Em Moçambique “há mais problemas do que oportunidades” para os jovens


O relatório elaborado anualmente pelo FNUAP (Fundo das Nações Unidas para a População) analisa alguns dos “paradoxos” visíveis na população mundial através de “histórias pessoais”.


Para a edição deste ano, o FNUAP escolheu fazer trabalho de campo em nove países — China, Egito, Etiópia, Finlândia, Índia, México, Moçambique, Nigéria e Antiga República Jugoslava da Macedónia — que considera estarem a enfrentar “diversos desafios demográficos, que vão desde o envelhecimento de populações até as altas taxas de fecundidade, da urbanização ao surgimento de novas gerações de jovens”.


Em Moçambique, onde quase metade da população “tem 24 anos ou menos”, urge lidar com uma juventude que vive com “mais problemas do que oportunidades”, como resume o estudante universitário Rui Pedro Cossa. Citado no relatório, o jovem reconhece: “É difícil ser jovem em Moçambique”.


Fernanda Manhique, também estudante, concorda que as perspetivas de emprego para os jovens são “difíceis”. E o FNUAP alerta que “por mais difícil que agora possa ser para Cossa e Manhique encontrar um emprego (…), futuramente a situação pode tornar-se ainda pior para os que procuram emprego sem educação superior”.


A desigualdade de género é outro dos obstáculos ao desenvolvimento de Moçambique, onde o casamento precoce, a poligamia (que afeta “cerca de uma em cada quatro mulheres”) e a violência doméstica persistem, assinala o FNUAP.


O casamento antes de tempo “frequentemente acarreta gravidezes precoces e numerosas”, realça o relatório, que cita o Instituto Nacional de Estatística de Moçambique para recordar que “mais de metade das mulheres entre os 20 e os 49 anos afirmam ter sido casadas antes dos 18 e cerca de uma em cinco antes dos 15”.


No ranking dos 169 países no Índice de Desigualdade de Género, Moçambique ocupa o 111.º lugar.


Em Moçambique, “as elevadas taxas de fecundidade são uma questão de saúde pública”, particularmente para as mães, “que não mantêm, no mínimo, dois anos de intervalo entre gravidezes”, diz Leonardo Chavane, do Ministério da Saúde moçambicano.


Elisio Nhantumbo, do Ministério de Desenvolvimento e Planeamento de Moçambique, também vê a elevada taxa de fecundidade como uma “questão preocupante”, porque o Estado não consegue “fornecer bens, serviços e oportunidades” a par com o crescimento populacional, “especialmente para a população jovem, em rápida expansão” — cerca de 300 mil jovens “entram no mercado de trabalho a cada ano”.


O relatório do FNUAP destaca como exemplo positivo o programa Geração Biz, através do qual três ministérios (Saúde, Educação e Juventude e Desporto) “fornecem conjuntamente serviços de atendimento à saúde sexual e reprodutiva voltados para a juventude”.


O Geração Biz visa reduzir a incidência da gravidez precoce e prevenir o HIV/sida e outras doenças sexualmente transmissíveis entre os adolescentes, contando com o apoio de organizações não governamentais e de organizações internacionais como o FNUAP, e o apoio financeiro de Dinamarca, Noruega e Suécia.


O FNUAP elogia o Geração Biz por estar a romper “a barreira do silêncio” da juventude. “Tradicionalmente, é tabu discutir saúde sexual com adolescentes”, diz Julião Matsinhe, consultor do FNUAP em Moçambique, apontando o exemplo “mais catastrófico” desta “falta de informação”: a taxa de infeção por HIV/sida.


Moçambique está entre os dez países com pior registo neste indicador, com 11,5 por cento da população entre os 15 e os 49 anos infetada.

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