Guineenses que privaram com o Papa lembram-no como “homem de paz” – Sociedade



Três guineenses que privaram com o Papa Francisco lembram hoje, em declarações à Lusa, a sua figura e o seu legado como “homem de paz” que se preocupava com os desfavorecidos no mundo.





Dionísio Cumba, médico formado em Itália e ex-ministro da Saúde, Indira Pinto Monteiro, jornalista, e Maisa Fernandes Marques Vieira, mulher do antigo embaixador guineense no Vaticano, falaram à agência Lusa sobre as memórias que guardam da figura do Papa falecido.






Dionísio Cumba sempre esteve ligado à Igreja Católica na Guiné-Bissau, onde foi, entre outras funções, membro do centro artístico juvenil, estudou medicina na cidade italiana de Pádua e mais tarde foi ministro da Saúde do país africano.





É justamente pelo seu percurso que, em 2022, ainda ministro na Guiné-Bissau, o bispo da cidade de Pádua o chamou, de urgência, de Bissau, para regressar a Itália para um encontro com o Papa.





“O bispo da cidade de Pádua, onde estudei medicina, conhecendo a minha história, o meu percurso de vida, disse-me que tinha que contar a minha história de vida ao Papa”, explicou Cumba à Lusa, por telefone, a partir de Milão, onde atualmente exerce medicina.





O antigo ministro saiu de Bissau, à pressa, e acompanhado da família, foi recebido em 12 de outubro em Vaticano pelo Papa a quem fez o relato da sua vida, “de alguém nascido na Guiné-Bissau, numa família pobre”, mas que graças à Igreja estudou medicina em Itália ao ponto de ser o único cirurgião pediátrico do país africano.






Para a audiência, Dionísio Cumba levou o tradicional ‘pano de penti’, que na Guiné-Bissau simboliza amizade e um boneco de madeira.





“Pensei no que podia dar ao Papa, tinha em casa um ‘pano de pinti’, com a bandeira da Guiné-Bissau e uma escultura”, contou emocionado o médico.





Então membro do coro da Igreja Católica, Dionísio Cumba fez parte da equipa de instrumentistas que acompanharam os cânticos durante a missa presidida por João Paulo II durante a única visita papal à Guiné-Bissau, em 27 de janeiro de 1990.





“Fui flautista nessa missa”, lembra Cumba que voltaria a estar com um Papa, desta feita, Bento XVI no Vaticano.






O médico guineense tem a figura do Papa Francisco como a de “um homem de paz que sempre lutou pela paz no mundo”. Um homem corajoso, que dizia o que pensa, sem complexos de nada. É um Papa que vou recordar para toda a vida”, disse ainda Dionísio Cumba.





Maisa Fernandes Marques Vieira acompanhou o marido, Carlos Edmilson Marques Vieira, ao Vaticano, em 13 de dezembro de 2021, quando este foi apresentar as cartas credenciais como embaixador guineense e não se esqueceu da emoção que sentiu ao apertar a mão do Papa Francisco.





Na audiência, Maisa Vieira fez-se acompanhar dos três filhos numa sala onde se encontravam 80 embaixadores que se iam acreditar perante o Estado do Vaticano.





“O Papa falou connosco em três línguas: francês, português e espanhol. A seguir deu uma medalha a cada uma das pessoas que estavam naquela sala. Quando apertei as mãos do Papa, tinha de pedir algo, mas bloqueei-me devido à emoção”, afirmou a mulher do embaixador.






“Pediu-me duas vezes que pedisse algo para mim, mas não consegui, então, pediu-me que rezasse por ele”, conta.





Maisa Marques Vieira recorda com tristeza o facto de não terem levado nenhuma lembrança para o Papa justamente no dia em que fazia anos.





No avião, de regresso a Paris, onde residia o então embaixador guineense para o Vaticano e outros quatro países, os passageiros nem queriam acreditar que Vieira tinha estado, dois dias antes, numa audiência com o Papa, contou a própria.





“Os passageiros, os elementos da tripulação, nem queriam acreditar que tinha estado com o Papa. Mostrei-lhes fotografias e quase todos quiseram segurar as minhas mãos”, recorda Maisa Vieira, que nos anos 1990 ainda quis ser freira em Bissau.






“Um colega da Igreja de Bissau disse-me que fui batizada, fiz a comunhão, fiz a crisma, casei pela Igreja, dancei em Bissau pela visita do Papa João Paulo II (no grupo coral da Igreja), agora Deus levou-me até à casa do Papa Francisco”, graceja Vieira.





Solicitada a descrever, numa palavra, o que pensa do Papa agora falecido, Maisa Vieira diz o que vai lembrar como “alguém que queria a paz para todo o mundo”.





Jornalista da Televisão da Guiné-Bissau e representante da comunidade do Santo Egídio no país, Indira Pinto Monteiro diz que vai lembrar o Papa Francisco “como homem de paz” e que “se preocupava muito com os desfavorecidos, gente da periferia, idosos, presos e deficientes”.





Pinto Monteiro “teve o privilégio e honra” de se sentar ao lado do Papa Francisco numa missa na visita que este realizou à sede da comunidade do Santo Egídio em Roma em 29 de janeiro de 2014.






Monteiro é membro do concelho de presidência da comunidade de Santo Egídio.





“Era única africana no local e, ao cumprimentar as pessoas perguntou-me de onde eu era. Disse-lhe que era da Guiné-Bissau. Ainda tentei explicar-lhe onde era a Guiné-Bissau. Disse-me que me sentasse porque sabia onde era a Guiné-Bissau. No final da missa disse-me que desejava tudo de bom para mim e para o meu país”, lembra a jornalista.





O Papa Francisco morreu hoje aos 88 anos, após 12 anos de um pontificado marcado pelo combate aos abusos sexuais, guerras e uma pandemia. Nascido em Buenos Aires, a 17 de dezembro de 1936, Francisco foi o primeiro jesuíta a chegar à liderança da Igreja Católica.





Francisco esteve internado durante 38 dias devido a uma pneumonia bilateral, tendo tido alta em 23 de março. A sua última aparição pública foi no domingo de Páscoa, no Vaticano, na véspera de morrer.







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