Estão os portugueses preparados para conduzir um carro autónomo? Ou ter um robô humanoide? Estudo revela relação ‘desconfiada’ com as novas tecnologias
Os portugueses estão divididos quanto à evolução da tecnologia, em particular a dos carros autónomos. Esta é a conclusão do estudo quantitativo abrangente da empresa portuguesa de estudos de mercado Netsonda, encomendado pela DE-CIX, o principal operador mundial de Internet Exchange (IX), que mostrou a complexa relação da população portuguesa com a Inteligência Artificial – em particular o ceticismo significativo sobre veículos a ‘andarem sozinhos’ nas estradas.
Questionados sobre os carros autónomos, em particular sobre esta tecnologia, 39% dos inquiridos revelaram perceções negativas e os sentimentos mais comuns foram “falta de segurança”, “inseguro”, “perigoso”, “sou contra” e “não é fiável”. No entanto, e muito perto, 36% dos inquiridos manifestaram perceções positivas, sendo as menções mais comuns: “progresso”, “útil” e “prevenção de acidentes”.
Num ponto quase todos concordam: 76% dos portugueses inquiridos acreditam que os carros autónomos precisam de ser testados e devidamente regulamentados. E em termos de perceções sobre a segurança e fiabilidade dos carros autónomos, há uma diferença de género notável: as mulheres preocupam-se mais com o desempenho destes carros em situações imprevisíveis (69%), enquanto que os homens tendem a confiar mais nos carros autónomos. Apenas 62% estão preocupados com questões de segurança.
Ao dia de hoje e, apesar de afirmarem que são necessários mais testes e regulamentos, quase 4 em cada 10 inquiridos consideram a utilização de carros autónomos para as suas deslocações diárias, sendo que as mulheres (31%) estão menos confiantes do que os homens (41%). As respostas mais comuns para uma utilização de um carro autónomo foram: menos stress e fadiga ao conduzir (66%), tempos de deslocação mais rápidos devido a percursos otimizados (49%) e a capacidade de realizar multitarefas ou trabalhar durante o percurso (47%). Pelo contrário, as respostas mais comuns para a não utilização de um carro autónomo foram a incerteza sobre a forma como lida com situações imprevisíveis (60%), o medo de falha ou avaria da tecnologia (56%) e as preocupações de segurança (55%).
Portugueses divididos na avaliação de robôs humanoides
A presença de robôs humanoides em casa também divide os portugueses. Quando questionados sobre o que pensam sobre estes robôs, as menções negativas obtiveram 55% das respostas e 36% disseram que não gostam e são contra os robôs humanoides em casa. As menções positivas obtiveram 42% das respostas dos inquiridos, mostrando mais uma vez a divisão da população. E 16% consideram que estes robôs ajudam os humanos e reduzem o esforço.
Devido a esta divisão, não é de estranhar que os portugueses também mostrem algumas dúvidas sobre a confiança na IA para tomar decisões em situações críticas (36% afirmaram que não se pode confiar na IA nestes casos). E aqui também há alguma diferença em relação ao género, com os homens (40%) a confiarem mais na IA do que as mulheres (32%).
Quando analisámos as razões para considerar a IA confiável nas aplicações avançadas, as principais razões apontadas centram-se no facto de a IA analisar os dados mais rapidamente do que os humanos (71%), a capacidade da IA processar dados em tempo real instantaneamente (64%) e o seu treino em grandes quantidades de informação (60%). Por outro lado, a sua incapacidade para lidar com emoções ou necessidades complexas (59%), seguida pela falta de intuição humana (57%) e pelas potenciais falhas nos algoritmos (54%) foram elencadas como as principais razões para não considerarem a IA fiável neste tipo de aplicações.
“O estudo demonstra claramente que, embora a IA esteja a tornar-se mais comum em Portugal, o público tem opiniões diversas e, muitas vezes, cautelosas sobre as suas formas mais avançadas e autónomas. Além da construção de uma infraestrutura digital para suportar aplicações de IA de todos os tipos, a eliminação das preocupações relacionadas com a segurança e a fiabilidade da tomada de decisões em IA serão cruciais para a sua futura aceitação e integração na sociedade”, conclui Ivo Ivanov.
IA? O que é?
O género também tem impacto na perceção positiva ou negativa da IA: de acordo com o estudo, 99% dos portugueses já ouviram falar de IA, mas cerca de 3 em cada 10 inquiridos que mencionam já terem ouvido falar de IA associam-na apenas à Inteligência Artificial, sem grandes especificações. A principal resposta (21%), quando questionados sobre a definição de IA, foi que é uma ferramenta facilitadora e rápida que ajuda na vida diária.
O estudo mostra que 76% dos portugueses já utilizaram alguma ferramenta ou serviço de IA e que existem algumas diferenças significativas em função das faixas etárias. Os jovens (18 a 24 anos) utilizam muito mais (93%) do que aqueles com idades compreendidas entre os 55 e os 64 anos, onde 65% já utilizaram uma ferramenta ou serviço que envolve IA. O ChatGPT provou claramente ser a ferramenta de IA mais popular, utilizada por 73% dos inquiridos, seguida pelo Gemini com 12%.
3 em cada 4 inquiridos (75%) acreditam que a IA é utilizada no marketing e publicidade (75%) e no serviço ao cliente (73%), sendo estas as áreas mais mencionadas. Seguem-se o entretenimento (68%) e a cibersegurança (67%). Embora a IA esteja a tornar-se muito mais comum, com os inquiridos a considerá-la relevante para a maioria das indústrias e setores, a utilização no setor dos transportes foi a menos referida, com apenas 37%.
Com a IA a avançar rapidamente e a tornar-se cada vez mais integrada na ciência, tecnologia, negócios e vida quotidiana das pessoas, é crucial que os pioneiros, programadores e facilitadores de IA levem em consideração e compreendam a perceção pública sobre a IA. Este estudo proporciona informações valiosas sobre as atitudes das pessoas em relação à tecnologia e a necessidade de uma IA responsável. Para colher os frutos das oportunidades que a IA representa, as empresas terão de garantir a transparência, a segurança e a proteção dos dados para conquistar a confiança dos utilizadores. Com isto em prática, a IA tem o potencial de ajudar a resolver alguns dos maiores desafios do mundo nos próximos anos”, afirma Ivo Ivanov, CEO da DE-CIX.
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