Já passou cerca de uma semana desde que ocorreu um incêndio no convés da cave da plataforma de águas profundas “Benguela Belize Lobito Tomboco” (BBLT) da Cabinda Gulf Oil Company Limited (CABGOC), no Bloco 14, na zona marítima da província angolana de Cabinda.
O caso reacendeu o debate público sobre os riscos associados à exploração de petróleo e a necessidade imperativa de alinhamento com as boas práticas internacionais sobre a segurança das suas operações.
Houve negligência
À DW, o secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Petrolífera de Cabinda (STIPAC), André Capita, afirma que houve negligência por parte dos operadores da plataforma.
“E a negligência aqui pode, em primeiro lugar, advir dos operadores daquela plataforma, uma vez que os que foram atingidos são das empresas prestadoras de serviços. Ao solicitar esse serviço de terceiros para o corte da linha, deveriam assegurar que a linha não estava ativa”, considera o sindicalista.
No entanto, Gervásio Zau, antigo trabalhador do Campo Petrolífero, considera estranha a ocorrência de um incêndio daquela dimensão, uma vez que, segundo Gervásio, “[as operações] já estavam na fase final para se reiniciar a plataforma e houve protocolos que falharam.”
Cidadãos em Cabinda entendem que o recente acidente, cujos detalhes continuam sob investigação das autoridades angolanas, expõe possíveis falhas em áreas críticas da operação, sendo que a manutenção preditiva exige o uso de sensores para evitar falhas catastróficas, acidentes humanos e ambientais.
Indemnização às vítimas ou suas famílias
Para o analista Paulo Monteiro, “a ausência ou fragilidade desses mecanismos constitui uma vulnerabilidade estrutural. Basta ver o que acontece com derrames de crude. É aberrante”, condena.
Há um coro de exigência de indemnizações justas às famílias cujos parentes foram afetados pela explosão ocorrida a 20 de maio nas operações petrolíferas em Cabinda. O académico José Filipe é um dos que defende a responsabilização.
“Tem de haver uma investigação séria e queremos um pronunciamento dos políticos que mandam neste país”, exige Filipe.
A mesma preocupação é partilhada pelo analista Paulo Monteiro. Para ele, não se pode encarar o incidente de ânimo leve. “É gravíssimo. A investigação não deve ser feita pela CABGOC. Tem de haver uma entidade independente para investigar esta situação”, sugere o analista.
Bartolomeu Félix, perito em matéria ligada à segurança no trabalho, levanta questões sobre o cumprimento de procedimentos de segurança neste caso. “Será que os operadores da plataforma isolaram devidamente o troço da tubagem? No entanto, após o isolamento da tubagem, devia fazer-se a despressurização, que é a diminuição brusca da pressão interna.”
O especialista em segurança laboral suspeita que nem todos os procedimentos operativos foram cumpridos na íntegra: “os detetores são equipamentos que detetam a fuga de um certo gás, o que suponho que não foi usado.”
As últimas atualizações indicam que subiu para três o número de vítimas mortais, com o recente resgate do corpo do funcionário desaparecido desde o incêndio na plataforma BBLT.
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