Dois dias com o “Messias” no seu esconderijo em Moçambique – Observador

Tirou uma cama de um quarto do hotel para o transformar num gabinete onde passa a maior parte do tempo — e de onde apenas sai para uma sala maior quando tem reuniões. Por exemplo, foi aí que recebeu o embaixador português António Costa Moura, mais três diplomatas, este domingo à tarde, durante a reunião em que foi estabelecido o telefonema para o ministro Paulo Rangel, que provocou entretanto uma enorme polémica pública, com Venâncio Mondlane a fazer um direto nas redes sociais a acusar o governante português de não ter feito nada para ajudar a resolver esta crise e de estar a enganar os portugueses e o mundo — tendo Rangel respondido ao Observador que mantinha tudo o que tinha dito.

Uma das polémicas entre Mondlane e Rangel tem precisamente a ver com o facto de o ministro dos Negócios Estrangeiros ter referido à TSF que tem mantido contactos discretos com o Vaticano sobre Moçambique. O candidato tem linha direta para o cardeal D. Matteo Zuppi, que tentou fazer a ponte entre Venâncio Mondlane e o ainda presidente, Filipe Nyusi. Ligou-lhe e o cardeal assegurou-lhe que não tinha havido diligências do governo português junto do Vaticano.

O candidato discutiu com o cardeal que dirige a Conferência Episcopal Italiana quais seriam as suas condições para o diálogo: anulação dos processos criminais movidos contra ele, levantamento dos mandados de captura, descongelamento das suas contas bancárias, anulação das eleições e criação de um governo transitório de consenso para implementar reformas até haver condições para eleições livres.

Observador: Houve desenvolvimentos das negociações intermediadas pelo cardeal que representa o Papa numa tentativa de solução deste processo de crise pós-eleitoral?
Venâncio Mondlane: Até este momento, nada, porque a Frelimo, pura e simplesmente, não quer ceder. O Presidente da República dizia que estava de saída e já não tinha poder.

E houve alguma diligência do Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa?
Eu acho que o Presidente está cauteloso. No início, não tanto. Há quem o critique porque diz que ele muda facilmente de posição, mas acho que a vida é assim, em função da informação disponível. A informação que o Presidente tem hoje leva-o às cautelas que está a tomar agora, porque certamente está a acompanhar o que está a acontecer em Moçambique.

Tem falado com ele?
Ainda hoje lhe mandei uma mensagem, não sei se vai responder ou não. Dizia-lhe que estava disponível para trocar uma palavrinha com ele, logo que ele tivesse disponibilidade. Mandei uma mensagem para ele pelo WhatsApp, mandei uma mensagem para o Luís Montenegro, e espero que me respondam [48 horas depois não tinha havido resposta]. Não posso ter a ilusão de que tomem partido da minha causa. Mas vou disponibilizar informação atualizada do que está a acontecer em Moçambique para que eles possam posicionar-se em função disso. Sob o ponto de vista diplomático, ético, moral, não é aconselhável que um ser humano católico tenha uma espécie de cumplicidade com este tipo de situações humanamente inaceitáveis que estão a acontecer em Moçambique. O mínimo que podiam fazer era não vir a esta tomada de posse. Ninguém. Nem o embaixador.

Acompanha a política portuguesa?
Um bocadinho.

Em que partido acha que votaria em Portugal?
Iniciativa Liberal.

Nas sondagens para as presidenciais, surge em primeiro lugar o almirante Gouveia e Melo. Conhece-o?
Tenho ouvido muito falar do militar. Não posso dizer que tenha alguma antipatia por ele, pelo contrário. Não sinto nenhum repúdio. Não digo que votaria nele, mas… Até agora não decidimos sobre isso.


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