O Microsoft Flight Simulator 2024 está trazendo melhorias no seu mapa focado no Brasil, Suriname, Guiana e Guiana Francesa. Trazendo 75 pontos de interesse como o Cristo Redentor, os Lençóis Maranhenses, o Pantanal e a Catedral Basílica de Nossa Senhora Aparecida, o update ainda irá incorporar alguns aeroportos brasileiros feitos a mão com um detalhamento incrível.
Essas novidades foram apresentadas em um evento realizado no campo de Marte, quando foi possível testar a nova versão e ver de perto o novo avião da Embraer, o Praetor 600, que também estará disponível no simulador. Segundo Jorg Neumann, Head de Microsoft Flight Simulator, a atualização foi o resultado de um trabalho extenso de mapeamento do território brasileiro que durou cerca de um ano e meio.
Omelete: Vocês estão em parceria com a Embraer, que é uma das maiores empresas de aviação. Como isso aconteceu? E por que demorou tanto?
Jorg Neumann: Quero dizer, eu diria que, obviamente, estamos no setor de aviação, então temos interesse em ter um ótimo relacionamento com todos os fabricantes de aeronaves. Acho que com a Airbus foi relativamente fácil porque já tínhamos um relacionamento do passado. Mas com a Embraer, realmente não tínhamos contatos, então levou um tempo até conseguirmos estabelecer essa conexão. Além disso, não conhecíamos muito bem o idioma, o que foi um pequeno obstáculo.
Em 2018 foi quando tivemos as primeiras conversas, e dissemos: ‘Ei, eles acabaram de anunciar o Praetor.’ E queríamos trazer o Praetor para o Flight Simulator 2020. Mas demorou muito. Alguns fabricantes de aeronaves, olham para nós e dizem: ‘Vocês fazem brinquedos, nós fazemos aviões de verdade.’ Mas a Embraer não encarou dessa forma. Eles realmente tentaram entender o que fazemos, e nós dissemos: ‘Levamos isso a sério.’ Temos muitos pilotos na nossa equipe e queremos que os aviões funcionem exatamente como os reais. E eles gostaram dessa abordagem.
A boa notícia é que o avião que estamos fazendo com eles será muito mais preciso. Porque quando o próprio fabricante da aeronave se preocupa com a precisão da nossa representação, conseguimos um ótimo resultado. Caso contrário, às vezes é só um modelo visual e fazemos o nosso melhor com o modelo de voo, mas precisamos do feedback dos pilotos de teste e dos engenheiros. E eles estão envolvidos nisso, por isso chamamos de ‘Expert Series’. O ‘Expert Series’ é o melhor que podemos criar. São aeronaves tão próximas da realidade quanto se pode fazer em um jogo de computador.
Vocês têm intenção de trazer algumas aeronaves militares, como o Super Tucano, que também é fabricado pela Embraer?
Bom, temos algumas. Temos uma equipe da FAA, a equipe da Boeing FAA, Falcon. Temos um A-10 Warthog e um C-17 Globemaster III. Então, temos alguns aviões militares e eu gosto desse avião. Mas, sim, quero dizer, não somos um simulador militar, então nunca haverá combates ou algo do tipo. Mas isso não significa que você não possa pilotar o avião. Isso é interessante.
Percebi que você gosta muito da história da aviação. Queria saber se há planos para trazer o 14-Bis, considerando que é uma aeronave muito diferente e que não funciona como os aviões modernos.
Então, a resposta é sim. Mas a questão é quando. Na minha cabeça, eu sempre penso muito à frente. Em algum momento, haverá algo chamado ‘Edição de 50º Aniversário’.
Mas me parece o momento certo para esse projeto, porque, nessa edição, eu realmente gostaria de celebrar toda a história da aviação. Em 2004, o produto da Microsoft Flight Simulator se chamava ‘Um Século de Voo’, pois foi quando a aviação completou 100 anos. O voo dos irmãos Wright aconteceu 100 anos antes disso. Mas não sei como celebrar 150 anos, até porque provavelmente não estarei mais vivo. Mas podemos fazer essa edição de 50 anos.
E, nesta edição, queremos explorar não apenas diferentes aviões, mas também diferentes tipos de configurações. Por exemplo, o 14-Bis é uma aeronave canard. É uma configuração canard, onde você pilota de um jeito diferente, com tudo à sua frente. Eu realmente quero explorar isso, porque existem outros aviões com essa configuração, como o Beechcraft e o Piaggio 180. Acho essa configuração canard muito interessante, mas gostaria de fazer isso da maneira certa.
Tenho uma pergunta um pouco técnica para você. Você nos mostrou uma tecnologia que pode mapear as cidades e tirar fotos. Quero entender um pouco melhor: como essas fotos são transformadas em modelos 3D dentro do jogo?
Sim, então o primeiro processo envolve uma “nuvem de pontos”. O funcionamento é o seguinte: um avião sobrevoa a área e tira fotos várias vezes por segundo, além de fazer uma varredura a laser (LiDAR). A partir desse conjunto de dados, obtemos uma “nuvem de pontos”, mas muitas vezes esses pontos não estão perfeitamente alinhados, porque o avião está em movimento.
