duque Henri quebrou o protocolo e falou num meeting. E, se eu já tinha sido entusiasta a exprimir o que pensava sobre o que os portugueses fizeram e fazem no Luxemburgo, ele ultrapassou-me”.

Nesse dia, Henri acabou “por sair praticamente aos ombros dos portugueses, que eram milhares e gritavam ‘Henri, Henri’. Penso que isto mostra um sentimento que não é apenas pessoal, é coletivo”, indica o Presidente Marcelo.

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Tal como o pai, Guillaume também já chegou a assumir publicamente que se sente “em casa” quando está em Portugal. Aliás, enquanto lugar-tenente escolheu realizar a sua primeira viagem ao estrangeiro a Lisboa, onde presidiu à comissão luxemburguesa que participou na Web Summit, entre os dias 11 e 13 de novembro de 2024.

Na altura, em declarações ao Contacto, Guillaume lembrou os “fortes laços familiares com Portugal” além de que a sua “bisavó era da família real portuguesa” — Maria Ana de Bragança, mulher do Grão-Duque Guillaume IV.

Guillaume destacou ainda a importância da comunidade lusa no país e o “crescimento conjunto dos dois povos”.

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