documentos vazados chocam o mundo e revelam operação secreta da Abin contra o país vizinho por disputa bilionária de energia

Agentes da Abin invadiram computadores do governo paraguaio em uma operação secreta para obter dados ultra confidenciais. O plano chocante, envolveu viagens ao exterior, senhas roubadas e suspeitas de espionagem internacional. O objetivo? Conseguir vantagem estratégica durante as negociações bilaterais sobre tarifas da energia gerada pela usina de Itaipu.

A operação clandestina da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) trouxe à tona uma grave crise diplomática em potencial entre o Brasil e o Paraguai. Informações reveladas por agentes da própria Abin à Polícia Federal indicam que a agência utilizou ferramentas cibernéticas avançadas para acessar ilegalmente dados sensíveis de autoridades paraguaias. A crise pode estremecer as relações entre Brasil e o país vizinho.

Operação da Abin contra o Paraguai: ataque hacker visava obter vantagem bilionária nas negociações sobre Itaipu

Segundo o depoimento de dois servidores da Abin, acessado pelo portal UOL, a ação hacker foi iniciada ainda no governo de Jair Bolsonaro e se estendeu até maio de 2024, já sob o comando do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O plano envolvia a infiltração em sistemas de órgãos oficiais do Paraguai para coletar informações sobre os valores discutidos no anexo C do tratado de Itaipu, referente à venda de energia elétrica gerada pela usina binacional.

De acordo com os agentes, o software utilizado foi o Cobalt Strike, uma ferramenta comumente empregada para simulações de ataques, mas que pode ser adaptada para acessos não autorizados. A Abin teria desenvolvido, a partir dessa plataforma, um artefato específico de intrusão digital voltado para alvos estratégicos no país vizinho.

Um dos servidores que depôs — concursado e com mais de duas décadas de experiência — detalhou que as vítimas da operação incluíam senadores, deputados e até integrantes da Presidência do Paraguai. Ainda que nenhum nome tenha sido explicitado, sabe-se que ao menos “cinco ou seis pessoas” tiveram suas credenciais e senhas comprometidas.

Servidores virtuais foram montados no exterior para driblar rastreamento

As ações da Abin, segundo o relato, não ocorreram a partir do território brasileiro. A operação teria contado com viagens estratégicas de agentes da inteligência a países como Panamá e Chile. Nesses locais, foram criados servidores virtuais para mascarar a origem dos ataques e dificultar sua rastreabilidade. Essa estrutura permitiu a execução remota do plano, sem conexão direta com a rede nacional de inteligência.

Um dos relatórios mais importantes da operação foi entregue pessoalmente ao atual diretor da Abin, Luiz Fernando Corrêa. O agente responsável pela entrega teria dito que Corrêa “vibrou” ao tomar conhecimento do êxito da missão, descrevendo o feito como um momento em que “realmente se sentiu num trabalho de inteligência”.

Alvo: as negociações sobre a tarifa de Itaipu no Paraguai

A motivação por trás da ofensiva hacker era obter informações sigilosas sobre as negociações entre Brasil e Paraguai a respeito da usina de Itaipu, compartilhada entre os dois países desde a década de 1970. Cada nação detém 50% da energia gerada, mas o Paraguai, com menor demanda energética, revende parte de sua cota ao Brasil.

Em maio de 2024, após intensas conversas, ambos os governos chegaram a um novo acordo sobre as tarifas que entrarão em vigor a partir de 2027, variando entre US$ 10 e US$ 12 por megawatt (cerca de R$ 57 a R$ 69). Essa foi a primeira renegociação desde 1973, quando o tratado original foi assinado.

A reunião decisiva ocorreu em Assunção e contou com a presença do presidente paraguaio Santiago Peña. Do lado brasileiro, o representante foi o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. O sucesso da negociação, aparentemente tranquila, pode ter sido influenciado pelas informações obtidas pela Abin por meios ilícitos, embora não haja confirmação oficial sobre isso.

Reações internas revelam disputa de poder no governo Lula

Apesar da continuidade da operação ocorrer já sob o governo Lula, o Palácio do Planalto afirma não ter autorizado nem endossado qualquer ação da Abin contra o país vizinho. Em nota oficial divulgada no dia 31 de março de 2025, o governo brasileiro negou categoricamente qualquer envolvimento com a ofensiva cibernética.

Segundo o comunicado, a operação teria sido aprovada ainda em junho de 2022, na gestão anterior, e descontinuada no dia 27 de março de 2023, assim que a atual administração teve ciência dos fatos. O texto também informa que, à época, o atual diretor da Abin ainda não havia assumido o cargo de forma definitiva, já que seu nome aguardava aprovação pelo Senado. Ele só tomou posse oficialmente em 29 de maio de 2023.

A nota destaca o compromisso do Brasil com o diálogo e a transparência nas relações diplomáticas, especialmente com o Paraguai, parceiro estratégico no Mercosul.

Abin foi alvo da Polícia Federal durante outra investigação

Curiosamente, a descoberta da operação hacker não foi o foco original da investigação da Polícia Federal. O inquérito inicial tinha como objetivo apurar possíveis abusos cometidos por Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin durante o governo Bolsonaro, acusado de utilizar a estrutura da agência para fins pessoais e políticos.

No decorrer das apurações, os investigadores identificaram movimentações suspeitas também na gestão de Luiz Fernando Corrêa, escolhido por Lula para comandar a Abin após sua reestruturação — que incluiu a retirada do órgão da alçada do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e sua vinculação direta à Casa Civil.

Segundo depoimentos, tanto Corrêa quanto seu antecessor, Victor Carneiro, sabiam da existência da operação contra o Paraguai. Ambos teriam concordado com sua execução e com a manutenção da ação mesmo durante a transição de governo.

No Paraguai, reação foi de preocupação e surpresa

As revelações causaram impacto imediato no Paraguai. Antes mesmo da manifestação oficial do Itamaraty, o ministro da Indústria e Comércio do país classificou o caso como “extremamente grave” e disse à emissora local ABC Color que a situação estava sendo tratada com máxima atenção pelo governo.

O chanceler paraguaio também comentou o episódio. Ele afirmou que o Paraguai já foi alvo de ataques cibernéticos atribuídos a grupos ligados à China e que, por isso, reforçou sua cooperação em segurança digital com os Estados Unidos e Taiwan. Entretanto, o ministro ressaltou que, até o momento, não há evidências concretas de que o ataque mais recente tenha partido do Brasil.

A ausência de uma resposta direta durante as negociações de Itaipu pode indicar que o presidente Santiago Peña desconhecia a ação da Abin. A tranquilidade com que o acordo foi firmado em maio de 2024 sugere que o governo paraguaio ainda não possuía elementos que comprovassem a invasão hacker.

Caso expõe limites éticos e disputa entre instituições

Além de escancarar uma potencial violação da soberania de um país vizinho, o episódio também revelou tensões internas no alto escalão do governo brasileiro. Fontes ligadas à segurança institucional afirmam que a escolha de Corrêa para o comando da Abin desagradou o atual diretor da Polícia Federal, Andrei Rodrigues. Ele teria defendido outro nome para a chefia da agência de inteligência, alguém de sua confiança direta.

Desde então, ações da PF contra integrantes da Abin têm sido interpretadas por analistas políticos como reflexo dessa disputa de poder nos bastidores. A operação contra o Paraguai, portanto, acabou se tornando um elemento-chave para entender as divisões entre diferentes núcleos do governo Lula e os limites das ações de espionagem realizadas sob o manto da segurança nacional.


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