França planeja prisão na Amazônia; entenda o projeto de segurança máxima

Imagem computadorizada mostra o futuro complexo judicial na Guiana Francesa.

A França planeja instalar uma nova prisão de segurança máxima em plena Amazônia. O complexo será construído até 2028 na Guiana Francesa, departamento ultramarino francês na América do Sul.

Ele deve abrigar criminosos de alta periculosidade vindos do território europeu, como chefes do tráfico internacional e condenados por radicalismo islâmico

O novo presídio será erguido no município de Saint-Laurent-du-Maroni, região de fronteira com o Suriname e próxima ao norte do Brasil, segundo a BBC.

A construção está orçada em US$ 450 milhões (cerca de R$ 2,5 bilhões) e contará com capacidade total para 500 presos — incluindo um anexo de 60 vagas com regime de isolamento total para detentos considerados “líderes perigosos”.

O local já foi sede do famoso Campo Penal de Saint-Laurent, colônia penal retratada no livro best-seller Papillon, de Henri Charrière, e em duas adaptações cinematográficas. 

Regime antimáfia e isolamento extremo

Segundo o governo francês, o modelo de segurança máxima será inspirado nas políticas antimáfia adotadas pela Itália nas últimas décadas.

Isso inclui visitas altamente restritas, monitoramento eletrônico constante, bloqueadores de sinal de celular e drones, além de inspeções rotineiras nas celas. 

O objetivo, segundo o ministro da Justiça Gérald Darmanin, é impedir qualquer contato dos detentos com suas redes criminosas.

A justificativa para a escolha do território amazônico é justamente o isolamento geográfico, considerado um recurso estratégico para dificultar comunicações e planos de fuga.

— A selva serve como uma barreira natural — disse Darmanin ao jornal Le Journal du Dimanche.

Entre as 60 vagas do anexo de segurança máxima, 15 devem ser reservadas para presos condenados por crimes relacionados ao radicalismo islâmico. A medida foi criticada por representantes políticos da Guiana Francesa, que afirmam não terem sido consultados em nenhuma fase do processo.

Ronan LIETAR / AFP
Primeiro-ministro francês, Gérald Darmanin, visitou a Guiana Francesa.

Reação local

A decisão do governo francês também gerou indignação entre autoridades e moradores da região.

Jean-Paul Fereira, presidente interino da Coletividade Territorial da Guiana Francesa, publicou nota afirmando que “a população foi pega de surpresa com a revelação do plano pela imprensa nacional” e classificou a proposta como “desrespeitosa”.

O deputado franco-guianense Jean-Victor Castor foi mais contundente. Em nota pública, chamou o projeto de “provocação política” e “retrocesso colonial”

— A Guiana não deve se tornar um depósito de criminosos e pessoas radicalizadas da França continental — escreveu Castor, que exige a suspensão imediata do plano.

Histórico do local reforça tensão

A escolha de Saint-Laurent-du-Maroni tem peso simbólico e histórico. Entre o século 19 e meados do século 20, o município abrigou a mais conhecida colônia penal da França, com presos enviados diretamente da metrópole — muitos por motivos políticos. 

Entre os destinos mais temidos estava a Ilha do Diabo, local de isolamento extremo para dissidentes.

Essa memória continua presente na cultura local e reforça a sensação de reviver práticas do passado colonial. A ligação direta com o livro Papillon, publicado em 1969 e posteriormente levado ao cinema em 1973 e 2017, também fortalece esse imaginário.

Guiana

Além das críticas políticas, a Guiana Francesa enfrenta uma crise de segurança. Segundo dados do governo francês, o departamento possui o maior índice de homicídios per capita do país, com 20,6 mortes por 100 mil habitantes em 2023 — número quase 14 vezes superior à média nacional.

A região também é ponto de trânsito estratégico no narcotráfico internacional, especialmente no chamado “voo da cocaína”, que parte da fronteira com o Suriname rumo ao aeroporto de Orly, em Paris. 

Por isso, o Ministério da Justiça justifica que a prisão trará reforço logístico no combate às rotas criminosas transnacionais. A nova unidade está prevista para ser entregue em 2028.

Crédito: Link de origem

- Advertisement -

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.