Guiné-Bissau: Sissoco Embaló acelera obras públicas para garantir segundo mandato

A agenda do Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, para os próximos cinco meses está centrada num objectivo: garantir a reeleição. Para isso, o Chefe de Estado aposta fortemente na reabilitação e construção de infra-estruturas como sua principal bandeira política.

Nos últimos tempos, têm sido inauguradas e lançadas diversas obras em diferentes regiões do país. Destacam-se a recuperação de vias urbanas em Bafatá, Gabú e Biombo, bem como a ampliação do Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira, em Bissau. Para Sissoco Embaló, é “inconcebível” que um país com meio século de independência ainda careça de redes viárias decentes e mantenha o interior isolado.

Contudo, a oposição levanta sérias dúvidas sobre o carácter estrutural dessas obras, questionando a qualidade das estradas, a origem dos financiamentos e a ausência de fiscalização. Há quem vá mais longe e acuse o Presidente de hipotecar os recursos do país por meio de contratos opacos e pouco transparentes, em troca de um segundo mandato.

Nas últimas duas semanas, numa maratona por norte e sul do território, e acompanhado de quase toda a equipa governamental, Sissoco Embaló participou em cerimónias de lançamento de primeiras pedras para estradas e fábricas, além de inaugurações de obras já concluídas. O objectivo é claro: consolidar apoio popular antes das próximas eleições gerais, previstas para o final do ano.

Tentou, sem sucesso, unificar os partidos da base do Governo numa chamada Plataforma Republicana, mas as dissidências parecem inevitáveis, dada a diversidade e fragmentação dos grupos políticos.

Com os seus principais adversários políticos proibidos de realizar acções de rua – decisão anunciada pelo Secretário de Estado da Ordem Pública, José Carlos Macedo – Sissoco Embaló permanece como única figura a realizar contactos públicos, fora do período oficial de campanha. O próprio Presidente reafirma essa condição, reconhecendo ser “único que pode fazer encontros com o povo fora do período eleitoral”.

Sob o pretexto da Presidência Aberta, tem percorrido o país para lançar pedras inaugurais, sobretudo em obras rodoviárias. No leste, as vias principais de Bafatá e Gabú estão em construção; no sul, obras em Buba e estradas rurais estão em andamento. No último fim-de-semana, precisamente a 14 de Junho, a comitiva presidencial esteve na região de Oio, reduto político do seu principal adversário, o líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira.

Apercebendo do espaço que está a ser conquistado pelo Presidente, Domingos Simões Pereira tem reagido nas redes sociais, criticando o que considera ser uma “campanha eleitoral fora do prazo legal”, referindo-se à intensa actividade pública do Presidente. Apesar disso, Simões Pereira mostra-se confiante na vitória, afirmando que o actual Presidente “é uma fruta madura que um pequeno vento derrubará”.

Sissoco Embaló, por sua vez, desvaloriza as críticas, classificando os pronunciamentos do rival como uma “actuação de activista político na rede social” e aproveita os palanques para atacar a oposição, acusando-a de prometer sem cumprir — numa clara referência às promessas não concretizadas pelo PAIGC em 2018 e pela Coligação PAI-Terra Ranka em 2019, devido às demissões dos respectivos Governos.

Num comício popular em Farim, o Presidente prometeu construir uma ponte para substituir o uso de pirogas na travessia local e lançou a construção da estrada rural que liga Farim a Tanaf e Dugal, no Senegal. Ao discursar, acusou os antigos Governos de não terem executado as obras prometidas.

A 16 de Junho, Sissoco Embaló inaugurou os 8 km da estrada entre o Aeroporto Osvaldo Vieira e Safim, financiados pela China. Na ocasião, declarou que os resultados das obras agora visíveis provam que optou por “trabalhar em silêncio”. Acrescentou que, até ao fim do seu mandato, “70% do país estará asfaltado”, prometendo ainda indicar um sucessor “à altura”, mas não “igual ou pior” do que ele.

O Presidente também aproveitou o momento para advertir a população sobre a preservação das infra-estruturas. “Quem derrubar um poste de iluminação terá o carro confiscado. A Polícia está autorizada a retirar o veículo de quem provocar acidentes”, disse.

Enquanto as obras avançam, Domingos Simões Pereira continua a levantar suspeitas sobre o custo e a transparência das empreitadas em curso. Alega que são as estradas “mais caras” e denuncia a inexistência de informações sobre os financiadores e fiscalizadores dos projectos.

Em resposta, o Executivo tem acelerado o ritmo das inaugurações. Em Biombo, a 60 km de Bissau, a estrada em construção liga zonas consideradas bastiões do PAIGC, numa tentativa clara de conquistar terreno eleitoral. No entanto, a instabilidade interna de partidos como o PRS pode baralhar o xadrez político. Um dos líderes regionais, Sigá Batista, estivera em sintonia com Ilídio Vieira Té em 2023, acabando em divórcio político, encontra-se fora do país e já anunciou a intenção de se candidatar.

Com o país em clima de pré-campanha antecipada, a grande incógnita é se as obras serão suficientes para garantir a Sissoco Embaló mais cinco anos no Palácio presidencial.

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