Frente Popular e Governo guineense acordam manifestação para 03 de agosto


O dia é feriado na Guiné-Bissau em memória das vítimas do massacre de Pindjiguiti, em que morreram 50 pessoas e uma centena ficou ferida entre marinheiros, estivadores e trabalhadores deste porto de Bissau.


A Frente Popular tinha agendada para hoje uma manifestação contra o regime do país que não se realizou porque chegou a acordo com o Governo para poder sair à rua no próximo sábado.


A explicação foi dada pelo dirigente do movimento, Lelito Quadé, que anunciou ter ficado acordado com o ministro do Interior, Botche Candé, a realização de uma manifestação no dia 03 de agosto, com o acompanhamento das forças de segurança.


A Frente Popular é uma plataforma que junta organizações de jovens, mulheres e sindicatos que têm enfrentado o regime no poder no país e que já marcou duas manifestações, uma hoje e outra a 18 de maio.


Nenhuma das duas se realizou e em ambas esteve presente um forte dispositivo policial para dispersar eventuais manifestantes, por estar proibido na Guiné-Bissau, desde janeiro, qualquer tipo de manifestação pública.


Nas mesmas datas outro movimento de defesa do atual regime, a Plataforma “Firkidja di Povo” (Forquilha do Povo) marcou, também manifestações que tiveram o mesmo desfecho.


A Liga Guineense dos Direitos Humanos tem acompanhado estes processos e deu hoje uma conferência de imprensa para denunciar que durante a manhã deste sábado foram detidos “cerca de 10 ativistas” dos dois movimentos, segundo o vice-presidente, Edmar Nhaga.


A maioria dos detidos é do movimento que apoia o Presidente da República e um da Frente Popular, concretamente o dirigente Lelito Quadé.


O próprio explicou, na conferência de imprensa da Liga na Casa dos Direitos em Bissau, que foi o único elemento daquela organização que esteve detido e que os restantes são elementos da Plataforma “Firkidja di Povo”, que queriam se manifestar contra a corrupção no país.


A polícia conduziu os manifestantes detidos para a 2.ª Esquadra de Bissau.


O dirigente da Frente Popular foi posto em liberdade após a intervenção da Liga Guineense dos Direitos Humanos, que fez ver à polícia que aquela organização estava a desmobilizar os seus ativistas.


A Liga exige que a polícia liberte todos os ativistas detidos hoje e condena o corte do serviço móvel da internet desde às primeiras horas deste sábado, em todo o território guineense.


O serviço de internet só foi sendo reposto depois das 11:00 (mais uma hora em Lisboa) o que impediu o uso daquela que é a principal ferramenta de comunicação da população guineense, o WhatsApp.


Os apoiantes do regime reunidos na Plataforma “Firkidja di Povo” contestam a libertação dos ex-governantes suspeitos de corrupção que pertenciam ao executivo deposto pelo Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, depois de ter dissolvido, em dezembro de 2023, o parlamento da maioria PAI-Terra Ranka, liderada pelo PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde).


Este grupo apela ainda aos guineenses para apoiarem o Presidente do país para um segundo mandato nas próximas eleições presidenciais, que a oposição reclama para este ano.


O Presidente guineense tem afirmado, por várias vezes, que as eleições presidenciais só terão lugar em 2025, uma posição contrariada por várias organizações da sociedade civil e partidos políticos que advogam que o escrutínio deve ser realizado em 2024, já que tem de acontecer antes do fim do atual mandato de Sissoco Embaló, que ocorre em fevereiro de 2025.


No lado oposto está a Frente Popular, uma plataforma que junta grupos de mulheres, de jovens e de sindicatos, contra a dissolução do parlamento e a manutenção da direção da Comissão Nacional de Eleições, cujo mandato consideram já ter caducado.


A Frente Popular, que tem como objetivo “salvar a democracia” que diz estar ameaçada na Guiné-Bissau, exige a realização de eleições no Supremo Tribunal de Justiça, que afirma “estar capturado pelo Presidente da República” e ainda a marcação da data das eleições presidenciais ainda este ano.


“A nossa luta não vai parar porque, como dissemos, esta República é nossa”, enfatizou hoje Lelito Quadé, fazendo referência ao slogan da Frente Popular que em maio viu cerca de uma centena dos seus ativistas detidos pela polícia.


Os dirigentes da organização estiveram encarcerados durante dez dias, até serem libertados mediante medida de coação (TIR)- Termo de Identidade e Residência e apresentação periódica ao Ministério Público.

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