“Há taxas de juros elevadíssimas e excesso de burocracia para quem quer começar uma atividade”, diz à Lusa o vice-presidente da Câmara de Comércio Moçambique-Portugal, Paulo Oliveira, à margem da XIX Conferência Anual do Setor Privado (CASP), que decorreu esta semana em Maputo.
Ainda entre os constrangimentos para investir no país, destaca a corrupção e morosidade nos processos judiciais, defendendo por isso uma dinâmica e celeridade na Justiça que dê garantias aos empresários, não só portugueses.
Ainda assim, e apesar das dificuldades apontadas, Paulo Oliveira afirma que o país é fértil para investimentos e necessidades de vários tipos de serviços, em que Portugal pode ser a porta de entrada para Moçambique explorar o mercado europeu.
“Temos que olhar Portugal como entrada para o mercado europeu (…). Mas as empresas portuguesas quando olharem para nós não podem só ver 30 milhões de potenciais compradores, têm que olhar para o bloco onde estamos inseridos que é da SADC [comunidade dos países da África austral], com potencial muito grande”, diz o vice-presidente da Câmara de Comércio Moçambique-Portugal.
Apesar de já existir um mercado importante de trocas comerciais entre os dois países, Oliveira assume que o volume de negócios tem vindo a cair desde 2021, por causa dos ciclones, insurgência armada em Cabo Delgado e a pandemia da covid-19.
“Isto tem efeito na economia e o poder de compra baixou. É de notar que o investimento estrangeiro direto no país baixou e reduziram-se as importações que temos vindo a fazer de Portugal”, assinala.
A Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) reconheceu em abril passado que as exportações moçambicanas para Portugal estão em queda, tendo em conta que há dez anos valiam pouco mais de 100 milhões dólares (92 milhões de euros) para Portugal, cinco vezes mais do que exportam atualmente, enquanto as importações caíram para metade no mesmo período.
Luís Miguel, presidente do conselho da administração (PCA) da Adicional Moçambique, empresa do ramo de logística com capital português a operar no país há 11 anos, reconhece à Lusa a expetativa de aumentar o valor de importações de Portugal.
“Ao contrário do que se passa noutras geografias, o problema não está relacionado com falta de oportunidades em Moçambique, até há excesso”, afirma, apontando a necessidade de mais empresas que auxiliem na cadeia de valor: “Para que não tenhamos que fazer tudo”.
“Moçambique é fértil em oportunidades. Os investidores devem vir com maturidade e plano de investimento de longo prazo. As coisas não funcionam se vierem sem vontade de querer aprender”, acrescenta.
No ramo da logística, em que atua, com 90 trabalhadores e armazéns em todas as províncias, tem enfrentado desafios pela insuficiente infraestrutura ferroportuária e degradação das principais estradas, dificultando a circulação de mercadorias.
“Fazer a logística é um grande desafio, o país é enorme. Se pensarmos em transpor o território de Moçambique, com 2.500 de quilómetros quadrados, para a Europa, estaríamos a falar de uma distância de Lisboa a Varsóvia […]. Precisamos que as estradas funcionem”, reconhece.
“Vamos ouvindo falar de linhas de financiamento (…). Não recorremos à banca e neste momento achamos que é difícil. Se pudéssemos ter acesso a mais recursos com taxas bonificadas iríamos aproveitar para acelerar o nosso crescimento”, diz.
Para o presidente do conselho de administração da portuguesa Sumol+Compal, Fernando Oliveira, com 150 trabalhadores em Moçambique e um capital de 11 milhões de euros, o financiamento “é das grandes dificuldades”.
“Porque as taxas de juro são bastante altas. Portanto, é preciso que os investidores tragam o seu capital para investir em Moçambique”, diz.
A operar em Moçambique há 11 anos, refere que há oportunidades de negócio, mas alerta: “O mercado é atrativo, mas não venham à procura de resultados rápidos”.
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