EUA e UE reafirmam compromisso com Corredor do Lobito – DW – 04/04/2025

Os Estados Unidos da América (EUA) e a União Europeia (UE), que anunciaram o compromisso mútuo de investir no Corredor do Lobito, esperam que o projeto angolano seja a rota para a prosperidade das comunidades ao redor da infraestrutura. Diplomatas dos países ocidentais, que visitaram o local, afirmaram que o Corredor do Lobito “veio para ficar”.

Ao contrário do que se especulava sobre o fim da presença dos americanos no Corredor do Lobito com a chegada de Donald Trump à Casa Branca, a Embaixada dos Estados Unidos da América em Angola e os seus parceiros da União Europeia estiveram, durante três dias, em contacto com as infraestruturas que estão a surgir ao longo da linha férrea.

Do Huambo ao Lobito, visitaram o centro de formação de maquinistas e condutores, gerido pela Lobito Atlantic Railway (LAR), consórcio que integra as empresas portuguesa Mota-Engil, a belga Vecturis e a suíça Trafigura, bem como o Projeto de Terras Raras de Longonjo. Cidadãos locais estão a ser formados e contratados para reforçar a mão de obra das empresas.

A União Europeia assinou com o governo de Angola um acordo de 43 milhões de euros para a formação profissional no corredor.

Criar emprego para a juventude

A representante da União Europeia em Angola, Rosário Bento Pais, anunciou que, dos 600 milhões de euros destinados ao Corredor do Lobito, 173 milhões serão canalizados diretamente para Angola. Segundo a diplomata, o objetivo da UE com tais financiamentos é contribuir para a diversificação económica e para a criação de emprego para a juventude.

A Europa vai atrair mais empresas, mas estas estarão obrigadas a cumprir os requisitos de responsabilidade social. De acordo com Rosário Pais, a parte social e ambiental terá o mesmo peso no desenvolvimento económico local.

“A parte social e a parte ambiental estão ao mesmo nível da económica. E nós, neste momento, mesmo as nossas empresas, a nível internacional, têm que cumprir os critérios que cumprem a nível europeu”, afirmou a representante da UE.

Angola Lobito 2025 - Rosário Bento Pais, representante da União Europeia em Angola
Rosário Bento Pais, representante da União Europeia em Angola, anunciou que, dos 600 milhões de euros destinados ao Corredor do Lobito, 173 milhões serão canalizados diretamente para AngolaFoto: Borralho Ndomba/DW

No Longonjo, província do Huambo, onde foi lançado o projeto de exploração de terras raras, 1.400 famílias foram realocadas, segundo o governador provincial, Pereira Alfredo.

A Omunga, organização de Direitos Humanos sediada em Benguela, afirma que até ao momento não há queixas sobre violações de direitos humanos ao longo do corredor.

Entretanto, o diretor executivo da ONG, João Malavindele, alerta que a implementação das infraestruturas exige diálogo constante entre autoridades e cidadãos.

“Se não houver esse nível de participação, de diálogo com as comunidades, e o governo, [de modo a que] o executivo ou a administração pública [possam] usar do seu poder de forma autoritária, é claro que pode desembocar em violações dos direitos humanos”, disse Malavindele. “Então, é importante que tudo isso seja salvaguardado, para que todos os cidadãos, sobretudo os que estão à margem do corredor, sejam envolvidos na execução dos projetos”, adiantou.

Impacto nas comunidades locais

Nelson Francisco, responsável de uma cooperativa agrícola no município de Chinjenje, no Huambo, é um exemplo do impacto positivo do Corredor do Lobito nas comunidades locais. O jovem agricultor conta que já utiliza a infraestrutura para escoar produtos como milho, feijão e mel.

“Estamos a beneficiar sim, principalmente para levar os nossos produtos para o interior do país, neste caso até Moxico e Luau e também para outros países africanos, como a Zâmbia, a RDCongo”, disse. O agricultor referiu que muitos outros países estão a beneficiar dos produtos que são produzidos pelo Corredor do Lobito.

Nelson Francisco espera que os investimentos ao longo do corredor tragam mais escolas, hospitais e estradas para as comunidades, melhorando a qualidade de vida local.

O encarregado de negócios da Embaixada dos EUA em Angola, James Story, reforçou a importância do envolvimento das comunidades. “Eu diria que não só os Estados Unidos, mas todos nós que estamos a trabalhar nessa zona do Corredor do Lobito, ou em qualquer outro lugar, devemos ter atenção às comunidades locais”, destacou. Para Story, o apoio às comunidades também constitui para elas oportunidades.

EUA comprometidos

Houve rumores de que os EUA deixariam de financiar o projeto com a liderança de Donald Trump. Mas James Story garantiu que os Estados Unidos continuam comprometidos com o projeto.

“Aliás, há muitas pessoas – não sei quem são – dizendo que os Estados Unidos estão a afastar-se deste projeto, o que não é verdade. Estamos aqui para mostrar que temos um compromisso com este projeto”, reafirmou o diplomata. “Continuaremos a trabalhar com nossos parceiros, especialmente o governo de Angola e o povo angolano, mas também com outros países”.

 Angola Lobito 2025 | Representantes dos EUA e da UE inspecionaram infraestruturas no Corredor do Lobito
Diplomatas dos países ocidentais, que visitaram o local, afirmaram que o Corredor do Lobito “veio para ficar”Foto: Borralho Ndomba/DW

A embaixadora da União Europeia acredita que os EUA não desistirão do projeto. A diplomata portuguesa Rosário Bento Pais afirma que a América já “sente os benefícios” do Corredor do Lobito, enquanto a Europa ainda aguarda por esses ganhos.

“Estamos convictos de que o Corredor do Lobito veio para ficar, e que os Estados Unidos têm interesse – e já estão a ter – alguns carregamentos de matérias-primas que vão para os EUA”, adiantou, recordando que já há circulação desses materiais críticos para os EUA. “Eles já estão a beneficiar disso, o que ainda não acontece com a União Europeia”, admitiu.

Rosário Pais acrescentou que as empresas privadas europeias estão a transportar os minerais que seguem para os EUA e para a China. “Portanto, não estou a ver desinteresse dos Estados Unidos em algo de que já estão a beneficiar”. Mas, se isso acontecer – acrescentou –, o assunto será analisado. “Não vamos deixar o Corredor do Lobito para trás. Temos essa parceria com Angola e é para continuar”, assegurou.

Financiamento alemão

O consórcio europeu Lobito Atlantic Railway (LAR) está a assegurar as operações. Em 2024, o primeiro ano de funcionamento, transportou 125 mil toneladas. A previsão para 2025 é de 400 mil toneladas, segundo o presidente do Conselho de Administração do LAR, Francisco Franca.

A Europa esteve representada por 17 embaixadores acreditados em Angola, incluindo o chefe da missão diplomática da Alemanha, Stefan Traumann, que também visitou as obras da refinaria de açúcar do Grupo Carrinho, financiada pelo Deutsche Bank em 60 milhões de euros.

O embaixador afirmou que estão previstos mais financiamentos alemães. “Temos o Deutsche Bank, mas não apenas – também o BFA, por exemplo – e ainda a garantia de crédito do governo alemão”, garantiu. “Por isso, este é um projeto especial, pois é uma parceria entre uma empresa privada angolana e o setor privado da Alemanha”, disse.

Segundo Stefan Traumann, este é um exemplo particular da aposta alemã que deseja ver concretizado com sucesso. “Estamos otimistas de que haverá mais projetos desse tipo no futuro”, concluiu. 

Corredor do Lobito: A bandeira na relação entre Angola e EUA

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