Falha do sistema de pagamentos do BCP em Moçambique leva CEO a demitir-se

Opresidente executivo do Millennium BIM, detido em cerca de 67% pelo BCP, demitu-se depois de problemas com o sistema de pagamentos que levou o Banco de Moçambique a nomear um inspetor residente no banco moçambicano do BCP.

O Millennium BIM comunicou no dia 9 de maio a renúncia de João Cunha Martins ao cargo de presidente da Comissão Executiva, onde estava há 14 anos, justificada oficialmente “por motivos pessoais”.

João Cunha Martins sai antes do fim do mandato, deixando interinamente o lugar de CEO para Rui Maximino, actual administrador financeiro (CFO), que assumirá as responsabilidades de presidente da comissão executiva até à nomeação de um novo CEO.

O mandato da administração do Millennium BIM termina no fim de 2025, o que quer dizer que a assembleia geral eleitoral será no início de 2026.

O banco admite que já iniciou o processo de seleção de um novo presidente da comissão executiva e “está comprometido em garantir uma transição tranquila e eficiente. Durante esse período de transição”.

O CEO deixa o BIM ao fim de 14 anos. Ao longo do seu percurso profissional no banco, João Cunha Martins desempenhou não só a função de presidente da comissão executiva, mas também o cargo de administrador financeiro (CFO), e o BCP diz em comunicado que “exerceu um papel crucial na orientação estratégica do BIM”.

O banco é detido em 67% pelo BCP, mas tem também o Estado moçambicano como acionista, com 17%. Registou problemas com o sistema de pagamentos, que o supervisor bancário liderado por Rogério Zandamela, apontou como responsabilidade do próprio BIM. Aparentemente, as anomalias envolvem a nova rede interbancária em Moçambique e têm afetado vários outros bancos, motivando queixas generalizadas de clientes e empresários, por dificuldades nos pagamentos.

O Millennium BIM, o segundo maior banco de Moçambique, participado também pelo Estado, publicou este mês um pedido de desculpas aos clientes “pelas várias anomalias” na utilização dos cartões, ATM e POS “nos últimos dias”.

“O inspetor residente irá, dentre outras tarefas, monitorar o sistema de pagamentos, o modelo de negócio e a estratégia do banco, acompanhar e analisar os desenvolvimentos no sistema de gestão e de controlo interno do banco, e participar em reuniões relevantes dos órgãos colegiais”, segundo o comunicado.

“As nossas equipas têm estado a trabalhar intensamente por forma a resolver estes problemas. Neste momento a situação está normalizada e os serviços restabelecidos. Continuaremos a monitorar a situação, por forma a assegurar a disponibilidade dos mesmos”, lê-se na mesma mensagem do Millennium BIM.

Aproveitando a saída relâmpago do CEO , o Millennium BIM comunicou outra mudança que já estava em curso, a do chairman. O novo presidente não executivo é Moisés Jorge.

O Banco de Moçambique aprovou, no passado dia 9 de maio, a proposta dos acionistas do Millennium BIM de nomeação de novos órgãos sociais para o banco. Foi eleito um novo conselho de administração que será presidido por Moisés Jorge (chairman). “Moisés Jorge é um quadro superior do Millennium BIM, tendo integrado, em 1994, a equipa que viria a abrir o banco no ano seguinte. Ao longo da sua trajectória profissional, ocupou várias funções, incluindo, gestor de cliente, director comercial do Private Banking e Rede Particular, director de qualidade, director de Recursos Humanos e diretor coordenador do Corporate, antes de integrar a comissão executiva como responsável pelo negócio do Corporate, posição que desempenhava desde 2015”, lê-se no comunicado em Moçambique.

“Com os novos órgãos sociais, o Millennium BIM (…) continuará a apoiar a economia nacional, em especial as famílias e as empresas, mantendo o banco no mais elevado patamar do sistema bancário moçambicano consubstanciado nos excelentes resultados alcançados, numa robusta solvabilidade e confortável liquidez financeira”, segundo a nota oficial do banco.

O BIM está presente em todas as províncias do país e conta com uma vasta rede de balcões, e uma das maiores redes de ATM e POS de Moçambique.

O Millennium BIM obteve um resultado líquido de 22,6 milhões de euros nos primeiros três meses do ano. O resultado líquido do banco em Moçambique no primeiro trimestre foi 21,3% inferior (-6,1 milhões de euros) face ao montante apurado um ano antes, “refletindo o impacto na margem financeira do expressivo aumento do requisito local de reservas de caixa não remuneradas a manter junto do banco central”, anunciou o BCP que esta quarta-feira apresentou as contas consolidadas.

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