Futebolistas guineenses do sub-17 queriam ficar em Portugal

A maioria dos jovens futebolistas guineenses da seleção sub-17, dados como foragidos na semana passada em Portugal, já se encontra na Guiné-Bissau. O regresso ao país de origem aconteceu na passada sexta-feira (19.07), depois de uma “operação de busca” que envolveu a Polícia Judiciária portuguesa.

De acordo com o alerta lançado pela Federação de Futebol da Guiné-Bissau, 12 jovens atletas guineenses, que foram participar, entre 10 e 14 de julho, na primeira edição do Torneio Luso Cup, em Cascais (arredores de Lisboa), fugiram do Centro de Estágio e encontravam-se em parte incerta.

Dos 17 jovens atletas, 15 regressaram à Guiné-Bissau, depois da Polícia Judiciária ter feito buscas para os encontrar, devolvendo-os à instituição portuguesa organizadora do torneio. No entanto, dois dos jovens, segundo fontes oficiais ouvidas pela DW, teriam ido para Espanha através de um empresário angariador de talentos africanos.

Helmer Araújo, especialista em assuntos africanos, diz que “as pessoas estão a fugir, porque o país não tem nada para dar”. E indaga, de seguida: “Desses jovens, qual deles teria um futuro jogando na Guiné-Bissau?”

“Quem é que não fugiu? Quantas pessoas vieram em várias representações do Estado e ficaram aqui em Portugal?”, continua o jornalista guineense.

“Não houve controlo”

Helmer Araújo recorda a recente ocorrência de jovens católicos que, em 2023, participaram na Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa. “Quantos fugiram?”, volta a questionar. “Porque é que essas pessoas nunca foram capturadas? Porque é que essas pessoas nunca foram presas?”

O jornalista considera que “o maior responsável” pelo episódio em Cascais é o presidente da Federação de Futebol da Guiné-Bissau. Lamenta não ter havido um “controlo efetivo” dos atletas guineenses durante os jogos.

“Eu fico pasmo quando as pessoas dizem que, na véspera dos jogos contra o Brasil, neste caso a final, os miúdos fugiram. Isso não existe”, afirmou incrédulo. “Acredito que, se estes miúdos tivessem jogado a final, aí já estariam autorizados a fugir, até pelo próprio presidente que também é empresário de futebol”, acrescentou.

Contactada pela DW, a União das Federações de Futebol de Língua Portuguesa, que promoveu o evento, não quis gravar declaração sobre este caso. Apenas confirmou que tudo fez para o regresso tranquilo da maioria dos jovens à Bissau. A DW tentou ouvir, igualmente, o presidente da Federação de Futebol da Guiné-Bissau, Carlos Teixeira Caíto, mas não foi possível obter uma declaração.

Faltou sensibilização

Adilé Domingos Sebastião, que concorreu nas últimas eleições para o cargo de presidente da Federação, diz que acompanha este caso com preocupação e tristeza. Considera que deveria haver maior envolvimento das academias guineenses e das respetivas famílias.

“Nós ficámos perplexos quando não vimos a preparação a nível da sensibilização por parte da Federação aos miúdos, à família, em relação a esse risco de fuga”, lamentou. Para Sebastião, “isso só vem demonstrar a falta de preparação e de capacidade das pessoas que estão à frente da nossa federação.”

De acordo com o promotor de uma academia de futebol na Guiné-Bissau, “existe sempre esse risco relativamente às excursões para Portugal”. Para Sebastião, “o futebol guineense bateu no fundo” e isso fundamenta as motivações para a fuga destes jovens, que têm a ver também com a situação política, económica e social da Guiné-Bissau.

“O nosso país tem muitos desafios para toda a gente e os miúdos viram uma oportunidade de saírem para a frente”, sustentou.

O que aconteceu, refere, “é mau demais e vergonhoso”. Sebastião defende a proteção dos jovens e um debate sobre o futuro do futebol na Guiné-Bissau. Além disso, pede responsabilização por parte do Estado guineense, nomeadamente o Ministério do Desporto, sobretudo em relação ao presidente da Federação de Futebol, que chefiou a comitiva.

De referir que o objetivo do torneio Luso Cup, segundo a União das Confederações de Futebol de Língua Portuguesa, é promover o futebol de formação nos países africanos de língua portuguesa.

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