Nicolas Garrido
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A engenheira agrônoma Lucía Bauer Brit encontrou na crise trabalhista, no Uruguai, que se estabeleceu em meados de 2016, uma oportunidade para se reinventar e construir seu próprio caminho. Em 2018, ela se formou com o sonho de trabalhar como pesquisadora no setor agropecuário.
No entanto, a realidade a confrontou com a falta de oportunidades nesta área e um mercado pecuário majoritariamente voltado para funções comerciais. Por isso, ela começou a se questionar sobre como poderia fazer a diferença no setor que tanto a apaixonava.
A busca por um propósito em seu trabalho a levou a explorar práticas alternativas às de um engenheiro agrônomo. Lucía se interessou pela pecuária regenerativa, uma ciência que coloca o solo no centro da produção, tratando-o como um organismo vivo e não apenas como uma base física.
Lucía decidiu criar a GROU Agro, negócio para promover uma mudança de abordagem na pecuária, adotando práticas que fortalecem o solo e criam um sistema autossustentável. Para ela, a conexão entre o gado, a pastagem, o solo e os microrganismos é essencial para compreender o funcionamento de um ecossistema saudável.
Com a empresa, ela queria que o produtor enxergasse a fazenda sob uma nova perspectiva, afastando-se da visão tradicional de maximizar a produção de carne sem considerar os impactos de longo prazo.
Sustentável, inovador e rentável
A mudança de visão impulsionada pela GROU Agro exige abandonar algumas práticas estabelecidas no setor e desenvolver uma atitude crítica em relação ao conhecimento adquirido. “Na faculdade, ensinam métodos e receitas, mas não necessariamente ensinam a questionar. Hoje, questiono tudo e pergunto o tempo todo”, diz Lucía.
Para ela, embora não exista uma “verdade absoluta” sobre a melhor forma de produzir, é fundamental observar e compreender o contexto de cada propriedade, adaptando-se às condições locais, aos objetivos do produtor e aos recursos disponíveis.

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A pecuária regenerativa pode impactar a resiliência dos sistemas de produção
Na prática, a GROU Agro auxilia produtores a planejarem estrategicamente o pastejo, promovendo longos períodos de descanso para o solo – um ciclo semelhante ao que as grandes manadas de gado seguiam antes da intervenção humana.
A aplicação dessa metodologia impacta diretamente na rentabilidade das fazendas e na resiliência dos sistemas pecuários. “Crises climáticas, como as secas às quais estamos acostumados, são enfrentadas de outra forma. Embora afetem a produção, os sistemas regenerativos têm maior capacidade de armazenamento de água”, explica.
Ela complementa que as chuvas são mais eficazes devido à melhor estrutura do solo e, com um planejamento adequado do pastejo, é possível prever o estoque de forragem e tomar decisões mais precisas.
Se essa abordagem for aplicada sem o uso de insumos externos, Lucía estima que a capacidade de suporte do sistema pode aumentar em até 30%, ou seja, a quantidade de animais por hectare sustentada pela pastagem cresce significativamente. “Com o aumento da capacidade de suporte, a rentabilidade também cresce”.
Quanto à adoção dessas práticas no Uruguai, a engenheira agrônoma se mostra otimista e acredita que o país possui uma vantagem devido à biodiversidade de seus campos nativos, o que pode agregar valor à carne produzida nesses sistemas. Mas reconhece que ainda há um longo caminho a percorrer.
No Uruguai e no mundo
O interesse pela pecuária regenerativa não se limita ao Uruguai. Por meio das redes sociais e de um mestrado à distância sobre o tema na Universidade de Montana, nos Estados Unidos, Lucía conseguiu atrair a atenção de pessoas de outros países da região e até da Europa, que buscam modelos de produção alinhados a práticas sustentáveis.
A demanda por práticas regenerativas e a crescente preocupação com a pegada de carbono abrem um mercado promissor para a GROU Agro, embora alguns produtores ainda sejam resistentes à mudança. “Não gosto de sair convencendo ninguém, prefiro que os resultados falem por si. Neste setor, o boca a boca também é fundamental”, explica.
Para a empreendedora, o desafio está em fazer com que os produtores reconheçam seu próprio poder e a importância de seu papel na cadeia produtiva.
Com a sucessão de terras se acelerando e as propriedades passando para novas gerações, ela acredita que é o momento de adotar uma produção mais criativa e sustentável. Isso exige uma mudança de mentalidade, na qual a rentabilidade seja alcançada respeitando os ciclos naturais e otimizando os recursos disponíveis – algo que, segundo ela, permitirá que os produtores enfrentem com sucesso as exigências do futuro.
Com sua empresa, Lucía conquistou o Paspalum de Ouro, reconhecimento concedido a iniciativas que se destacam na pecuária sustentável e na gestão de pastagens naturais, na categoria Revelação, em novembro do ano passado, por seu empreendimento.
O prêmio uruguaio é concedido pela Mesa de Pecuária em Campo Natural (MGCN), que reúne o Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca, o Instituto Nacional de Pesquisa Agropecuária e a Faculdade de Agronomia.
Desde a fundação da GROU Agro, Lucía já esteve envolvida em cerca de 30 projetos, além de prestar consultorias e divulgar essa prática regenerativa. Sua expectativa é que esse nicho continue crescendo em 2025.
* Bernardo Lapasta é um jornalista e colaborador da Forbes Uruguai, onde escreve sobre negócios e mercado imobiliário.
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