Umaro Sissoco Embaló completa, esta quinta-feira (27.02), cinco anos como Presidente da República da Guiné-Bissau. A oposição e a sociedade civil exigem a sua saída da presidência, cumprindo o limite constitucional do mandato presidencial de cinco anos. E por isso anunciaram paralisação geral a partir de sexta-feira (28.02). Já Umaro Sissoco Embaló, que no momento se encontra numa visita oficial à Rússia, já fez saber que deixar a presidência do país não faz parte da sua agenda.
A situação política está bastante tensa no país. As ruas de Bissau estão repletas de homens fardados e a população encontra-se em pânico e com medo do que possa acontecer a partir desta quinta-feira.
À DW, alguns cidadãos dizem-se apreensivos. “A população está bastante preocupada em relação à crise política instalada no país nos últimos tempos por causa do fim do mandato do Presidente da República”.
“Amanhã é mesmo o fim do mandato do Presidente da República. Há um confronto verbal e, obviamente, a partir de amanhã, vai haver conflito. Apelamos à intervenção da comunidade internacional porque a CEDEAO já perdeu a credibilidade”, disse outro cidadão.
Há também quem pense que nada acontecerá. “Não haverá nada no dia 27. Será um dia normal. Que cada cidadão fique na sua casa. O que nós queremos é que haja saúde e paz no país”, disse à DW outro cidadão guineense.
As duas principais coligações da oposição, Pai Terra-Ranka e API Cabas-Garandi, ameaçam paralisar todos os serviços públicos do país na sexta-feira e apelaram à adesão do povo.
Nuno Nabiam, ex-primeiro-ministro e líder da API, assegura que esta paralisação será a primeira ação contra uma eventual continuidade de Umaro Sissoco Embaló no poder.
Nabiam: “Devemos lutar para tirá-lo [do poder]”
“Nós, que lutámos para que Sissoco chegasse ao poder, devemos lutar também para tirá-lo da presidência. Por isso, pedimos à sociedade civil, partidos políticos e cidadãos que estão a passar fome, que haja uma paralisação total a partir de 28 de fevereiro. Não haverá trabalho”, apelou.
Em resposta, o Governo de iniciativa presidencial ameaçou despedir quem faltar ao trabalho na quinta e sexta-feira, alegando que não são feriados.
Para o líder da Coligação Aliança Republicana (No Kumpu Guiné), Pró-Sissoco Embaló, Lesmes Monteiro, estas declarações dos líderes da oposição não passam de tentativas de incutir medo no povo guineense.
“Não haverá nada [no dia 27]. Há uma tendência de tentar aparentar que há uma desordem ou há um risco de eclosão de algum conflito ou anarquia no país, não vai acontecer. Se Domingos Simões Pereira não é capaz nem de manter a Assembleia, como é que ele vai ocupar [a Presidência] no dia 28? Não há margem para isso”, garantiu.
Entretanto, o Ministro do Interior, Botche Candé, já́ ameaçou reprimir qualquer manifestação contra o Chefe de Estado. Em declarações aos jornalistas na última terça-feira, o secretário de Estado da Ordem Pública, José́ Carlos Macedo Monteiro, afirmou que não irão tolerar qualquer ato que vise perturbar a ordem pública no país.
Segundo José́ Carlos Macedo Monteiro, “qualquer cidadão que quiser perturbar o país, vamos responder com a mesma moeda. Tolerância zero. Ninguém deve perturbar ninguém e o país deve marchar. Não haverá nada”.
A situação está cada vez mais difícil e o consenso entre os autores políticos nacionais parece estar cada vez mais longe de ser alcançado. A Missão da Comunidade Económica dos Estados da Africa Ocidental(CEDEAO), que está no país para mediar o impasse político e ajudar a classe a encontrar consenso sobre a data da realização das eleições gerais, é acusada de estar a reunir-se apenas com os aliados do Presidente Umaro Sissoco Embaló. Observadores dizem que a missão fracassou.
Missão da CEDEAO fracassou?
Em declarações à DW, o sociólogo, Tamilton Teixeira afirma que não se vislumbra um futuro de estabilidade no país tendo em conta as atitudes e comportamentos que têm caraterizado o cenário da política guineense.
“A verdade é que chegámos a toda esta situação porque tivemos um Presidente que não defendeu a Constituição e o Estado de Direito. É assim que o país chega ao dia 27 e não se sabe como é que vai ser o resto dos outros dias, infelizmente”.
O Sindicato dos Jornalistas e Técnicos da Comunicação Social (SINJOTECS) manifestou, através de uma nota, a sua preocupação com a segurança dos jornalistas face a este contexto e solicitou ao Ministério do Interior que garanta a proteção adequada e a segurança dos profissionais de comunicação para que possam exercer as suas atividades.
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