Como os adolescentes podem escolher o 1º esporte e driblar a pressão dos pais? Especialistas respondem
Muitos adolescentes têm seu primeiro contato com os esportes nas aulas de educação física da escola — no final da infância, início da adolescência. Geralmente, por volta do 6º ano, algumas escolas já estimulam o aluno a escolher uma modalidade específica para trabalhar, e os próprios jovens, fora dos muros escolares, procuram clubes e escolas particulares daquele esporte.
Mas qual modalidade escolher? Futebol, vôlei, handebol, tênis, natação, são muitas opções, e nem sempre a prática escolhida é a mais adequada para aquele jovem, ou aquela que manifesta suas aptidões ou dê margem a uma paixão sustentada por longo prazo.
Especialistas afirmam que, para os pais, o primeiro grande pilar nessa escolha é escutar seus filhos, e não só suas palavras, mas observar seus gestos. Tem adolescente, por exemplo, que desde a infância mostra que não gosta de esportes em geral ou de uma modalidade determinada. Alguns são mais quietos e preferem um esporte individual, como atletismo ou tênis, outros têm um senso de liderança, gostam de estar em comunidade e cercados de pessoas: provavelmente serão mais realizados no futebol, vôlei, basquete.
— As crianças e adolescentes devem fazer um esporte, que é algo bom para desenvolver o nosso físico, o nosso emocional, ajuda a construir a identidade, relação com outras pessoas, estabelecer limites, regras, resiliência, frustração e prazer — afirma a psicóloga Renata Bento, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro.
Um segundo pilar levantado pelos especialistas é a experimentação. Justamente a infância e começo da adolescência é a época ideal para descobrir do que gostamos, o que traz mais conforto e mobiliza nossos talentos. E está tudo certo não ter uma paixão arrebatadora ou não ser acima da média — no futuro, ele pode não se profissionalizar no esporte e seguir na prática como um hobby.
A estudante Marina Mourão, 13 anos, por exemplo, experimentou vários esportes até os 11 anos. Ela fez judô, não gostou e pediu aos seus pais para sair. Depois veio a natação, que até suscitou seu interesse mas achou que não teria futuro. Em seguida vieram handebol, basquete, ginástica artística, futebol e até patinação. Mas foi no vôlei que ela se encontrou de verdade.
— Eu sempre gostei de esportes no geral, mas quando comecei o vôlei, eu quis parar tudo e focar nele. Ele me ganhou de um jeito muito bom — diz a adolescente, que, além de praticar o esporte na escola, joga também em um clube na Zona Sul de São Paulo — Estou sempre aberta a conhecer novos esportes. Estamos aprendendo nas aulas esportes com taco, adoro conhecer essas novas atividades.
Marina afirma que houve uma influência indireta dos próprios pais que sempre gostaram de esporte. Sua mãe, Maria Ludmila Mourão, 45 anos, até pensou em fazer faculdade de Educação Física na juventude, mas optou por seguir outro caminho. Hoje, ela pratica caminhada. Seu marido, pai de Marina, Rodrigo Mourão, 56 anos, também já jogou futebol e hoje, além de brincar de treinar a filha quando consegue e incentivá-la no vôlei, faz musculação e corrida também.
— Nunca fui muito de esporte em grupo, até joguei vôlei, mas não era muito boa. Não sou referência. Isso eu deixo para a Marina, mas sempre corri, faço caminhada, ando de bicicleta, esportes mais individuais, gosto bastante — afirma Maria Ludmila.
O médico ortopedista Ricardo Soares, do Hospital Ortopédico AACD, diz que a influência dos pais é primordial nessa fase da vida dos adolescentes, porém, é preciso ter cuidado para que essa escolha seja individual do filho, e não uma pressão paterna.
— Os pais devem estimular as atividades, mas sem cobrar ou pressionar por vitórias. Eles precisam escutar os filhos, estarem atentos a alguns detalhes, como: se ele está feliz, se o esporte o está desenvolvendo socialmente, se a autoestima dele melhorou, se a aptidão dele está maior, se ele se sente pertencente àquele grupo e se ele tem vontade de seguir naquele esporte — explicou Soares.
O médico também afirma que um diferencial para o adolescente é ter a participação dos pais nos treinos. Rodrigo Mourão, pai de Marina, afirma que com isso a filha não precisa se preocupar.
— Assistimos à superliga de vôlei juntos. Levamos eles aos campeonatos. Acordamos cedo, fazemos a torcida e ficamos até o final. É gratificante vê-la competir, gostar e estar engajada no esporte. O importante é praticar e estar feliz — diz Mourão.
O esporte é importante e necessário em qualquer fase da vida. Ele consegue afastar os jovens das telas, aumenta o prazer, estimula a parte física e emocional, favorece autoestima, o desejo de ser e dar o seu melhor, além de fortalecer o convívio social com outros jovens da mesma idade. Porém, para dar certo, essa escolha precisa ser um impulso real do adolescente e que o faça feliz.
Segundo os especialistas a escolha do esporte não pode representar um desejo reprimido da adolescência dos pais projetado nos seus filhos. Além de ser desestimulante para o jovem, pode ser perigoso emocionalmente, com possíveis traumas e afastamento do esporte de uma forma geral.
Crédito: Link de origem