Como empresas de tecnologia apoiam a ofensiva anti-imigração do governo Trump

Donald Trump voltou à Casa Branca com a promessa de retorno à era de ouro da “América”. Desde a campanha eleitoral, ele mirou nos imigrantes como o seu alvo prioritário. De fato, os anos Biden registraram uma entrada recorde de estrangeiros nos Estados Unidos. Segundo ele, essa era uma das causas para a decadência do país.

Havia dúvidas sobre a viabilidade de executar sua promessa de fazer “o maior programa de deportação de criminosos da história da América”. As avaliações desse tipo consideravam o tempo do devido processo legal e a garantia de ampla defesa. Esses empecilhos foram varridos pelo novo governo Trump, que não reconhece nem decisões judiciais.

Sem amarras e turbinadas por ferramentas de IA (inteligência artificial) e reconhecimento facial , as agências governamentais responsáveis pelas fronteiras, a segurança interna e o controle da imigração foram à caça, literalmente, dos “indesejáveis” da nova América.


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O ICE (Departamento de Imigração e Alfândega, na sigla em inglês) é a ponta de lança na ofensiva de deportações. O órgão tem um banco de dados, chamado ICM, que reúne informações pessoais com centenas de parâmetros: endereço, características físicas (cor da pele, do cabelo, do olho, tatuagens), histórico de localização, país de origem, status legal.

O ICM foi criado pela Palantir, uma empresa especializada em plataformas de análise de grandes volumes de dados. Em 2022, a companhia fechou um contrato de cinco anos com o órgão no valor de US$ 95,9 milhões. O ICE pagou mais algumas dezenas de milhões de dólares para a Palantir no início de abril para aperfeiçoar sua base de dados para permitir uma “análise completa de alvos de populações conhecidas”, segundo reportagem do site 404 Media.


Já a CBP (Alfândega e Proteção de Fronteiras, na sigla em inglês), outra agência americana envolvida nas deportações em massa, tem usado uma série de ferramentas de IA para identificar “pessoas de interesse” a partir da coleta de dados de redes sociais.

Uma delas pertence à Fivecast ONYX, empresa australiana de inteligência, e oferece a identificação de alvos em tempo real a partir de análises de redes sociais com o uso de IA. A outra é a Dataminr, que cruza dados disponíveis em redes sociais e sites em uma interface para auxiliar na identificação de situações de risco e apoiar as operações do órgão.


O reconhecimento facial também tem sido utilizado nas operações das agências americanas. Elas contam com os serviços da Clearview AI, empresa que ficou conhecida por ter alimentado sua base de dados com bilhões de imagens retiradas de redes sociais como Facebook, Instagram e LinkedIn — sem autorização dos usuários, é claro.

O ICE é um dos principais clientes da empresa. A divisão da agência responsável pela prisão e deportação de imigrantes sem documentos começou a usar a ferramenta clandestinamente em meados de 2019. No governo Biden, a relação entre a Clearview AI e o ICE se estreitou, com contratos no valor de US$ 4 milhões. Outras agências, como a CBP e o FBI, também mantêm contrato com a empresa.


Um dos fundadores da Palantir é Peter Thiel, o bilionário criador do PayPal e um dos principais artífices do neorreacionarismo e da aliança entre Trump e as big techs (Plataforma #55). Thiel também foi um dos primeiros investidores da Clearview AI.

Hoan Ton-That, fundador da última empresa, é um australiano descendente de vietnamitas que se tornou próximo dos neorreacionários do Vale do Silício. Em apresentações para investidores, um dos usos possíveis da ferramenta era exatamente a identificação de indivíduos envolvidos com “atividades políticas radicais”.

Como se vê, perseguir imigrantes se tornou não apenas política de Estado, mas um grande negócio.


Descrever as ferramentas e seus usos já é enumerar violações de direitos humanos. É como se todas as liberdades individuais, que os conservadores americanos sempre correram para saudar e ainda alegam defender, se tornassem pó.

Não fosse o bastante, multiplicam-se os casos de erros dessas ferramentas, atravessadas por vieses de raça e gênero. E não é só com imigrantes deportados para El Salvador. Em São Paulo, uma mulher grávida foi presa com uso do sistema de reconhecimento facial da prefeitura dentro de um posto de saúde e teve um parto prematuro.

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