Expansão do comércio entre países da América do Sul terá apoio do BID, com iniciativa inspirada em projeto do Brasil
Em meio às turbulências no mapa-múndi do comércio internacional, com uma onda de novas tarifas sendo anunciadas pelo governo americano de Donald Trump, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) vai apoiar projetos de infraestrutura que possam acelerar a integração da América do Sul.
O Conexão Sul tem o objetivo de fortalecer o comércio intrarregional, superando barreiras logísticas para ampliar fluxos de bens e serviços, reduzir custos e avançar em competitividade e captação de investimento.
O programa é inspirado no Rotas de Integração Sul-Americana, tocado pelo governo brasileiro e iniciado em 2023. Ele teve aporte de R$ 4,1 bilhões do governo federal em 2024. A previsão este ano é de R$ 4,5 bilhões.
E que prevê cinco circuitos conectando o Brasil com 12 países vizinhos, com obras de construção e de melhorias de rodovias, hidrovias, pontes e outros.
- Ilha das Guianas: integrando Guiana, Suriname, Venezuela, Guiana Francesa e Roraima, Amazonas, Para e Amapá.
- Amazônica: ligando Peru, Equador e Colômbia ao Amazonas.
- Quadrante Rondon: integrando Bolívia, Peru, Chile, Acre, Rondônia, Amazonas, Pará, Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal.
- Bioceânica de Capricórnio: conectando Argentina, Chile, Paraguai, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo.
- Bioceânica do Sul: fazendo a ligação de Chile, Argentina, Uruguai, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, que participa da Reunião Anual do BID em Santiago, no Chile, onde o programa foi lançado, sublinha que o projeto, diante da incerteza trazida pelos EUA, se torna “ainda mais importante e necessário”.
A matriz de comércio exterior brasileira mudou desde os anos 2000. Lá atrás, o principal destino de bens e serviços do Brasil eram Estados Unidos, Holanda e Argentina. Ao fim de 2023, a China chegou ao topo dessa lista, seguida de EUA e Holanda, segundo estatísticas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.
— Temos 200 milhões de sul-americanos a nossa disposição, para comprar nossos produtos, ou seja, consumidores. E eles têm 200 milhões de brasileiros. Então, a gente dobra para nós e dobra para eles — diz. — Paralelamente, temos uma coisa que movimenta muito a economia e gera muito emprego: turismo. Com essas rotas, vamos conseguir atrair voos regionais.
US$ 10 bilhões em financiamento
No âmbito federal, o Rotas de Integração Sul-Americana está incluído no Novo PAC. Mas conta com US$ 10 bilhões em financiamento, sendo US$ 3 bilhões vindos do BNDES – apoiando estados e municípios dentro do Brasil – e o restante para as obras nos demais países e com recursos vindos de bancos multilaterais, incluindo o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) e o Fundo Financeiro para Desenvolvimento da Bacia do Prata (Fonplata), além do BID. Parte dos desembolsos já foi realizada.
Ilan Goldfajn, presidente no BID e ex-presidente do Banco Central do Brasil, destaca que o programa responde a uma demanda dos representantes dos países junto à instituição, voltado para a construção de um comércio regional de grande escala, integrado e que seja atraente a investidores.
“Com maior conectividade, cadeias de valor mais sólidas e marcos institucionais modernizados, o programa vai ajudar aos países da América do Sul a superar barreiras históricas e a gerar novas oportunidades”, afirmou ele, reconhecendo que o cenário atual pede o fortalecimento regional.
Na América do Sul, as transações intrarregionais representam apenas 15% do comércio internacional como um todo. É patamar similar ao da África, de 13%. Enquanto essa fatia alcança 40% na América do Norte, 58% na Ásia e chega a 62% na Europa.
Blocos regionais ganham força
O fortalecimento de blocos de comércio regionais, com a diversificação da cadeia de fornecedores de insumos e maior número de destinos para a exportação de bens e serviços, tem importância crescente num momento em Trump vem anunciando tarifas comerciais e exigências de nacionalização de produção dos mais diversos produtos e serviços.
Na Reunião Anual do BID, representantes de 11 países sul-americanos assinaram uma declaração de apoio ao novo programa, Brasil, Chile, Argentina e Colômbia, entre eles.
O plano do BID foi estruturado com foco em três pilares. Avançar nessa infraestrutura de conexão entre países é o carro-chefe, olhando para melhorias e expansão de rodovias, portos, hidrovias, redes de energia e digitais.
Essa infraestrutura vai ajudar a impulsionar cadeias de valor da região, facilitando o comércio, desenvolvendo a produção local e aumentando a inserção desses países nos demais mercados. Haverá ainda esforços na frente regulatória, com apoio a acordos comerciais e outros marcos.
O ministro da Fazenda do Chile, Mario Marcel, destacou os gargalos econômicos da América do Sul, como o custo de transporte 40% maior que o dos Estados Unidos. Ele frisou que os corredores das Rota Bioceânica, que incluem o Chile, permitirão reduzir custos de transporte, melhorar a conectividade e as transações comerciais. Isso pode ajudar a atrair investimento e fomentar inovação, abrindo camino para o esenvolvimento sustentável, disse ele.
Ainda no encontro em Santiago, o BID e o Fonplata assinaram um acordo de cooperação para trabalharem em parceria. Na prática, isso poderá se traduzir, por exemplo, no cofinanciamento de projetos na região, inclusive dentro do Conexão Sul.
*A repórter viajou a convite do BID
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