Depois, existe um software que foi desenvolvido para corrigir essas linhas e simplificar a malha 3D. Isso é importante porque, se a malha for muito complexa, prejudica o desempenho e causa vários problemas. Esse software é feito pela Baxcell, não por nós. O que acontece é que essas “nuvens de pontos” são enviadas para a Microsoft, mas não vão diretamente para o Flight Simulator — elas primeiro são processadas pelo Bing. O Bing tem um pipeline de processamento que transforma essas cidades em uma malha 3D renderizável, que pode ser visualizada no próprio Bing.
Se você acessar o Bing Maps, pode encontrar essas cidades em 3D. Depois disso, pegamos esses modelos e os incorporamos ao Flight Simulator, adicionando mais elementos, como árvores. As árvores, por exemplo, não ficam muito boas quando fotografadas de cima — parecem cortinas jogadas sobre o chão, ou algo assim. Então, temos um sistema próprio de detecção de árvores, substituímos as originais e colocamos nossas próprias árvores, o que melhora bastante o visual. Já os pontos de interesse são feitos de forma diferente. Eles são modelados manualmente por um artista, como em um jogo tradicional.
E quanto tempo levou para escanear o Brasil e todos os pontos de interesse?
O avião esteve aqui por um ano e meio. Então, instalamos a câmera no avião, voamos com ele até o Brasil e, depois, o piloto teve que esperar até que o clima estivesse bom ou até não haver nuvens. Além disso, só funciona em determinados meses, porque se o Sol estiver muito baixo, há muitas sombras. Também é necessário obter permissão do controle de tráfego aéreo. O problema é que a interseção de todas essas condições necessárias para um voo bem-sucedido é muito pequena.
É um assunto um pouco delicado, mas como foi esse primeiro mês de lançamento do jogo?
Turbulento. A história pessoal é a seguinte: todos nós moramos em Redmond e, na época, aconteceu algo chamado ‘ciclone-bomba’. Eu nunca tinha ouvido falar disso antes. Basicamente, é como se um furacão atingisse Washington, algo que nunca acontece. Enfim, tivemos um apagão que durou uma semana. No dia do lançamento, ficamos sem energia.
E então soubemos que o lançamento não estava indo bem. Estávamos todos com os celulares na mão, acompanhando a situação, enquanto a bateria dos celulares ia acabando. Foram dias bem estranhos. Eventualmente, conseguimos resolver. A Microsoft tem seu próprio gerador, então todos fomos para o escritório, algumas pessoas chegaram a dormir lá, mas conseguimos corrigir aquele problema específico.
Depois disso, acho que o grande desafio foi que o produto é tão absurdamente grande que não era possível verificar tudo antes do lançamento. Tivemos uma equipe de 100 testadores trabalhando por anos nisso, e mesmo assim não foi o suficiente.
O que realmente precisamos são dezenas de milhares de testadores. Esse processo é chamado de ‘flighting’, e é o que estamos fazendo agora. Já disse publicamente que nunca mais vou lançar um software de simulação de voo sem fazer um flighting antes, porque simplesmente não conseguimos testar tudo sozinhos. Não é possível.
E como vocês decidiram fazer uma atualização sobre o Brasil?
Isso foi fácil. Em 2020, depois do lançamento, começamos bem cedo com algo que chamamos de ‘Feedbacks’. Há duas coisas: uma chamada ‘Feedback Snapshot’ e outra chamada ‘Wishlist’. Basicamente, no nosso site, temos um sistema de votação onde as pessoas podem escrever o que quiserem e dizer ‘eu quero isso’. E nós anotamos. Publicamos essa lista toda semana.
O Brasil, acho que esteve no top 10 praticamente desde o começo. Como meu objetivo é deixar a comunidade feliz, eu sabia que precisaria fazer uma atualização do mundo para o Brasil de qualquer maneira. A questão então virou um problema operacional: como conseguir escanear essas cidades? Porque ninguém no Brasil faz esse tipo de escaneamento. Tive que contratar uma empresa americana para voar até lá com os aviões e todo o equipamento. Então, simplesmente levou tempo. Foram quase cinco anos.
Vocês têm alguma atualização futura para o Flight Simulator que possam compartilhar?
No próximo mês, teremos uma atualização de cidades, principalmente para cidades americanas. Depois, teremos uma atualização mundial para uma região da Europa que ainda não foi lançada, mas chegará ainda este ano, e assim por diante. Há muitas coisas planejadas. Posso dizer que a empresa Vexcel, que escaneou as cidades, me escreveu informando que vão escanear mais, o que é ótimo, inclusive no Brasil. Então, o futuro trará mais cidades.
E eu imagino que haverá mais aeronaves da Embraer chegando ao jogo?
Bom, eu presto muita atenção ao que a comunidade diz. E todo mundo tem pedido o Embraer e195 E2. É isso que todos querem. Ainda não nos comprometemos com isso, mas é o que a comunidade deseja.
Lançado em novembro de 2024, o Microsoft Flight Simulator está disponível para o Xbox Series X/S e para PC.
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