Haiti contrata fundador da Blackwater, aliado de Trump, para combater gangues com drones e mercenários

247 – O ex-militar norte-americano Erik Prince, fundador da notória empresa de segurança privada Blackwater e aliado do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está atuando diretamente com o governo do Haiti para conduzir operações letais contra grupos armados que têm semeado o terror no país e ameaçam tomar o controle completo da capital, Porto Príncipe. As informações são do The New York Times.

Segundo autoridades haitianas e americanas ouvidas pela reportagem, além de especialistas em segurança com conhecimento direto das ações em curso, Prince firmou um contrato para enfrentar as facções que assassinam civis e ampliam seu domínio territorial. A iniciativa envolve o uso de drones armados, envio de mercenários e fornecimento de armas pesadas. O acordo, mantido em sigilo, não teve seus valores divulgados e não conta com qualquer financiamento do Departamento de Estado dos EUA, conforme a própria instituição confirmou.

Operações secretas com drones e mercenários

De acordo com os relatos, desde março, a equipe de Prince vem operando drones militares com a missão de eliminar membros de gangues. Ainda que autoridades não tenham divulgado prisões ou mortes de alvos estratégicos, a ONG liderada por Pierre Espérance em Porto Príncipe afirma que mais de 200 pessoas morreram em decorrência desses ataques.

Erik Prince também estaria recrutando veteranos haitiano-americanos com treinamento militar nos EUA para reforçar o contingente previsto de até 150 combatentes no verão do hemisfério norte. Há, ainda, o envio planejado de três helicópteros e uma grande remessa de armamentos, segundo dois especialistas consultados pelo jornal.

Joseph, um especialista em segurança que treinou policiais haitianos no uso de drones, expressou preocupação com a ausência de supervisão americana. “Devemos estar muito preocupados, porque se ele estivesse vinculado ao governo dos EUA, ao menos haveria algum tipo de controle por parte do Congresso”, disse. “Se é um contrato particular, ele não precisa prestar contas a ninguém.” Joseph relatou que Prince o procurou recentemente pedindo uma lista de veteranos haitiano-americanos para enviar ao Haiti, mas recusou colaborar sem mais informações sobre a missão.

Crise haitiana e fracasso da missão internacional

A crise humanitária e institucional no Haiti se agravou desde o assassinato do então presidente Jovenel Moïse, em 2021. Desde então, facções armadas passaram a controlar extensas áreas do território nacional, tomaram presídios, atacaram hospitais e incendiaram delegacias. Estima-se que 1 milhão de pessoas foram forçadas a deixar suas casas, com centenas de milhares vivendo em abrigos improvisados.

A situação crítica levou o governo haitiano a buscar apoio externo diante da falência estrutural de suas forças policiais, subequipadas e com efetivo insuficiente. A aposta em mercenários como Prince se dá após o fracasso de uma missão internacional de US$ 600 milhões patrocinada pela Casa Branca e conduzida, em grande parte, por tropas do Quênia, que não conseguiu mobilizar nem o número necessário de efetivos nem os recursos prometidos.

Para Alfred Métellus, ministro haitiano da Economia e Finanças, “as portas estão abertas. Todas as possibilidades estão sobre a mesa”, disse ao jornal Le Nouvelliste. “Estamos buscando todos os haitianos, todos os estrangeiros que tenham expertise nessa área e que queiram apoiar o país.”

Ambições de Prince vão além da segurança

Fontes próximas ao empresário indicam que ele pretende ampliar sua atuação no Haiti para além da segurança armada, oferecendo serviços em áreas sensíveis como alfândega, transporte, arrecadação de receitas e outras funções do Estado hoje colapsadas. O próprio jornal recorda que a fragilidade financeira haitiana se deve, em grande parte, à corrupção sistêmica no aparato estatal.

Embora a Blackwater, empresa que Prince fundou e que ficou mundialmente conhecida por abusos cometidos no Iraque e no Afeganistão, tenha sido encerrada, ele continua à frente de outras companhias de segurança militar privada. 

Sean McFate, professor da Universidade Nacional de Defesa dos EUA e autor do livro O Mercenário Moderno, aponta que Prince costuma atrair desconfiança até mesmo dentro da indústria de segurança privada. “Ele é muito exibido e traz publicidade negativa para um setor que preza por profissionalismo”, afirmou. “Vale sempre observar para onde Prince vai, porque é um termômetro de onde ele acha que o universo político de Trump pode se expandir — e onde ele pode lucrar com isso.”

Críticas à militarização e riscos de dependência

Para críticos da atual estratégia haitiana, a aposta em empresas privadas estrangeiras, sem transparência ou controle institucional, tende a criar um ciclo de dependência. “Se você insere conhecimento de forma pontual e depois se retira, a população local continuará sem capacidade técnica”, alertou Joseph. “Se você não conhece segurança, tudo o que terá é um monte de mortos.”

A presidência interina do Haiti, hoje conduzida por um conselho provisório, não comentou o conteúdo das reportagens. O próprio Erik Prince também recusou declarações.

Intensa atuação internacional

Em abril, Erik Prince esteve no Equador a convite do governo do presidente Daniel Noboa. Sua visita coincidiu com uma série de operações de segurança em Guayaquil, cidade marcada por altos índices de violência ligados ao narcotráfico. Prince acompanhou ministros da Defesa e do Interior em ações que resultaram na detenção de dezenas de suspeitos e na apreensão de armas de fogo. 

O governo equatoriano afirmou que o papel de Prince seria de consultoria e treinamento para as forças de segurança, embora detalhes sobre contratos ou pagamentos não tenham sido divulgados. A presença de Prince gerou críticas de setores da sociedade civil e da oposição, que questionaram a legalidade e a transparência da colaboração com empresas militares privadas

Na República Democrática do Congo, Prince firmou um acordo com o governo para auxiliar na proteção e tributação das vastas riquezas minerais do país, especialmente na província de Katanga, rica em cobre. O contrato, estimado em US$ 700 milhões, tem como objetivo aumentar a arrecadação estatal e combater o contrabando e a corrupção no setor de mineração. 

A iniciativa ocorre em meio a conflitos armados na região leste do país, onde rebeldes do M23, apoiados por Ruanda, têm avançado sobre áreas estratégicas. O acordo com Prince foi firmado antes da ofensiva rebelde, e sua implementação está sendo revisada à luz dos recentes acontecimentos.

Essas iniciativas refletem a estratégia de Erik Prince de expandir sua atuação em países com desafios de segurança e instabilidade institucional, oferecendo serviços de consultoria e operações militares privadas.

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