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Com o caixa reforçado por um aporte de R$ 1 bilhão (166,6 milhões de euros), realizado pelo investidor João Kleper, o Grupo Hi está dando os primeiros passos para a internacionalização de sua rede de lavanderias self-service, a 60 Minutos, que começará por Portugal e Estados Unidos. O plano de negócios prevê, inicialmente, a abertura de 15 pontos próprios de atendimento em cada país no segundo semestre deste ano e, a partir daí, a meta é atrair parceiros locais para a expansão da operação, que já é a maior da América Latina no segmento.
“Nesta etapa inicial, os investimentos serão realizados por nós, com recursos próprios. Mas, em seguida, vamos em busca de investidores que conheçam a cultura local e a legislação, de forma a viabilizarem o negócio. Acho isso muito importante”, diz Isaelson Oliveira, fundador e CEO do Grupo Hi, que, há três anos, vive em Viana do Castelo, onde se instalou para tratar de um burnout. Não por acaso, o Norte de Portugal foi escolhido para receber as primeiras lojas da 60 Minutos. “Vamos começar pelo Porto”, acrescenta.
Pelo que foi traçado até agora, cada parceiro que aderir ao negócio investirá em 15 lojas num sistema de franquias, cada uma avaliada em 35 mil euros (R$ 210 mil), visando à multiplicação pelos dois países. Esse modelo será replicado numa etapa seguinte pela Europa, onde a 60 Minutos quer escancarar as portas. “Em Portugal, já criamos a nossa empresa e estamos com um contêiner a caminho do país com as máquinas para as primeiras lojas”, detalha Oliveira. Os investimentos para a largada em território luso serão de 1 milhão de euros (R$ 6 milhões).
Segundo João Kleper, CEO do Equity Fund Group e presidente do Conselho de Administração do Grupo Hi, a entrada no negócio de lavanderias como investidor foi estratégica. “Trata-se de uma operação com rentabilidade alta, com payback (tempo de retorno do que foi desembolsado) de um ano. Quando vi essa performance, não tive dúvidas”, ressalta. Ele acrescenta que “o fato de a 60 Minutos ter tecnologia própria e de exigir pouca mão de obra — uma pessoa por loja, que trabalha 30 minutos por dia — cria um diferencial no mercado”.
O investidor destaca que, quando analisou a estrutura do Grupo Hi para aportar os recursos, viu que faltava pouco em termos de governança corporativa para um crescimento mais sólido do negócio, inclusive, por meio da internacionalização. “Foram contratados executivos e soltamos as amarras do grupo”, frisa. Ele assinala que, como o Equity Fund tem base nos Estados Unidos, caberá a ele tocar os negócios da 60 Minutos por lá. E, como já está instalado em Portugal, Oliveira coordenará as operações europeias.
Aquisições no Brasil
Os planos de internacionalização da rede de lavanderias em nada impedem a consolidação dos negócios no Brasil. Oliveira prevê que o país será responsável por 90% da geração de receitas do grupo nos próximos anos e as operações no exterior, por 10%. “Hoje, temos 500 pontos de atendimento no Brasil funcionando e 300 em implantação. O nosso objetivo é fechar o ano com 1.400 lojas”, destaca. Também estão previstas aquisições de ao menos duas empresas concorrentes para reforçar estrutura. “Estamos analisando as oportunidades nesse sentido”, enfatiza.
No ano passado, a 60 minutos faturou R$ 53 milhões (8,8 milhões de euros). Para 2025, são esperadas receitas de R$ 75 milhões (12,5 milhões). A previsão é de que, até 2027, o grupo, avaliado atualmente em R$ 500 milhões (83,3 milhões de euros), dobre de valor, para R$ 1 bilhão. Nesse mesmo ano, se as condições do mercado de capitais ajudarem, será possível, segundo o fundador do Hi, fazer o lançamento de ações (IPO) na Bolsa de Valores. “Esse é o caminho que estamos traçando”, frisa.
Kleper diz que há, hoje, uma busca crescente pelo auto-serviço, pois, além de economizar tempo, as pessoas gastam menos insumos dentro de casa e reduzem o consumo de energia e água. Oliveira endossa esse discurso com base em um estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) mostrando que as pessoas preferem realizar os serviços por conta própria do que correrem o risco de serem mal atendidas.
“Além da economia, tem, ainda, a questão da sustentabilidade. Uma máquina de lavar doméstica tem vida útil de três a cinco anos, atendendo de duas a quatro pessoas por vez. Numa lavanderia, as máquinas duram de 10 a 15 anos, lavando roupas de milhares de consumidores. A máquina doméstica consome 150 litros de água por lavagem, contra 48 litros da profissional”, detalha o criador da 60 Minutos.
O Grupo Hi, fundado em 2015 por Oliveira e Hairon Silva em João Pessoa, na Paraíba, construiu todo um ecossistema em torno da rede de lavanderias para garantir o próprio suprimento e a operacionalização do negócio. Um dos braços faz a distribuição das máquinas de lavar — é o sétimo do mundo em comercialização da marca LG —, outro cuida das franquias e um terceiro fabrica os produtos biodegradáveis de limpeza, estrutura completada por uma plataforma de pagamento e uma área de tecnologia, com inteligência artificial.
Homens são maioria
A escolha de Portugal para adentrar a Europa, afirma Oliveira, tem a ver com o grande fluxo de brasileiros que cruzou o Atlântico a partir de 2017. Pelos números de 2023 consolidados pelo Itamaraty, há 513 mil cidadãos oriundos do Brasil legalizados em terras lusas. Outros 200 mil estão em processo de legalização e estima-se que 200 mil tenham dupla cidadania — os números mais atuais serão divulgados em breve, conforme já declarou o ministro da Presidência do Conselho de Ministros, António Leitão Amaro. “Vemos muitas oportunidades em Portugal e, claro, há os laços históricos do Brasil com o país e a facilidade da língua”, sublinha.
O executivo conta que, nas conversas que vem mantendo em Portugal com os brasileiros, percebe que vários conhecem a 60 Minutos e já utilizaram os serviços da empresa enquanto estavam no Brasil. Ele garante, porém, que ainda não há um desenho claro do perfil do público que deverá ser atendido em território luso, mas a tendência é de que seja semelhante ao que impera do outro lado do Atlântico.
“De início, acreditamos que a maioria da clientela seria de mulheres, mas 58% dos frequentadores das nossas lojas são homens”, detalha. Ele lembra, também, que foram os utilizadores das máquinas de lavar que deram a ideia de se implantar o sistema de franquias, por meio do qual a rede cresceu no Brasil e deve se expandir na terra de Cabral.
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