O representante do Conselho das Autoridades Tradicionais da Organização Pan-Aficana para o Desenvolvimento Económico, Social e Sustentável de África – OPDSSA, Tshabuta André, considerou, em entrevista, estragado o poder tradicional angolano pelo facto de o país ter muitos reis, durante o acto da 2.ª Sessão Ordinária da Assembleia Geral realizada a 24 de Maio, no auditório do Instituto Geológico de Angola, na Centralidade do Kilamba, em Luanda.
Por Berlantino Dário
Segundo o representante da OPDSSA em Angola e residente na província da Lunda Norte, afirmou aos microfones do Folha 8 que o povo angolano é muito ofendido por não ter uma entidade tradicional como pai biológico e que por existirem muitas autoridades e muitos que se consideram como reis.
“O nosso poder estragou! Há muitos reis. Vamos ver do lado do governo moderno – tem um único Presidente, mas no governo tradicional, tem muitos reis. Quem é o pai biológico? Queremos saber quem é o pai biológico que pode bater peito pelo povo angolano!”, desafiou.
Desafiado a comentar sobre a união dos reis em Angola, Tshabuta negou, alegando não querer ouvir falar de muitos reis, por não saber da proveniência nem dos seus reinados, porque, segundo conta, – “de 1911 até 1920, não existiam esses reis todos”.
Para o representante das entidades tradicionais da organização pan-africana em Angola, considera que o reinado surge a partir de 1960 a 1961 – Baixa de Cassanje. “Mas, antes da Baixa de Cassanje, existia autoridade tradicional, existia poder tradicional. É onde estou a falar que em Angola, vamos procurar saber quem foi líder tradicional para ficar como nosso pai tradicional e que pode bater peito pela causa do povo”.
Alertou, por outro lado, aos professores em particular, a pautarem por um ensino melhor da história dos reis em Angola e que não associem o heroísmo ao reinado. Ou seja, uma coisa é ser herói, a título de exemplo, como é o caso de Ngola Kiluanji, Nzinga Mbandi, Mandume Ya-ndemufayo, só para citar, outra é ser rei – “Não são reis, mas são heróis guerreiros! Essa gente são heróis guerreiros. E eu falo e repito a todos: tirem esse nome, procuram nos mostrar quem foi líder tradicional em Angola. Não queremos ouvir falar de tantos reis em Angola, porque o país é único. Tem um único Presidente, tem que ter também um rei do nosso país”.
Com objectivo de unir esforços e estratégias comuns de encontrar mecanismos sustentáveis para o desenvolvimento económico, social e sustentável do continente berço, um dos elementos da 2.ª Sessão Ordinária da Assembleia Continental da organização, Tshabuta apela à união de África, em particular Angola antes de dar passos além-fronteira e fortalecer a União Africana como uma verdadeira instituição de união para o continente.
“O que eu ouvi aqui hoje, nesta sentada, é para unir a África. A África tem que ser unida. União de África. Eu gosto muito da União Africana. Mas eu me pergunto várias vezes: África é unida? E nós angolanos somos unidos? Antes de ir longe, os angolanos têm que ser unidos”, apelou, pedindo, na ocasião, a todos os reis, regedores, sobas para que cada um traga a sua linhagem e trabalharem em prol da unificação do país e da África, no geral.
“Nós queremos trabalhar com identidade tradicional da linhagem. Então, vamos nos unir, vamos fazer uma boa coisa para conseguir levantar a África. E essa mensagem não vem só para Angola, mas para toda a África onde há desorganização como Angola. A mensagem é para toda África”, considerou.
Entretanto, para que a África resgate a sua hegemonia, o continente tem de eleger um rei para cada país, unirem-se e fazer os rituais para que o povo africano não venha a ser traído por outros povos africanos através dos europeus e americanos que fazem sofrer há muitos e longos anos, impedindo, desta feita, o desenvolvimento de África e dos africanos – “então, se nós chegarmos nesse sentido, África, acho que vamos vencer. Acho que a África vai retomar o seu nome de Berço da Humanidade”, considerou Tshabuta André, representante do Conselho das Autoridades Tradicionais da OPDSSA-ÁFRICA em Angola.
O certame que contou com a presença de distintos membros de blocos regionais em África, representantes da União Africana, das Nações Unidas, União Europeia, representantes de Moçambique, Congo Brazzaville, RDC, Etiópia, Cabo Verde, e representantes de corpo diplomático acreditado na República de Angola e de autoridade tradicional serviu também de apresentação do presidente da organização em Angola, Antunes Paulo Monteiro, que após a tomada de posse falou ao Folha 8 que a missão será dar sequência dos objectivos do programa da OPDSSA-ÁFRICA que é desenvolver o continente e os africanos.
Afirmou igualmente que a representação da organização já atingiu, aproximadamente 45% dos países africanos – “Estamos agora a levar uma política de que essas organizações representadas devem estar legais junto das instituições competentes do Estado daqueles países”.
Salientar que Organização Pan-Africana para o Desenvolvimento Económico, Social e Sustentável de África (OPDSSA-ÁFRICA), foi criada a 25 de Maio de 2021, em Addis-Abeba, Etiópia, em alusão ao aniversário da União Africana, é a associação que nasce da iniciativa de um grupo de estudantes de vários países africanos formados na República de Cuba, cujo foco é a criação de iniciativas que venham a beneficiar os países africanos, ou seja, ajudar os governos na criação de oportunidades e condições em prol dos africanos.
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