Manter um estilo de vida saudável, tanto antes quanto após o diagnóstico de câncer, pode reduzir em até 33% as chances de morte prematura entre os pacientes. O estudo, publicado na revista Journal of the National Cancer Institute (JNCI), foi conduzido com dados de participantes do estudo Cancer Prevention Study-II Nutrition Cohort, que foram diagnosticados com tumores relacionados à obesidade entre 1992 e 2002 e monitorados até 2020.
Em 2022, a Sociedade Americana de Câncer (ACS) atualizou suas diretrizes de nutrição e atividade física para sobreviventes de tumores, recomendando que eles evitem a obesidade, mantenham-se fisicamente ativos, sigam uma alimentação saudável e limitem o consumo de álcool. Agora, uma nova pesquisa realizada por cientistas da ACS sugere que adotar essas práticas está diretamente relacionado a um menor risco de mortalidade para esses pacientes, especialmente entre aqueles diagnosticados com carcinomas relacionados à obesidade.
Segundo a pesquisa, as diretrizes abordam quatro fatores principais de estilo de vida: índice de massa corporal (IMC), atividade física, dieta e consumo de álcool. A adesão a essas recomendações foi avaliada em uma escala de 0 a 8, sendo que uma pontuação mais alta refletia um estilo de vida mais saudável.
Achados
Os resultados indicam que os pacientes com pontuações de 6 a 8 apresentaram uma redução de 24% no risco de morte por todas as causas, 33% no risco de morte por doenças cardiovasculares e 21% no risco de falecer em razão de câncer, em comparação com aqueles com pontuações mais baixas, 0 a 3.
O estudo seguiu 3.742 pessoas que se recuperaram da doença, com idade média de 67,6 anos, e os acompanhou por uma média de 15,6 anos. Durante esse período, 2.430 voluntários morreram. A análise mostrou que aqueles que mantiveram um estilo de vida saudável ao longo de toda a sua jornada, ou que melhoraram os hábitos após o diagnóstico, tiveram uma sobrevida significativamente maior.
De acordo com Ying Wang, cientista principal e autora sênior da pesquisa epidemiológica da American Cancer Society e autora principal do estudo, o diagnóstico de câncer costuma motivar as pessoas a refletirem sobre como podem melhorar a própria saúde e a qualidade de vida. “Essas descobertas reforçam como escolhas de estilo de vida, como a prática de exercícios, uma dieta equilibrada e a manutenção de um peso saudável, têm um impacto direto na sobrevivência ao câncer”, destacou.
A pesquisa também evidenciou que o IMC e a atividade física são particularmente importantes na redução do risco de mortalidade. Pacientes que seguiram com consistência as diretrizes da ACS, com uma pontuação alta, acima de 5, antes e depois do diagnóstico, tiveram uma mortalidade mais baixa por todas as causas, incluindo doenças cardiovasculares, quando comparados àqueles que ficaram em uma categoria inferior.
Conforme Caetano da Silva Cardial, mastologista e cirurgião oncológico da Clínica Terra Cardial, o mais importante é que o paciente entenda que, embora o diagnóstico de câncer seja assustador, muitos tumores são tratáveis e curáveis. “A mudança no estilo de vida é crucial, pois, muitas vezes, nosso estilo de vida pode ter contribuído para o aparecimento do câncer. Para controlar a doença, é necessário melhorar a alimentação, praticar exercícios físicos e cuidar do estado emocional.”
“No mundo moderno, o sedentarismo está cada vez mais presente. Antigamente, as pessoas se levantavam para realizar tarefas simples, como atender ao telefone ou mudar o canal da TV. Hoje, tudo é feito de forma mais prática, mas isso contribui para o aumento da obesidade, que é uma epidemia. O sedentarismo e a obesidade aumentam o risco de câncer, e pacientes tratados que mantêm esse estilo de vida sedentário têm maior risco de recidiva”, acrescentou Cardial.
Os dados demonstraram ainda que, em relação à mortalidade cardiovascular, a prática regular de atividade física e o controle do peso foram fatores determinantes na redução do risco. O estudo também reforça a importância da dieta saudável, que inclui o consumo adequado de frutas, vegetais e alimentos ricos em nutrientes, além da restrição de álcool.
Segundo Hélio Borges, oncologista clínico e coordenador do serviço de oncologia do Hospital Anchieta, em Brasília, embora o estudo tenha excluído fumantes, é importante lembrar que a cessação do tabagismo é uma das medidas mais importantes na sobrevivência ao câncer. “Além disso, aspectos como saúde mental, manejo do estresse e qualidade do sono também devem ser considerados na abordagem integral do paciente”, disse.
O especialista acrescentou que: “A boa notícia é que nunca é tarde para mudar. Pacientes que melhoraram seu estilo de vida após o diagnóstico — mesmo que não tivessem hábitos saudáveis antes — também apresentaram redução significativa no risco de morte. Isso reforça o papel do oncologista e da equipe multidisciplinar em incentivar essas mudanças como parte do plano terapêutico”.
Além do consultório
Para os pesquisadores, esses achados reforçam a mensagem de que um estilo de vida saudável não só previne o desenvolvimento de várias doenças, mas também desempenha um papel crucial no aumento da sobrevida de quem já tratou um câncer. Eles ressaltam a importância de mudanças comportamentais que possam ser adotadas não somente após o diagnóstico, mas como parte de um compromisso com a saúde ao longo de toda a vida.
Segundo os cientistas, essas evidências podem servir de guia para políticas de saúde pública, orientações clínicas e programas de suporte a quem teve tumores, com o objetivo de ajudá-los a adotar hábitos saudáveis que melhoram a qualidade de vida. Para os pesquisadores, o estudo mostra ainda que, após o diagnóstico, pacientes não estão somente limitados ao tratamento médico.
Múltiplos fatores
“É muito importante destacar que todos os sobreviventes de câncer são incentivados a atingir e manter o IMC entre 18,5 e 24,9. Sabemos que a obesidade, com o IMC acima de 30, está relacionada a um maior risco de recaída, maior mortalidade pelo câncer e geral. A prática de atividade física também reduz a mortalidade por doenças cardiovasculares, melhora as toxicidades do tratamento e minimiza as recaídas. Outras questões relacionadas ao estilo de vida incluem a interrupção de qualquer tipo de tabagismo. Ele aumenta o risco de recaída, eleva a incidência de outros tipos de câncer e aumenta a mortalidade por diversas causas. A vacinação também é importante. Além disso, é necessário estimular um sono adequado e repousante, além de um bom gerenciamento do estresse, pois esses fatores impactam na qualidade de vida.”
Daniele Assad, oncologista clínica do Hospital Sírio-Libanês, em Brasília

Isabella Almeida
Repórter
Goiana, mora em Brasília desde 2018. Formada em jornalismo pela Universidade de Brasília (UnB). Especialista em publicações de saúde e ciência.
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