O projeto MUDA lançou um estudo científico para fazer o retrato do assédio laboral nas artes em Portugal. O inquérito, financiado pela Direção-Geral das Artes(DGArtes), será realizado pelas investigadoras Ana Bártolo e Isabel Silva (Psicologia), Dália Costa (Sociologia) e Joana Neto (Direito do Trabalho).
O MUDA – Assédio nas Artes em Portugal surgiu em 2018 quando um grupo de mulheres das artes, incluindo diretoras, produtoras e atrizes, começou a reunir-se para falar sobre a igualdade de género neste universo profissional.
“Estes encontros tinham a intenção de refletir sobre questões de género e sobre igualdade. E, nestes encontros, que envolveram cerca de 20 pessoas, começaram a surgir também alguns relatos de situações de assédio laboral. Começámos a perceber a necessidade de saber mais sobre a questão do assédio, porque sentimos também que é um tema tabu e que é pouco falado”, explicam Catarina Vieira e Sara de Castro, responsáveis pelo projeto, em conversa com o DN.
Segundo as responsáveis do projeto, os primeiros resultados do inquérito serão divulgados em junho.
O estudo pretende informar e gerar consciência sobre o assédio. “Há aqui uma natureza informativa, porque a pessoa ao preencher o questionário vai ter de refletir”, sublinham as responsáveis.
O inquérito será feito dentro das artes performativas. “Parece-nos que era mais fácil conseguirmos aproximar-nos da realidade, porque o setor da cultura é algo muito diverso, e portanto essa foi uma das delimitações do objeto do inquérito”, menciona ao DN a investigadora Joana Neto.
No setor das artes a investigadora referiu ainda que o assédio está presente em relações de hierarquia com situações de humilhação e abuso sexual. “Existe uma intimidação com o ‘se não fizeres isto, não vais voltar a trabalhar no setor. Este tipo de situações são bastante traumáticas, sobretudo quando estamos a falar de trabalhadores ou de alunos muito jovens que não têm a perceção de quais é que são os limites”, acrescenta.
Depois de concretizado, este estudo vai estar disponível online e será feita uma conferência, em março de 2026, onde serão apresentados os resultados e as recomendações. “Não queremos que estudo fique fechado numa prateleira, mas que chegue realmente às pessoas, que possa ser usado como preventivo de situações de assédio e que as pessoas fiquem mais empoderadas”.
O projeto tem ainda um site com informações sobre como agir e denunciar. Ao DN, as responsáveis explicaram que as vítimas podem fazer queixa na Comissão para a Igualdade do Trabalho e do Emprego, a um sindicato e à DGArtes. “Uma das coisas que este projeto pretende é também criar um gabinete que possa dar apoio psicológico especializado, porque na verdade neste momento nenhum destes canais está preparado para dar apoio psicológico a quem sofre uma situação de assédio”, disseram.
A maior dificuldade deste projeto foi o financiamento. “Nós estamos há três anos a procurar financiamento. Conseguimos este da DGArtes. O projeto neste momento está subfinanciado, há uma série de atividades que ainda estão à procura de financiamento”, sublinham.
No âmbito deste projeto será também criado um manual de boas práticas, serão dadas ações de formação e realizado um ciclo de conversas públicas.
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