O governo angolano, apoiado pela maioria parlamentar do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), propõe, entre outros aspetos, a eliminação das atas-síntese nas assembleias de votos e a introdução das mesas móveis.
A oposição, liderada pela União Nacional Para a Independência Total de Angola (UNITA), discorda dessas medidas e defende a reintegração dos centros de escrutínios provinciais.
Perante o impasse político, surgem vozes que defendem a necessidade de um “pacto de regime” entre as principais forças políticas com assento parlamentar, em materiais eleitorais.
Proposta do executivo
Uma das principais inovações da proposta de alteração do executivo é o uso do bilhete de identidade como único documento válido para o exercício de voto, com exceção dos cidadãos residentes no estrangeiro que terão de usar o passaporte.
Para o secretário para os assuntos eleitorais da UNITA, Faustino Mumbika, a proposta do Governo não é realista porque “a maioria dos eleitores tem votado com base no cartão de eleitor”, diz.
“Em segundo lugar a maioria dos cidadãos, segundo dados apresentados pelo próprio executivo, não possui bilhete de identidade. Em terceiro lugar, o governo está com uma incapacidade de atribuir bilhete de identidade ao cidadão angolano”, acrescenta.
“Combater abstensão”
O ministro do Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República, Adão Almeida, diz que o documento visa, essencialmente, aumentar a participação eleitoral e combater a abstenção eleitoral.
“As propostas apresentadas visam aumentar a participação dos eleitores e melhorar abordar o fenómeno da abstenção eleitoral — questão que tem merecido a preocupação da generalidade das democracias — e simplificar o processo de votação e melhor organizar os nossos processos eleitorais fortalecendo a nossa democracia”, explicou.
Outras polémicas
Mas as polémicas propostas do executivo não param por aí, já que o governo quer eliminar as atas sínteses das assembleias de voto e introduzir mesas móveis.
Adão de Almeida diz que a medida vai evitar a dispersão e a marginalização de eleitores. “… a dispersão de eleitores e a exiguidade de eleitores em certas localidades torna inviável a colocação de mesas de voto fixas em determinados zonas”, disse.
Mas, para a UNITA, com esta iniciativa. o governo revela apenas uma intenção: “centralizar o sistema de contagem de voto, eliminando as estruturas intermédias de controlo”, diz Mumbika.
“A centralização excessiva que o modelo de governação do país não pode ser transferido para governar os processos eleitorais.”
Apesar das desconfianças e discordâncias, Luís Jimbo, presidente do Instituto Angolano de Sistema Eleitorais e Democracia, defende uma discussão ampla à volta do tema, com envolvimento dos partidos políticos e organizações da sociedade civil que trabalham na área.
“Vamos esperar que haja um consenso político. Mas que haja, também, o envolvimento da sociedade e, principalmente, dos partidos políticos fora do parlamento”, disse.
É dizer, “as organizações da sociedade civil que trabalham nessas matérias, porque têm recomendações muito boas para melhorar a integridade e a transparência do processo eleitoral”, argumentou.
Questionado se faria sentido um pacto de regime entre os partidos políticos sobre a aprovação das alterações ao pacote legislativo em discussão na Assembleia Nacional, Faustino Mumbika disse que “o problema não se põe na necessidade de um pacto de regime”.
“O problema é a necessidade de observarmos regras que são universalmente aceites e que fazem sentido para todos nós”, concluiu.
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