Crise entre Brasil e Paraguai se agrava após escândalo envolvendo a ABIN e ameaça colocar em risco venda milionária de Super Tucanos da Embraer à Força Aérea Paraguaia – RSM

A crise diplomática envolvendo o Brasil e o Paraguai ganhou novos contornos após denúncias de suposta espionagem cibernética atribuída à Agência Brasileira de Inteligência (ABIN). O presidente paraguaio, Santiago Peña, avalia cancelar a compra de seis aeronaves Super Tucano EMB-314 da Embraer, negócio firmado no início de 2025. A ameaça foi comunicada a interlocutores do governo brasileiro e representa uma possível retaliação ao que o Paraguai considera uma violação de sua soberania, em meio à investigação sobre ataques hacker a órgãos do governo local.

Aeronave EMB-314 Super Tucano nas cores da Fuerza Aerea Paraguaya (FAP) Arte EMBRAER

As tensões começaram com a suspeita de que a ABIN teria promovido uma invasão a sistemas governamentais paraguaios com o objetivo de obter informações sigilosas sobre a hidrelétrica de Itaipu. A alegação foi suficiente para que o presidente Peña determinasse a abertura de um inquérito oficial para apurar os fatos. Paralelamente, o governo paraguaio suspendeu imediatamente as negociações bilaterais com o Brasil sobre a renovação do Anexo C do Tratado de Itaipu, uma das principais pautas diplomáticas em curso entre os dois países.

O contrato com a Embraer, avaliado em aproximadamente R$ 600 milhões, foi anunciado durante o Farnborough International Airshow em julho de 2024 e confirmado no início de 2025. A venda das aeronaves A-29 Super Tucano tinha como objetivo modernizar a frota da Fuerza Aérea Paraguaya (FAP), substituindo os antigos EMB-312 Tucano. A operação contou com financiamento integral do BNDES e seria um marco na ampliação da presença da Embraer na área de defesa na América Latina.

Diante da possibilidade de cancelamento, a Embraer tem buscado apoio do governo brasileiro para tentar preservar o contrato. Representantes da fabricante mantêm contato constante com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e com o ministro da Defesa, José Mucio, para discutir estratégias diplomáticas capazes de conter os impactos da crise. Caso a negociação seja interrompida, além do prejuízo financeiro, a empresa poderá enfrentar um abalo em sua imagem institucional e na confiança internacional depositada em seus acordos.

Embora membros do Itamaraty avaliem que o governo paraguaio possa estar utilizando o episódio como instrumento de pressão nas tratativas sobre Itaipu, há receio de que a escalada diplomática evolua para sanções efetivas. A presença da ABIN no centro da crise torna o cenário ainda mais delicado, especialmente pela dificuldade de conduzir a apuração de responsabilidades em um tema sensível de inteligência e segurança nacional. A alegação paraguaia de que os dados visados seriam relacionados à hidrelétrica acentuam o caráter estratégico da controvérsia.

O A-29 Super Tucano, modelo envolvido no contrato, é uma aeronave leve de ataque e treinamento avançado que já foi adquirida por diversos países, como Chile, Colômbia, Equador, Uruguai, República Dominicana e Panamá. Ao todo, mais de 260 unidades foram encomendadas no mundo, com mais de 550 mil horas de voo registradas, sendo 60 mil em missões de combate. Seu desempenho em apoio aéreo, reconhecimento armado e patrulha de fronteiras é um dos principais atrativos para forças aéreas de países em desenvolvimento.

O Comandante da Força Aérea Paraguaia, General do Ar Júlio Rubén Fullaondo Céspedes, ressaltou à época do anúncio da compra a importância estratégica do A-29 para o país, destacando que a aeronave contribuiria para o combate ao tráfico de drogas e ao crime organizado transnacional. O Super Tucano foi descrito como uma plataforma ideal para modernizar os meios de vigilância e proteção do espaço aéreo paraguaio, em linha com a Lei de Vigilância e Proteção do Espaço Aéreo vigente no país.

A informação sobre a possível suspensão do contrato foi divulgada inicialmente pelo Relatório Reservado e repercutida por outros veículos especializados em defesa, como o defesanet. Segundo o portal, a Embraer não se manifestou oficialmente sobre o caso. Já o governo paraguaio segue sem divulgar publicamente detalhes da investigação em curso, limitando-se a afirmar que apura com rigor os indícios de espionagem.

O caso continua em aberto e deverá ter novos desdobramentos nos próximos dias, à medida que a apuração avança e os canais diplomáticos entre Brasil e Paraguai tentam contornar a crise. A permanência do contrato dos Super Tucanos e a retomada das negociações sobre Itaipu dependerão da condução política dos dois governos e da capacidade de resposta às tensões criadas pela suposta atuação da ABIN no território vizinho.


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