Floresta amazónica destruída para construção de estrada para a COP Brasil

A denúncia é feita por uma comunidade quilombola. Com cerca de 13 quilómetros de extensão, a via, de quatro faixas, atravessa áreas protegidas da floresta amazónica, incluindo o Parque Estadual do Utinga e a Área de Proteção Ambiental da cidade brasileira de Belém

Uma comunidade quilombola critica a construção de uma estrada no coração da Amazónia, que está a desmatar a floresta e a ter impactos nas comunidades, no acesso à cidade que acolherá a Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP30).

Com cerca de 13 quilómetros de extensão, a via, de quatro faixas, atravessa áreas protegidas da floresta amazónica, incluindo o Parque Estadual do Utinga e a Área de Proteção Ambiental da cidade brasileira de Belém, capital do estado do Pará, que acolherá a conferência em novembro, levantando preocupações sobre os impactos ambientais da obra.

À Lusa, Vanuza, líder espiritual do Quilombo Abacatal, que alberga 162 famílias, lembrou que este projeto rodoviário, intitulado de Avenida Liberdade, saiu o ano passado do papel depois de mais de 10 anos na gaveta e ganhou impacto internacional após uma reportagem da BBC.

O projeto passou por várias mudanças ao longo dos anos, inicialmente cortando o território ao meio, depois passando ao lado da comunidade e, atualmente, está a cerca de 1,4 quilómetros de distância, mas os impactos continuam significativos para as comunidades tradicionais.

“Todo o desmatamento causa danos, porque os poços eles secam mais, a produção diminui, o calor fica mais intenso… Antes a gente não tinha tanta quentura na comunidade como a gente vê hoje”, afirmou.

Apesar de o governo do estado brasileiro do Pará apresentar o projeto como uma solução moderna e sustentável, com ciclovias e iluminação solar, ambientalistas e moradores locais criticam a iniciativa: consideram incoerente desmatar zonas de floresta para acolher uma conferência que fala precisamente sobre as alterações climáticas e a preservação das florestas.

“A gente sempre questionou não só a proximidade da comunidade, mas toda a supressão vegetal que o projeto faria”, frisou à Lusa a líder desta comunidade que vive principalmente da agricultura familiar, produzindo açaí, cacau, cupuaçu e outras frutas regionais.

“Um dia eu passei e a floresta estava em pé. No outro, eu passei e estava completamente derrubada”, recordou Venuza, falando sobre o início da construção da estrada em meados do ano passado.

A líder espiritual destes quilombolas, como são conhecidas no Brasil as comunidades criadas por escravos que fugiam dos seus exploradores e que surgiram durante o período colonial português, denunciou ainda que o Governo regional não acatou as dúvidas e as propostas de mitigação feitas pela própria comunidade.

Além do Quilombo Abacatal, Venuza contou que pelo menos “duas comunidades bem tradicionais que estão sendo afetadas pela avenida não foram em nenhum momento ouvidas pelo Estado”.

Vanusa criticou a postura contraditória do Estado brasileiro, que promove grandes obras nas vésperas da COP 30, que se realiza em novembro e que vai acolher mais de 50 mil pessoas, enquanto afirma defender e proteger o ambiente.

“O Governo tira esse projeto da gaveta, decide construir a avenida, embora justifique que não suprimiu vegetação nenhuma, o que não é verdade, suprimiu sim”, sublinhou, criticando a construção desta estrada no coração da maior floresta tropical do mundo, “numa altura em que se discute o aquecimento global”.

“Isso é muito contraditório, porque no ano da conferência mundial do clima, chefes de Estado, alguns até querem demonstrar à sociedade que estão preocupados, [mas] querem continuar explorando, seja o minério, o garimpo ilegal, as terras, invadindo terra indígena, quilombola, construindo rodovias, portos, construindo uma série de outros empreendimentos”, disse, acusando “o Estado brasileiro e o estado do Pará de não respeitarem os povos e as comunidades tradicionais”.

“Porque se os respeitassem, fariam as consultas prévias, livres, informadas, diante de todo empreendimento e de todo projeto que fosse afetar a vida dessas comunidades”, até porque são as próprias comunidades as verdadeiras guardiãs da florestas e as que sabem realmente o que é melhor para elas, afirmou.

O Brasil preside este ano à COP30, num momento crucial para garantir medidas concretas para limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus celsius acima dos níveis pré-industriais, estabelecido no Acordo de Paris em 2015. 

O acordo prevê uma série de metas para a redução de emissões de gases com efeito de estufa, cuja implementação tem sofrido atrasos e resistências, ao mesmo tempo que o aquecimento global avança. Em janeiro, o centro europeu Copernicus informou que o ano de 2024 foi o mais quente da história e o primeiro a ultrapassar a marca de 1,5 graus celsius de aumento na temperatura média da Terra face aos níveis pré-industriais.

A COP30 no Brasil terá de resolver questões relativas ao financiamento aos países em desenvolvimento que ainda estão pendentes e que, segundo especialistas de todo o mundo, se tornarão mais difíceis já que o atual Presidente norte-americano retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris num dos primeiros atos administrativos que assinou depois da posse, como já havia feito em 2017, durante o seu primeiro mandato.

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