É preciso um pacto sobre legislação eleitoral? – DW – 04/05/2025

O governo angolano, apoiado pela maioria parlamentar do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), propõe, entre outros aspetos, a eliminação das atas-síntese nas assembleias de votos e a introdução das mesas móveis.

A oposição, liderada pela União Nacional Para a Independência Total de Angola (UNITA), discorda dessas medidas e defende a reintegração dos centros de escrutínios provinciais.

Perante o impasse político, surgem vozes que defendem a necessidade de um “pacto de regime” entre as principais forças políticas com assento parlamentar, em materiais eleitorais.

Proposta do executivo

Uma das principais inovações da proposta de alteração do executivo é o uso do bilhete de identidade como único documento válido para o exercício de voto, com exceção dos cidadãos residentes no estrangeiro que terão de usar o passaporte.

Para o secretário para os assuntos eleitorais da UNITA, Faustino Mumbika, a proposta do Governo não é realista porque “a maioria dos eleitores tem votado com base no cartão de eleitor”, diz.

“Em segundo lugar a maioria dos cidadãos, segundo dados apresentados pelo próprio executivo, não possui bilhete de identidade. Em terceiro lugar, o governo está com uma incapacidade de atribuir bilhete de identidade ao cidadão angolano”, acrescenta.

Uma vista de uma cédula de votação durante as eleições gerais na escola Nzinga Mbandi, na capital Luanda, Angola, em 24 de agosto de 2022 (foto de arquivo)
Uma vista de uma cédula de votação durante as eleições gerais na escola Nzinga Mbandi, na capital Luanda, Angola, em 24 de agosto de 2022 (foto de arquivo)Foto: Siphiwe Sibeko/REUTERS

“Combater abstensão”

O ministro do Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República, Adão Almeida, diz que o documento visa, essencialmente, aumentar a participação eleitoral e combater a abstenção eleitoral.

“As propostas apresentadas visam aumentar a participação dos eleitores e melhorar abordar o fenómeno da abstenção eleitoral — questão que tem merecido a preocupação da generalidade das democracias — e simplificar o processo de votação e melhor organizar os nossos processos eleitorais fortalecendo a nossa democracia”, explicou.

Outras polémicas

Mas as polémicas propostas do executivo não param por aí, já que o governo quer eliminar as atas sínteses das assembleias de voto e introduzir mesas móveis.

Adão de Almeida diz que a medida vai evitar a dispersão e a marginalização de eleitores. “… a dispersão de eleitores e a exiguidade de eleitores em certas localidades torna inviável a colocação de mesas de voto fixas em determinados zonas”, disse.

Mas, para a UNITA, com esta iniciativa. o governo revela apenas uma intenção: “centralizar o sistema de contagem de voto, eliminando as estruturas intermédias de controlo”, diz Mumbika.

“A centralização excessiva que o modelo de governação do país não pode ser transferido para governar os processos eleitorais.”

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Apesar das desconfianças e discordâncias, Luís Jimbo, presidente do Instituto Angolano de Sistema Eleitorais e Democracia, defende uma discussão ampla à volta do tema, com envolvimento dos partidos políticos e organizações da sociedade civil que trabalham na área.

“Vamos esperar que haja um consenso político. Mas que haja, também, o envolvimento da sociedade e, principalmente, dos partidos políticos fora do parlamento”, disse.

É dizer, “as organizações da sociedade civil que trabalham nessas matérias, porque têm recomendações muito boas para melhorar a  integridade e a transparência do processo eleitoral”, argumentou.

Questionado se faria sentido um pacto de regime entre os partidos políticos sobre a aprovação das alterações ao pacote legislativo em discussão na Assembleia Nacional, Faustino Mumbika disse que “o problema não se põe na necessidade de um pacto de regime”.

“O problema é a necessidade de observarmos regras que são universalmente aceites e que fazem sentido para todos nós”, concluiu.

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