Os Estados Unidos cancelaram programas de apoio a ativistas de oposição, presos políticos e grupos religiosos em Cuba, Nicarágua e Venezuela. Uma análise do Departamento de Estado concluiu que esses programas não estavam alinhados com as prioridades das agências e não eram do “interesse nacional”.
Com isso, só a imprensa de oposição em Cuba, chamada de “imprensa independente”, perdeu uma subvenção de US$ 1,5 milhões. Uma postagem na conta de Resposta Rápida da Casa Branca no X, citou esse como um exemplo dos “programas ridículos” que foram cortados.
Apenas três dos 95 programas administrados pelo Instituto Republicano Internacional (IRI) não foram cancelados, mas estão pausados por 90 dias até a conclusão da sua avaliação. Esses programas eram financiados pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). Os três que foram mantidos estão focados no apoio à oposição venezuelana.
Outros 175 programas do IRI estão em situação incerta já que dependem de fundos do Congresso para a Fundação Nacional para a Democracia (NED), que também teve suas verbas congeladas. A situação é a mesma no Instituto Nacional Democrata, (NDI, da sigla em inglês) que também depende de verbas da USAID. Dos quase cem programas que mantinha só um permanece, também com foco na Venezuela. A maioria dos funcionários de todos os organismos norte-americanos que trabalhavam com esse tipo de programas foi colocada sob licença administrativa.
Republicanos não vêm resultados no apoio à oposição
Em uma audiência no Senado, republicanos argumentaram que não tem sentido manter programas dirigidos a mudar o regime nesses países se isso não acontece. “Meu problema é que não nosso dizer na Flórida: ’Estou entusiasmado com o dinheiro que gastamos em ajuda externa porque algo pode acontecer. Vejamos, o regime de Castro ainda controla Cuba, a Venezuela acabou de roubar outra eleição e Ortega está ficando mais forte na Nicarágua”, disse o senador Rick Scott.
Há décadas, programas de ‘promoção da democracia’, ou seja, de financiamento à oposição em países com regimes contrários aos interesses americanos osão elemento importante da política externa desse país. Da mesma forma, o financiamento à mídia.

Nos últimos vinte anos, a USAID investiu bilhões de dólares em organizações não governamentais e veículos de comunicação para moldar narrativas acordes com os seus interesses em regiões estratégicas. Tudo sob a fachada de luta contra a censura e apoio à liberdade de imprensa e à mídia “independente”. É o que mostra uma reportagem da TelesurTV.
De acordo com um relatório da USAID, desde 2010, US$ 3,2 bilhões foram destinados pela agência a programas de “fortalecimento mediático” em 70 países, com ênfase no leste europeu, América Latina e África. Em todos os casos, o financiamento à ONGs como Internews, International Center for Journalists ou Freedom House ocorrem para defender os países de “regimes autoritários”.

O senador republicano Rick Scott defende o fim do financiamento à oposição em Cuba, Venezuela e Nicaragua por ineficiente
20 anos financiando os veículos para controlar a narrativa
Mas só recebem apoio os veículos alinhados com as prioridades da política externa norte-americana. Dessa forma, o jornal nicaraguense Confidencial, que deu ampla cobertura aos protestos de 2018, apresentando-o como luta pela “mudança de regime”, recebeu amplo financiamento.
Na Venezuela, ao menos uma dúzia de veículos de comunicação recebem apoio da USAID para criticar o governo. Muitos — como NTN24 Venezuela, Caraota Digital e ViviPlay — estão sediados na Colômbia, Espanha ou Estados Unidos. Sua cobertura se foca na “crise humanitária” e “repressão política”, mas quase não mencionam as consequências das sanções impostas pelos Estados Unidos. Idem nos veículos de Cuba., onde até o apagão recente chegou a ser apresentado como consequência de má gestão e não do bloqueio.
O relatório da USAID vazado pelo WikeLeaks mostra que a entidade treinou 12 mil jornalistas a cada ano em “padrões éticos e técnicas inovadoras”. Ao menos 30 veículos de mídia digital e organizações jornalísticas em países como Colômbia, Venezuela, Nicarágua, Cuba e México receberam fundos da USAID entre 2020 e 2024. Não foi por acaso que a Venezuela acusou a USAID de apoiar a tentativa de golpe da extrema direita. Notícias positivas sobre esse país raramente saem na imprensa.
Na Ucrânia, a USAID investiu US$ 15 milhões no projeto Media Deep Dive (2021-2023) focado em “desmentir propaganda russa”. O projeto excluiu todos os meios que denunciaram o histórico de corrupção do governo ucraniano ou os interesses da indústria armamentista dos EUA na guerra.
USAID financiava ONGs mediáticas em mais de 30 países
O subsídio dos EUA à mídia ucraniana é anterior à guerra, mas se intensificou a partir dela ela. Hoje, segundo a reportagem da TeleSURtv, 90% das notícias procedentes da Ucrânia estão sob influência desse financiamento.
O relatório da USAID vazado menciona “repressão” a jornalistas na Venezuela, China e Rússia, mas omite completamente os abusos e a falta de liberdade de imprensa em países aliados como Israel, Arábia Saudita ou Colômbia. Da mesma forma, veículos financiados pela USAID jamais investigam assuntos que não interessam aos Estados Unidos, como a base militar de Guantánamo (Cuba) ou a de Okinawa (Japão) ou o impacto da extração de lítio na Argentina por empresas estadunidenses.
A USAID, segundo seu próprio relatório, financia mais de 6.200 jornalistas em 707 veículos e 279 ONGs mediáticas em mais de 30 países. Para 2025, o Congresso havia destinado US$ 268,3 milhões a “veículos independentes”. Inclusive empresas como Associated Press, BBC e New York Times figuravam entre os beneficiários.
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