França admite injustiça histórica contra o Haiti, mas evita falar em reparações

247 – Em comunicado divulgado na última quinta-feira (17), o presidente francês Emmanuel Macron reconheceu a “força injusta da História” imposta ao Haiti, referindo-se à indenização exigida pela França há 200 anos como condição para reconhecer a independência da antiga colônia. A informação foi publicada pela RFI.​

Em 1825, sob ameaça de uma frota armada enviada por Paris, o rei Carlos X impôs ao Haiti o pagamento de 150 milhões de francos-ouro — posteriormente reduzidos para 90 milhões — como compensação aos antigos colonos franceses por perdas decorrentes da Revolução Haitiana. O pagamento dessa dívida, que se estendeu até 1952, comprometeu severamente a economia haitiana, consumindo grande parte do orçamento nacional e dificultando o desenvolvimento do país.​

Macron anunciou a criação de uma comissão composta por historiadores franceses e haitianos para estudar o impacto dessa “muito pesada indenização financeira” sobre o Haiti e propor recomendações aos dois governos “para tirar lições e construir um futuro mais pacífico”. No entanto, o comunicado não menciona qualquer reparação financeira por parte da França, como solicitado por autoridades haitianas e organizações da sociedade civil.​

Em 2003, o então presidente haitiano Jean-Bertrand Aristide estimou a dívida em 21,7 bilhões de dólares e solicitou sua restituição, pedido que foi rejeitado pelo governo francês na época. Mais recentemente, em janeiro deste ano, o presidente interino do Haiti, Leslie Voltaire, afirmou que Macron sugeriu a possibilidade de restituição da indenização paga em 1825, embora nenhuma medida concreta tenha sido anunciada até o momento.​

A dívida imposta ao Haiti é apontada por especialistas como um dos principais fatores que contribuíram para a atual situação do país, considerado o mais pobre das Américas. Atualmente, o Haiti enfrenta uma grave crise humanitária e de segurança, com gangues controlando cerca de 85% da capital, Porto Príncipe, segundo a ONU. A violência crescente já deslocou mais de um milhão de pessoas, muitas delas crianças, e levou o governo haitiano a aprovar um orçamento de emergência para reforçar a segurança e assistência social.​

A criação da comissão franco-haitiana é vista como um passo importante para o reconhecimento das injustiças históricas sofridas pelo Haiti. No entanto, sem um compromisso claro com reparações financeiras, muitos questionam se a iniciativa será suficiente para reparar os danos causados por séculos de exploração e negligência.​

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