Os Estados Unidos da América (EUA) e a União Europeia (UE), que anunciaram o compromisso mútuo de investir no Corredor do Lobito, esperam que o projeto angolano seja a rota para a prosperidade das comunidades ao redor da infraestrutura. Diplomatas dos países ocidentais, que visitaram o local, afirmaram que o Corredor do Lobito “veio para ficar”.
Ao contrário do que se especulava sobre o fim da presença dos americanos no Corredor do Lobito com a chegada de Donald Trump à Casa Branca, a Embaixada dos Estados Unidos da América em Angola e os seus parceiros da União Europeia estiveram, durante três dias, em contacto com as infraestruturas que estão a surgir ao longo da linha férrea.
Do Huambo ao Lobito, visitaram o centro de formação de maquinistas e condutores, gerido pela Lobito Atlantic Railway (LAR), consórcio que integra as empresas portuguesa Mota-Engil, a belga Vecturis e a suíça Trafigura, bem como o Projeto de Terras Raras de Longonjo. Cidadãos locais estão a ser formados e contratados para reforçar a mão de obra das empresas.
A União Europeia assinou com o governo de Angola um acordo de 43 milhões de euros para a formação profissional no corredor.
Criar emprego para a juventude
A representante da União Europeia em Angola, Rosário Bento Pais, anunciou que, dos 600 milhões de euros destinados ao Corredor do Lobito, 173 milhões serão canalizados diretamente para Angola. Segundo a diplomata, o objetivo da UE com tais financiamentos é contribuir para a diversificação económica e para a criação de emprego para a juventude.
A Europa vai atrair mais empresas, mas estas estarão obrigadas a cumprir os requisitos de responsabilidade social. De acordo com Rosário Pais, a parte social e ambiental terá o mesmo peso no desenvolvimento económico local.
“A parte social e a parte ambiental estão ao mesmo nível da económica. E nós, neste momento, mesmo as nossas empresas, a nível internacional, têm que cumprir os critérios que cumprem a nível europeu”, afirmou a representante da UE.
No Longonjo, província do Huambo, onde foi lançado o projeto de exploração de terras raras, 1.400 famílias foram realocadas, segundo o governador provincial, Pereira Alfredo.
A Omunga, organização de Direitos Humanos sediada em Benguela, afirma que até ao momento não há queixas sobre violações de direitos humanos ao longo do corredor.
Entretanto, o diretor executivo da ONG, João Malavindele, alerta que a implementação das infraestruturas exige diálogo constante entre autoridades e cidadãos.
“Se não houver esse nível de participação, de diálogo com as comunidades, e o governo, [de modo a que] o executivo ou a administração pública [possam] usar do seu poder de forma autoritária, é claro que pode desembocar em violações dos direitos humanos”, disse Malavindele. “Então, é importante que tudo isso seja salvaguardado, para que todos os cidadãos, sobretudo os que estão à margem do corredor, sejam envolvidos na execução dos projetos”, adiantou.
Impacto nas comunidades locais
Nelson Francisco, responsável de uma cooperativa agrícola no município de Chinjenje, no Huambo, é um exemplo do impacto positivo do Corredor do Lobito nas comunidades locais. O jovem agricultor conta que já utiliza a infraestrutura para escoar produtos como milho, feijão e mel.
“Estamos a beneficiar sim, principalmente para levar os nossos produtos para o interior do país, neste caso até Moxico e Luau e também para outros países africanos, como a Zâmbia, a RDCongo”, disse. O agricultor referiu que muitos outros países estão a beneficiar dos produtos que são produzidos pelo Corredor do Lobito.
Nelson Francisco espera que os investimentos ao longo do corredor tragam mais escolas, hospitais e estradas para as comunidades, melhorando a qualidade de vida local.
O encarregado de negócios da Embaixada dos EUA em Angola, James Story, reforçou a importância do envolvimento das comunidades. “Eu diria que não só os Estados Unidos, mas todos nós que estamos a trabalhar nessa zona do Corredor do Lobito, ou em qualquer outro lugar, devemos ter atenção às comunidades locais”, destacou. Para Story, o apoio às comunidades também constitui para elas oportunidades.
EUA comprometidos
Houve rumores de que os EUA deixariam de financiar o projeto com a liderança de Donald Trump. Mas James Story garantiu que os Estados Unidos continuam comprometidos com o projeto.
“Aliás, há muitas pessoas – não sei quem são – dizendo que os Estados Unidos estão a afastar-se deste projeto, o que não é verdade. Estamos aqui para mostrar que temos um compromisso com este projeto”, reafirmou o diplomata. “Continuaremos a trabalhar com nossos parceiros, especialmente o governo de Angola e o povo angolano, mas também com outros países”.
A embaixadora da União Europeia acredita que os EUA não desistirão do projeto. A diplomata portuguesa Rosário Bento Pais afirma que a América já “sente os benefícios” do Corredor do Lobito, enquanto a Europa ainda aguarda por esses ganhos.
“Estamos convictos de que o Corredor do Lobito veio para ficar, e que os Estados Unidos têm interesse – e já estão a ter – alguns carregamentos de matérias-primas que vão para os EUA”, adiantou, recordando que já há circulação desses materiais críticos para os EUA. “Eles já estão a beneficiar disso, o que ainda não acontece com a União Europeia”, admitiu.
Rosário Pais acrescentou que as empresas privadas europeias estão a transportar os minerais que seguem para os EUA e para a China. “Portanto, não estou a ver desinteresse dos Estados Unidos em algo de que já estão a beneficiar”. Mas, se isso acontecer – acrescentou –, o assunto será analisado. “Não vamos deixar o Corredor do Lobito para trás. Temos essa parceria com Angola e é para continuar”, assegurou.
Financiamento alemão
O consórcio europeu Lobito Atlantic Railway (LAR) está a assegurar as operações. Em 2024, o primeiro ano de funcionamento, transportou 125 mil toneladas. A previsão para 2025 é de 400 mil toneladas, segundo o presidente do Conselho de Administração do LAR, Francisco Franca.
A Europa esteve representada por 17 embaixadores acreditados em Angola, incluindo o chefe da missão diplomática da Alemanha, Stefan Traumann, que também visitou as obras da refinaria de açúcar do Grupo Carrinho, financiada pelo Deutsche Bank em 60 milhões de euros.
O embaixador afirmou que estão previstos mais financiamentos alemães. “Temos o Deutsche Bank, mas não apenas – também o BFA, por exemplo – e ainda a garantia de crédito do governo alemão”, garantiu. “Por isso, este é um projeto especial, pois é uma parceria entre uma empresa privada angolana e o setor privado da Alemanha”, disse.
Segundo Stefan Traumann, este é um exemplo particular da aposta alemã que deseja ver concretizado com sucesso. “Estamos otimistas de que haverá mais projetos desse tipo no futuro”, concluiu.
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