De manicure à Copa do Mundo: jogadora do Atlético-PI realiza sonho africano aos 39 anos | Esportes | Carro das Notícias
Cris começou fazendo unhas, pausou a carreira ainda na adolescência e voltou a jogar equilibrando chuteiras com alicate. Aos 39 anos, chegou ao Mundial com a Guiné Equatorial e segue inspirando no Atlético-PI.
Nem todo passe vem de uma chuteira, e nem toda jogadora começa sua história nos gramados. Cris, meio-campista do Atlético-PI, já teve suas armas em um salão de beleza, afiando alicates e pintando unhas antes de brilhar com a bola nos pés. A trajetória da carioca é daquelas que emocionam até juiz de VAR. Dos salões aos estádios, das dificuldades da adolescência à glória de uma Copa do Mundo por Guiné Equatorial, ela carrega nos pés, e no coração, uma história de garra, suor e lustrador de unha.
Pontos Principais:
- Cris começou como manicure e conciliou a profissão com o futebol para se sustentar.
- Aos 39 anos, defende o Atlético-PI na Série A3 do Brasileiro e na Copa do Brasil.
- Disputou a Copa do Mundo de 2011 pela seleção da Guiné Equatorial.
- Conquistou a Copa Africana de Nações em 2012 e segue como inspiração no futebol feminino.
Se tem jogadora que merece cartão amarelo por emoção, essa é a Cris. A meio-campista do Atlético-PI não só dribla adversárias, mas também o destino — e com a elegância de quem já foi manicure e hoje distribui passes com a mesma precisão que esmaltava francesinhas. A trajetória dela parece roteiro de novela das sete: começa no Rio de Janeiro, passa por clubes tradicionais como Palmeiras, Santos e São Paulo, tem reviravolta internacional com a seleção da Guiné Equatorial e ainda rende títulos. Aos 39 anos, com o uniforme suado e o coração vibrando como torcida em clássico, ela é uma enciclopédia viva do futebol feminino — e sem errar uma vírgula na gramática da bola.
A história começou cedo, como quase toda boa saga do futebol. Aos 12 anos, Cris já batia bola, mas a vida deu um carrinho por trás quando ela perdeu a avó e largou o esporte aos 14. Pausa dramática digna de replay. Só que aos 15, ela voltou com vontade, equilibrando o ofício de manicure com os treinos. Enquanto algumas jogadoras sonhavam com chuteiras novas, ela parcelava o alicate. Quem vê o domínio de bola hoje mal imagina que, por muito tempo, ela teve que dominar era a arte do gel e da acetona para colocar comida na mesa. E não tem VAR que anule esse esforço.
O curioso é que a guinada internacional não veio por olheiro europeu, nem por empresário famoso. Foi uma amiga que a chamou pra jogar pela seleção da Guiné Equatorial. Isso mesmo. Amizade que vale uma convocação — quem nunca sonhou com uma dessa? Em 2011, lá estava Cris jogando uma Copa do Mundo, com direito a confronto contra o Brasil, seu país de origem. Dava pra ouvir o hino nacional e o coração dela batendo junto, em ritmo de samba e batuque africano. Um daqueles momentos que fazem até gandula se emocionar.
Se fosse só isso, já seria épico. Mas Cris ainda venceu a Copa Africana de Nações em 2012, eternizando seu nome em dois continentes e provando que, com determinação, até o GPS da carreira pode recalcular rotas incríveis. E o melhor: ela fez tudo isso sem precisar mudar de personalidade ou fazer marketing de rede social. Apenas com suor, talento e o carisma de quem sabe rir até nos piores jogos da vida. É como dizem na várzea: quem tem bola no pé e humildade no coração, joga em qualquer campo — seja no Engenhão, seja em Malabo.
Hoje, no Atlético-PI, Cris continua rendendo mais que muitos atacantes na Série A. Participa da Série A3 do Brasileiro e da Copa do Brasil como quem tá brincando de ser lenda. No vestiário, é referência; em campo, é farol. Para as jogadoras mais jovens, é quase um Google de chuteiras: sabem que com ela dá pra aprender desde posicionamento até qual esmalte combina com a chuteira preta. Acredite, essa versatilidade não se acha nem em aplicativo de treinador.
Se a bola tem memória, como dizem os poetas da arquibancada, então Cris já está na história. Não pelas estatísticas, que também são boas, mas por representar tudo que o futebol feminino é: luta, paixão, improviso, talento e, claro, aquela dose de teimosia que faz a gente continuar mesmo quando ninguém acredita. É ela quem transforma o campo num palco e o jogo num espetáculo. Jogadora assim não se acha fácil, e muito menos se repete — igual receita de bolo da avó.
E não importa se o jogo é no Albertão ou numa Copa do Mundo. Cris joga com o mesmo brilho nos olhos, como quem sabe que cada minuto ali é conquista, é resposta, é história sendo escrita com chuteiras e lembranças. Aos 39 anos, ela não joga só com o físico, mas com a alma de quem já ganhou no apito final da vida. E como boa veterana, ainda sorri no fim do treino, como quem diz: “fiz mais um gol, e nem precisei de escova progressiva pra isso”.
Fonte: Globo Esporte.
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